Exercício tucano de tapar o sol com a peneira
Desde que ganhou as páginas dos jornais o escândalo do cartel que atuou em licitações da área de transporte no Estado de São Paulo, a estratégia dos tucanos — que comandam o governo paulista há 20 anos — tem sido negar seu envolvimento e atribuir caráter político às acusações. Mas os fatos têm desmoralizado rapidamente tais respostas, que só revelam o desespero que toma conta do PSDB.
Os tucanos querem que o Brasil acredite que eles não têm nada a ver com o cartel denunciado pela multinacional Siemens
, apesar de o denunciante ter muita credibilidade (a Siemens admitiu que ela própria fez parte do esquema) e afirmar que as fraudes nas licitações de trens e metrô em São Paulo começaram no governo de Mario Covas, prosseguido nas gestões de Geraldo Alckmin e José Serra.
, apesar de o denunciante ter muita credibilidade (a Siemens admitiu que ela própria fez parte do esquema) e afirmar que as fraudes nas licitações de trens e metrô em São Paulo começaram no governo de Mario Covas, prosseguido nas gestões de Geraldo Alckmin e José Serra.
A pior tentativa de tapar o sol com a peneira partiu do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele disse que “não apareceu o PSDB recebendo dinheiro” e que “pode ter havido corrupção, mas aí é pessoal”. Poucos dias depois, foi contraditado pela reportagem “Todos os homens do propinoduto tucano”, da revista “IstoÉ”.
A reportagem mostrou que há envolvimento direto, sim, de tucanos e de pessoas da confiança de Serra e Alckmin no esquema. Cinco autoridades que ocupavam cargos importantes na administração paulista atendiam, ao mesmo tempo, “os interesses das empresas do cartel na área de transporte sobre trilhos e às conveniências políticas de seus chefes”, revela a reportagem.
Esses cinco, que segundo a revista agiam sob o comando de José Luiz Portella (secretário de Serra) e Jurandir Fernandes (de Alckmin), “forneciam informações privilegiadas, direcionavam licitações ou faziam vista grossa para prejuízos milionários ao erário paulista em contratos superfaturados firmados pelo metrô”.
Somente no mundo de fantasia em que vivem algumas lideranças tucanas isso não evidencia uma relação direta do PSDB com o esquema. Outros tucanos adotaram discursos ainda mais equivocados. Em um lance risível, Alckmin anunciou que o governo de São Paulo entraria com uma ação na Justiça contra a Siemens, exigindo que a denunciante do esquema devolvesse o valor do prejuízo que o sobrepreço nas concorrências causou aos cofres públicos.
O tucano agiu de forma cínica, como se as autoridades que estiveram à frente do Estado durante todo o período de atuação do cartel —de 1998 a 2008— pudessem se comportar como meras vítimas passivas do esquema de corrupção.
O ex-governador José Serra tentou desviar o escândalo para outras paragens. “O principal cliente dela [Siemens] é o governo federal. O importante é que se investigue tudo, se puna os culpados eventuais e se devolva para o Estado —não só o de São Paulo, o brasileiro, todos— o fruto de malfeitos, se eles tiverem acontecido”, disse Serra.
No início do mês, o secretário-chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, Edson Aparecido, havia dito que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que investiga a formação de cartel, estava atuando como um “instrumento de polícia política” para prejudicar o PSDB.
O presidente do Cade, Vinicius Marques de Carvalho, deixou claro que a investigação não começou por iniciativa do órgão, subordinado ao Ministério da Justiça, e sim porque a Siemens resolveu apresentar a denúncia.
“Eu não posso aceitar esse tipo de acusação de politização quando uma empresa vem ao Cade e faz uma denúncia e pede para fazer um acordo de leniência. Não fomos nós, não foi o Cade, não foi a Superintendência ou Ministério da Justiça que procurou a empresa. A empresa que procurou o Cade”, disse Carvalho.
O único aspecto político que tem sido observado nesse episódio é a timidez com que ele foi ganhando espaço na mídia —uma lentidão que não costuma ocorrer quando a suspeita paira sobre alguém filiado a outro partido, especialmente ao PT.
Com raras exceções, os jornais impressos, as revistas e os telejornais só noticiaram as acusações quando não tinham outra alternativa: manter o muro de silêncio que sempre protegeu o PSDB seria um vexame grande demais. Mesmo assim, a chamada grande mídia fez de tudo para registrar o escândalo como um inédito caso de corrupção em que só se conhece o corruptor, mas não os corruptos.
As respostas apresentadas até agora pelos tucanos —negativas não convincentes e tentativas de desviar o foco da investigação— mostram que eles não têm o que responder. Bastou que uma revista rompesse o muro de silêncio que sempre favoreceu o PSDB para que os tucanos entrassem em desespero. Afinal, foram colocados em uma posição com a qual não estão acostumados e da qual não podem fugir: dar esclarecimento sobre seus atos.
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