Hoje na ONU a presidente Dilma Roussef será aplaudida por outros países que são espionados pelos terroristas dos EUA.
A nação mais poderosa do planeta espionou o Brasil, sua presidente e, de quebra, a maior empresa do país e uma das maiores do mundo, a Petrobrás. Foram interceptadas ligações telefônicas, mensagens de correio eletrônico e bancos de dados foram violados. Um inaceitável atentado contra nossa soberania, com claríssimos objetivos políticos e comerciais. Em verdade, nada mais que a reafirmação de práticas antigas, contumazes e condenáveis por parte dos Estados Unidos da América em relação a todos – rigorosamente todos – os demais países.
As relações bilaterais norte-americanas sempre foram impregnadas por um indisfarçável espírito colonialista, baseado num desejo insofreável de hegemonia política e de defesa cega de seus inconfessáveis (porém, notórios...) interesses comerciais. Desde a queda do primeiro-ministro iraniano Mossadegh, nos anos 50, numa ação conjunta e criminosa dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, ninguém em sã consciência pode separar o que se faz no plano político do que se maneja no campo econômico. Naquela oportunidade, derrubaram um governo sério e respeitado para entronizarem um novo governo, títere e submisso, que lhes entregou o petróleo do Irã em condições vergonhosa, na bacia da almas.
A cada nova intervenção militar, toda as vezes em que a maior potência econômica e bélica se arroga em polícia do mundo, há o claro interesse de subtrair alguma riqueza do país agredido e favorecer suas maiores empresas, como as do mercado armamentista, as petrolíferas, as grandes corporações econômicas e financeiras. Ninguém faz tanto pelo capitalismo dos EUA quanto a política externa intervencionista daquele poderoso país.
O episódio do monitoramento do Brasil através da NSA, a mega central de espionagem eletrônica, é revoltante, mas não surpreendente. Surpreendente é que nos dias de hoje, em pleno século XXI, ainda espionem governos, empresas e países e possam acreditar – se é que creem, mesmo – que não conhecerão da condenação do mundo civilizado e da reação corajosa das demais Nações agredidas.
Montou-se uma estrutura bilionária, integrada por milhares de espiões e auxiliada por outros milhares de técnicos, gozando de absoluta impunidade e de total cobertura tanto da Casa Branca quanto do ‘status quo’ reinante, com a finalidade de “proteger-se contra o terrorismo”. A realidade é bem outra, e a verdade atende por outro nome: espionagem, pura e simples. O terrorismo, no caso, é dos que nos agridem ao nos espionar.
Não se economizou dinheiro nem esforços na tarefa de desrespeitar a soberania de dezenas de países. Não se respeitou nada e ninguém. Colocou-se um fornido aparelho estatal, pouco conhecido e de poderes praticamente ilimitados, ao arrepio mesmo das leis vigentes no próprio país, para violar segredos, códigos e comunicações oficiais, num exercício criminoso de lesa-soberania alheia. E, chamada a explicar-se e esclarecer seu papel atrabiliário, a mais poderosa potência não reconhece a culpa e reafirma seu absoluto desapreço pelos demais países. As seguidas derrotas de sua história (Coréia, Vietnã, Baia dos Porcos, Afeganistão, etc, etc...) parecem não ter servido de pedagógica lição.
Quando de revelações importantíssimas e estarrecedoras do Wikileaks, por obra do valoroso militante das causa sociais Julian Assange, os brasileiros foram alertados das intensas atividades de espionagem que se desenvolviam no Brasil. Jornalistas, como Merval Pereira, e políticos, como José Serra, apareciam em conversações explícitas como meros informantes de diplomatas dos Estados Unidos que atuavam como bisbilhoteiros privilegiados de nossos assuntos de Estado. Serra, por exemplo, assumia um compromisso claro com a petroleira Chevron, conhecida por seu descompromisso com a questão ambiental e maneira pouco ortodoxa de comportar-se mundo afora. O então candidato tucano à presidência da República, logo depois derrotado fragorosamente por Dilma, prometeu à poderosa multinacional da energia que iria mudar as regras do Pré-Sal para favorecê-la tão logo fosse empossado na presidência. O povo brasileiro, em sua infinita sabedoria, negou-lhe a oportunidade de cometer tamanha traição ao país, e o vazamento dos Wikileaks desmoralizou definitivamente tanto impatriótico entreguismo (http://www.brasil247.com/pt/ 247/brasil/93008/) quanto os vaticínios furados dos que praticam um sub-jornalismo à serviço das idiossincrasias pessoais e infundados temores ideológicos dos patrões.
Desde a posse do presidente Lula, em 2003, o Brasil conta com uma política externa independente, resoluta em suas ações e absolutamente comprometida com o desenvolvimento nacional e o futuro dos brasileiros. Vai longe o tempo em que o Itamaraty – extraordinário exemplo de competência profissional e seriedade em todo o cenário diplomático internacional – foi conspurcado pela pequenez de um prático como Celso Lafer, que rasgou as melhores tradições da Casa do Barão do Rio Branco, em diversas e inesquecíveis ocasiões. Uma delas, testemunhada com assombro pela imprensa internacional, se inscreve como o mais baixo papel de um chefe da diplomacia brasileira: indo, sofrêgo, aos Estados Unidos para participar de reunião internacional convocada por sugestão do Brasil e em solidariedade aos EUA em mais uma de suas descabidas aventuras intervencionistas, Lafer (melíflua e alegremente) sujeitou-se à humilhante revista por policiais da aduana local, levantando os braços e (pasmem!!!) retirando os sapatos. Foi um dos momentos mais deploráveis de nossa história. Em outro exemplo do espírito bisonho daqueles tempos estranhos e melancólicos, o mesmo Celso Lafer, segundo o grande escritor Fernando Morais no livro biográfico de Paulo Coelho, transformou o Itamaraty num comitê eleitoral em favor do tucano Hélio Jaguaribe, em sua campanha por uma vaga na já desimportante Academia Brasileira de Letras.
Hoje, o sapato que os Estados Unidos descalçaram de que um homem desfibrado, sem espírito público ou respeito ao país que fingia servir como frágil chanceler, é apenas triste memória. Dilma Rousseff, com o peso do mandato que recebeu dos brasileiros e o qual vem honrando com sua postura impecável de Chefe de Estado, soube responder de forma firme e categórica ao ataque à nossa soberania ao recursar a invitação de Barack Obama para que visitasse o país agressor na qualidade de “convidada especial”.
O Brasil não é somente a sexta economia mundial, um país ascendente e com sua respeitabilidade resgatada ao longo dos dois mandatos do presidente Lula e reconfirmada pela postura firma e corajosa do governo Dilma. O Brasil é, antes de tudo, a grande Nação que se dá ao respeito e não se apequena diante das demais potências, como nos tempos de FHC, onde reinava um misto de descarado entreguismo com o deslumbramento do célebre “complexo de vira-lata”. A repercussão favorável em toda a mídia internacional e o apoio popular absoluto em todo o Brasil demonstram o acerto da posição sensata e altaneira da presidente Dilma e de nossa diplomacia, resgatada dos tempos infames daqueles homens que tiravam os sapatos e vendiam a pátria.
Delúbio Soares
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