Luis Nassif - é hora de Dilma olhar para o novo

Em seu artigo na Carta Capital desta semana, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos alerta para o vácuo de crítica consistente ao governo.
Ao criar o que ele denomina de “centro estendido”, o PT jogou a oposição para perto da extrema direita.  Restou a ela "a encenada indignação moral e acenos genéricos de eficiência".
Por seu lado, com esse centro-baleia o governo Dilma Rousseff conseguiu se fortalecer parlamentarmente, mas à custa do enfraquecimento da relação com a  sociedade em mudança. Nas hostes do governo, “qualquer opinião divergente, autônoma, em relação à cadeia de comando dos líderes do centro-baleia é atacada como reacionária”.
O que move a democracia é a lógica das inclusões sucessivas, que ocorrem à medida em que grupos minoritários vão se organizando e ganhando voz através dos votos – e, mais que isso, à medida em que as elites nacionais se civilizam.
O princípio da igualdade tornou-se cláusula pétrea na consciência jurídica nacional. Mas não consiste apenas em assegurar patamar mínimo de dignidade a todos os cidadãos, mas dar-lhes a oportunidade de se integrarem à sociedade em todos os seus níveis.
É esse alargamento do conceito que vem movendo as grandes transformações sociais da humanidade.
Nas políticas raciais, criminalizou-se a proibição de locais públicos impedirem a entrada de  pessoas por cor. Na saúde, inspirou os movimentos de desospitalização de pessoas com problemas mentais. Na educação, significou conferir  às pessoas com deficiência o direito de estudarem na rede básica com colegas sem deficiência. Na vida em comum, significou reconhecer o direito de casamento gay.
Há uma consciência modernizadora atuando em todas essas áreas. É essa vanguarda que representa o novo. O velho é defendido pela rede dos sanatórios garantida pela política de internação compulsória de viciados, pelas escolas especiais (tipo APAE) e por outras formas de apartheid.
É por aí que se entende a repercussão da operação Cracolândia, trabalho meticuloso da Prefeitura de São Paulo montado durante 6 meses, envolvendo diversas secretarias de governo, visando atender a apenas 300 pessoas.
Do ponto de vista quantitativo não se compara a programas massificadores, como o Bolsa Família, Brasil Sem Miséria, Luz Para Todos etc.
Do ponto de vista simbólico, foi uma explosão, que conferiu uma legitimidade inédita ao prefeito Fernando Haddad.
Nos últimos anos, esses movimentos modernizantes foram deixados à deriva por uma oposição sem nenhuma sensibilidade social e por um governo que abdica do moderno por alianças políticas menores. A operação Cracolandia foi um respiro nesse oceano de anacronismo. 
Uma das maiores vitórias modernizadoras – a política de inclusão de crianças com deficiência na rede básica, responsável pelo atendimento de 800 mil crianças– está prestes a sofrer um golpe tremendo, devido aos interesses eleitorais paroquiais da Ministra-Chefe da Casa Civil Gleisi Hoffmann e da Secretaria de Direitos Humanos Maria do Rosário.
Seria bom que, de vez em quando, Dilma Rousseff olhasse para baixo, para as transformações que estão ocorrendo em uma sociedade em movimento, e incluísse a consolidação do novo como peça política central.

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