As pessoas querem ser populares. as pessoas querem ser celebridades. sei lá por quê

Menos celebridade
Recentemente, decidi que não faço questão de ser conhecido por quem, de fato, não me conhece. E, sempre que me flagro em algum devaneio de grandiosidade, boto meus pés fincados na minha nova ambição. A de ser conhecido por quem de fato me conhece.
Muito embora, por escrever na internet, em certo grau seja inevitável (e, hoje em dia, todo o mundo escreve na internet) que pessoas que não me conhecem, me conheçam e, portanto, conheçam apenas a ideia que de mim fazem.
E não eu de fato. Não sei se estou sendo claro. estou?

Há três anos venho estudando teatro em uma escola muito boa aqui de curitiba, o pé no palco, com uma das grandes atrizes e diretoras do brasil, fátima ortiz. E, do teatro, veio essa ideia.
Uma peça teatral é algo efêmero. poucas pessoas a veem de uma vez. e mesmo que haja muitas apresentações, em uma longa temporada, poucas pessoas a verão se compararmos com as audiências da tevê, do cinema e outros meios.
no entanto, sua importância para aqueles que por um trabalho desses foram tocados, é inegável. alguém disse que o teatro é um espelho feito de carne. e é verdade.
Não sei se a ideia de trocar a quantidade pela qualidade exprime o que quero.
Talvez eu queira trocar sim a possibilidade de ter um trabalho, um algo conhecido por muitos, por um algo que, ainda que seja visto por poucos, seja imediatamente - ou talvez não tão imediatamente - reconhecido como bom. e que esse algo bom seja uma expressão do que sou.
Provavelmente isso é algo mais simples que o sentido banal de qualidade. porém a simplicidade é difícil de ser obtida, pois é constantemente sabotada por nossa vontade insana de sermos geniais.
Para ilustrar tudo o que quero dizer preciso, novamente, da ajuda de um poema de fernando pessoa, na voz do heterônimo Alberto Caeiro, de o guardador de rebanhos:
o tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
mas o tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
porque o tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
o tejo tem grandes navios
e navega nele ainda,
para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
a memória das naus.
o Tejo desce de espanha
e o tejo entra no mar em portugal.
toda a gente sabe isso.
mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
e para onde ele vai
e donde ele vem.
e por isso porque pertence a menos gente,
é mais livre e maior o rio da minha aldeia.
pelo tejo vai-se para o mundo.
para além do tejo há a américa
e a fortuna daqueles que a encontram.
ninguém nunca pensou no que há para além
do rio da minha aldeia.
o rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Eu mesmo conheço o tejo. e embora saiba de onde ele vem e para onde ele vai, mal sei a cor de sua água, a temperatura de seu leito e o som que ele faz. eu conheço o tejo mas nada sei do tejo.
Acho que eu quero ser apenas um rio da minha aldeia.
Não é ambição pouca.

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