Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello presidiu durante décadas o grupo Diários Associados. Este grupo foi o maior conglomerado de mídia da América Latina entre o final dos anos 30 e meados dos anos 60. A primeira emissora de televisão do Brasil foi criada por ele (TV Tupi), em 1950.
por Diogo Costa
Seu poder nas décadas de 40 e 50 foi superior ao poder que Roberto Marinho teve nas décadas de 70, 80 e 90. O Diários Associados era mais forte, na época, do que as Organizações Globo são hoje. Pois bem, o império midiático de Assis Chateaubriand ruiu. O bastão foi passado para Roberto Marinho.
Ocorre que a concorrência com as teles e com a internet está comendo o poder da Vênus Platinada pelas beiradas, já há um bom tempo. Some-se a isso o fato de que a Globo tem a menor influência política de sua história, no seio do governo federal, desde 2003.
O editorial global de ontem, fazendo um 'mea culpa' com relação ao apoio inconteste prestado ao golpe de 1964, pode sinalizar que os irmãos Marinho percebem os sinais dos novos tempos. Mas como na fábula do sapo e do escorpião, a Globo fará tudo que estiver a seu alcance para derrubar Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores em 2014.
Precisam urgentemente de um governo mais amigável e aberto aos seus interesses empresariais. Daí a importância crucial do pleito do ano que vem. A consolidação da quarta vitória consecutiva do Partido dos Trabalhadores representará uma dura derrota, estratégica, para a Rede Globo.
As placas tectônicas da política nacional estão a mover-se com intensa rapidez. O PSDB desmorona a olhos vistos. O Crash de 15 de setembro de 2008 (maior crise econômica desde o Crash de outubro de 1929) derrubou o muro neoliberal erguido por Margaret Thatcher e Ronald Reagan.
Antes, o colapso do socialismo real em fins dos anos 80 e o fim da União Soviética, em dezembro de 1991, trouxeram ao mundo um interregno de unipolaridade imperial norte-americana. O curto interregno comprovou que não há um 'fim da história', muito antes pelo contrário!
A China e a Índia vem com força total para retomar dentro em breve as posições de centralidade econômica mundial, posição que detiveram durante séculos. A Rússia readquiriu força no cenário internacional. A multipolaridade está estabelecida e o Brasil tenta se adaptar ao novo cenário consolidando-se como um protagonista na integração latino americana.
Todo este cenário apenas desvela o quanto o PSDB perdeu de protagonismo na vida política nacional. Vivem com a cabeça num mundo que já não existe mais, e se lamuriam cotidianamente por isso. Abdicaram de ser um partido para tornarem-se o apêndice dos interesses corporativos da mídia oligopólica do Brasil, foram blindados ao extremo pela mesma mídia e atualmente pagam o devido preço por isso.
Tempos interessantes no horizonte...
As Organizações Globo, ao que parece, pretendem estabelecer algum tipo de diálogo com o governo Dilma (Dilma sequer recebe os filhos do dr. Roberto).
Esse 'mea culpa' interessado e tardio seria um sinal para que a Comissão da Verdade avançasse em seus trabalhos? A conferir.
Mas o importante é que, ao contrário do que os velhos do restelo atuais propugnam, o PT está muito bem posicionado para 2014. A direita dá sinais de fadiga em sua relação fraternal com o PSDB e está a procura de novos representantes.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, parece movimentar-se para ocupar o espaço que hoje em dia ainda é do PSDB.
Do além, Assis Chateaubriand e Roberto Marinho observam os lances da política nacional. Chatô, bastante satisfeito, aprecia o declínio relativo das Organizações Globo, relembrando dos tempos do golpe de 64. Golpe este que selou o destino dos Diários Associados, e da própria Rede Globo.
Estará longe o tempo em que a maior lembrança das Organizações Globo será um funesto "Aqui Jaz"?
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