Ao longo de tanta vida vivida - com muita intensidade, diga-se de passagem - certo ou errado - procurei não desperdiçar essa experiência maravilhosa que é viver, um segundo que fosse. Quem entende o que significa vida, tem obrigação de saber que cada segundo conta e que cada segundo pode ser o mais importante ou o último. E assim, nos intervalos das emoções ou nas pausas para meditação ou inadiáveis reflexões entre o fim de um capítulo e o início de outro, procurei abrigo em páginas brancas ou nas telas luminosas eletrônicas para fazer confissões ou pedir ajuda.
Nesse lugares cúmplices, a fidelidade é compulsória. Ninguém mente para si mesmo, a não ser quando viaja nas asas da imaginação, nas fantasias, nos sonhos ou nas quimeras, onde tudo é possível, é permitido, tem licença e nem precisa pedir. Nesses lugares, o mais comum dos mortais pode ser um Deus e criar seus próprios mundos, obrar milagres, amar e ser amado ou dizer que foi.
O importante é viver, sem se deixar abater por muito tempo e nunca perder a esperança, muito embora ela tarde a quase chegar a ser muito tarde ou até mesmo tarde demais. Não vem ao caso. Muitas coisas, muitas passagens na vida da gente, por mais poder que se tivesse em mudar o passado, pensando bem, chegar-se-ia à conclusão de que era melhor deixar tudo exatamente como estava ou está. Vez por outra, fujo desse romantismo que ainda afeta a muitos e mergulho em temas que, como diz um companheiro de poucas emoções: "atenha-se às suas estrelas, porque essa coisa de política não é a tua praia...".
E quer saber? Ele tem razão. Mas, aqui e ali, não posso deixar de me envolver, como um cidadão das ruas mais simples e mesmo dos becos mais afastados da periferia, para demonstrar o meu descontentamento com a falta de vergonha na cara da maioria dos políticos que paraninfam um programa imoral que incentiva a preguiça: o "bolsa família" na sua versão mais imoral e danosa, aquela que mantém um necessitado preso pelo cabresto que os obriga a manter no comando as quadrilhas que quando querem demonstrar preocupação se locupletam com os "escondidinhos" por detrás de compras absurdas como vassouras e sabão para varrer e limpar meio mundo.
Como cidadão, posso gritar a minha revolta contra os absurdos que protegem bandidos de colarinho branco e enfiam a faca nas pequenas culpas de pais de crianças esquálidas e sem assistência, cujo futuro pende para os semáforos onde passam a desconhecer o significado da vida alheia. Mas, retomando...
Já percorri meio mundo, visitei muitos corações, fiz confissões em muitas línguas, já troquei beijos no meio de praças distantes e encontrei amigos do outro lado do mundo, onde o sol sempre nasceu mais cedo. Já pensei haver encontrado a minha alma gêmea, e logo a seguir a perdi e só fui me encontrar nas páginas, nas telas luminosas, onde desabafei, onde pude conter as lágrimas mais sinceras sem o testemunho de ninguém. Somente quando se está sozinho é que se pode chorar com sinceridade e isso eu fiz.
Aqui, no alto de uma montanha gelada, caminhando sem medo com um vento polar a me empurrar como se fosse um anjo estranho e não me deixar sair da vida e me apontar uma luz no meio do nada, onde sobrevivi quando não fazia mais a mínima diferença. Existe um momento na vida de cada um em que é quase impossível encontrar uma resposta verossímil para a pergunta que nos fazemos em silêncio: "e agora?" E agora estou aqui, não no mesmo lugar, não rendido, abatido, sofrendo, chorando, arrependido...
Arrependimentos têm hora para acabar. É como um remédio ruim que não se aguenta a tomar a vida inteira. Tem prazo de validade. Os meus acabaram. Descobri, a duras penas, que não sentia falta dos abraços, beijos e entregas que ficaram sem graça e sem gosto sem que eu me apercebesse, mas de uma rotina a qual me acostumei bebendo um chá sem mais gosto e que deixou de fazer efeito para o corpo, a alma, a paz e, principalmente para o coração. Cada momento desses, como romântico, boêmio, apaixonado, como cidadão revoltado, é um capítulo que valeu à pena ter vivido, inclusive, aqueles forjados com a imaginação...
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