Explique-me se puder, você que faz parte dessa gente bronzeada e saiu às ruas para protestar contra "tudo isso que está aí". Alguém consegue conceber a reforma de uma quitinete, que seja, sem causar incômodo?
Estou curiosa: como se pretende romper o muro (rodoanel?) da desigualdade que insiste em embrutecer nossa cidade sem passar por alguns percalços?
Tudo bem, a imagem é pretensiosa e talvez exija recursos mentais dos quais, por ora, não dispomos. A visão de uma São Paulo inclusiva, em que uma Paraisópolis possa conviver harmoniosamente com um Morumbi ainda não aterrissou em Congonhas ou desembarcou na rodoviária do Tietê.
Mas por que saímos às ruas então? Não foi por mudanças? Se existissem pesquisas de opinião na época da construção dos aquedutos romanos, será que a turma acusaria algum desconforto quanto às obras? "Aumentou o tráfego de bigas perto de casa, aquilo está um fedor de estrume que só vendo".
Não é preciso ir tão longe. Basta lembrar da revolta ocorrida quando Oswaldo Cruz iniciou o mutirão da vacinação.
Tudo isto para dizer que o paulistano é um desorientado que fala uma coisa e faz outra. Saiu às ruas pedindo melhores serviços, mas quer que isso aconteça num piscar de olhos, como se fosse possível dormir em Perdizes e acordar em Bel Air, só porque quis assim.
O Minhocão é o monumento maior ao modelo "recauchutagem rápida", dá-lhe um tapa e não se fala mais nisso, de uma cidade sem planejamento de longo prazo e sem modelo do que quis ser quando crescesse, que não ousou passar por mudanças algo dolorosas para endireitar e deu nisto.
Está na hora de amadurecer. Andei pensando e estudando o nosso prefeito. E cheguei a algumas conclusões. Para começar, alguém que consegue desagradar Lula, Paulo Skaf, Serra, Kassab e Geraldo Alckmin ao mesmo tempo deveria receber, o quanto antes, a medalha da Ordem do Rio Branco.
Ué? O sapo barbudo não disse que seria melhor se Haddad tivesse perdido? Pronto. Sinal que deve ser o cara certo para a missão. E, olha só: o sujeito foi adjunto do Sayad (ponto) inventou os CEUs (frequento e sei da importância -mais um ponto), inventou também o Prouni a custo zero para o governo (golaço) e está indo lá enfrentar sozinho o STF. Quem o chama de burraldo e ingênuo só pode estar mal informado, né não?
Lembro do Brasil inteiro xingando o Parreira de burro na Copa de 1994. Da classificação até a final. Pois é. Fernando Haddad criou uma controladoria que começou detonando -veja só- a máfia da construção e do mercado imobiliário. E carro, numa visão de administrador que trabalha pensando nos próximos 50 anos, é para ficar na garagem e servir só para fim de semana. Então cada um que segure sua onda por enquanto. Sem o sacrifício voluntário de cada britânico, os aliados não teriam vencido a 2ª Guerra, sabia não?
São Paulo sofre as consequências de décadas de soluções levianas e pilhagem. E ainda tem de arcar com uma população de bebês chorões, comodistas e hipócritas. Pois eu folgo em saber que alguém tem coragem de peitar as máfias que dominam Gotham City, a despeito da chiadeira, das pesquisas de opinião e de estarmos em véspera de eleição. Admiro quem toma riscos e demonstra resiliência. Manda a brasa, coxinha!
Barbara Gancia, mito vivo do jornalismo tapuia e torcedora do Santos FC, detesta se envolver em polêmica. E já chegou na idade de ter de recusar alimentos contendo gordura animal. É colunista do caderno "Cotidiano" e da revista "sãopaulo".
O que Barbara chama de máfia de São Paulo é nada mais nada menos do que o POVO de São Paulo
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