Penso que estes dois capítulos das Memórias póstumas de Brás Cubas ajudam a entender o modo como Joaquim Barbosa trata os presos da AP 470. Ver racismo em qualquer crítica que faça referência à cor da pele do ministro equivale a pensar que Machado era um racista que critica o negro Prudêncio por não saber seu lugar e por se comportar como branco. Ao contrário, o mulato Joaquim Maria mostra como é brutal o preconceito e a violência que fazem com que o oprimido, quando consegue (dentro de certos limites) se libertar da opressão, continua dócil e submisso ao opressor e passa a oprimir quem está abaixo dele.
Reproduzo os capítulos na íntegra porque as passagens que não dizem respeito diretamente ao escravo Prudêncio revelam a mentalidade de uma elite escravocrata cujo modo de pensar e agir afeta toda a sociedade.
Capítulo XI
O menino é pai do homem
Cresci; e nisso é que a família não interveio; cresci naturalmente, como crescem as magnólias e os gatos. Talvez os gatos são menos matreiros, e, com certeza, as magnólias são menos inquietas do que eu era na minha infância. Um poeta dizia que o menino é pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.
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