O impensável se tornou obrigatório

O júbilo  conservador que sepultou o mandato do prefeito Fernando Haddad nos protestos de junho  talvez tenha cometido o erro de colocar o uivo à frente do discernimento. 

A  exemplo do universo político brasileiro, o prefeito subestimou o alcance da insatisfação contida  em 20 centavos de um reajuste que resistiu em revogar. 

A grandeza revelada nas ruas, antes de afrontar talvez tenha adicionado o impulso que faltava à identidade de esquerda de sua gestão. 

A franqueza obriga a dizer claramente: 

Haddad precisa refundar o seu mandato. 

A boa notícia é que ele tem tempo para isso e, sobretudo, agora tem as circunstancias à favor de sua extração histórica. O recomeço involuntário inclui  um espaço de coerência política de que não dispunha antes. Entre o carro e o ônibus o prefeito não precisa mais ter reticências na escolha. Quanto  mais rápido modificar diretrizes estruturais, mais consistente será o seu renascimento. 

Todo acerto de Haddad em São Paulo dificultará a escalada do esbulho nacional, com o qual a restauração conservadora quer revestir de veludo os sinos da mudança repicados nas ruas. 

Os protestos demonstraram que SP tem uma déficit  estrutural de canais de 'escuta forte da cidade'. Ótimo. A democracia não exige licitação: pode ser expandida já. Outro imperativo é revolucionar o sentido prático da  palavra  'ônibus' aos olhos  da cidade. 

O ônibus  e o ponto de embarque foram incorporados ao relógio biológico de milhões  de paulistanos como ponteiros de uma carga de  desumanização cotidiana. A reversão desse triturador não pode depender do exclusivo interesse privado. 

Uma empresa espelho, de natureza pública, deveria ser criada com a finalidade de se tornar a frota modelo de uma cidade onde o impensável se tornou obrigatório. (LEIA MAIS AQUI)

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