por Fernando Brito no Tijolaço
Eu fico impressionado, algumas vezes, com a generosidade de quem acha que uma campanha eleitoral para a presidência, no Brasil, pode ser tratada com completa serenidade, com a discussão de propostas e projetos e com a apresentação honesta de rumos para a administração do país.
Não pode, infelizmente, embora a gente deva tentar todo o tempo.
Porque existe um processo perverso no Brasil que transforma discordância em ódio, oposição em golpismo e comunicação em propaganda.
E um fator que explica e torna isso inevitável: a nossa mídia, onde mais que não haver pluralismo existe uma espécie de ditadura de um partido único, cada vez menos ético e mais agressivo.
Fossem apenas figuras como Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Diego Mainardi e quejandos, nada de mais. Em todos os países existe uma direita hidrófoba, vide a Fox nos Estados Unidos.
Mas não é isso: os jornais e as televisões se tornaram de uma pobreza tamanha que repetem, como uma só voz, as mesmas baboseiras, promovem as mesmas figuras esdrúxulas, repetem as mesmas “verdades” enunciadas por imbecis.
Basta uma rápida olhada no noticiário.
Não há absolutamente nada de positivo ou meramente razoável se passando no país.
Achamos um mar de petróleo, e nossa petroleira vai falir.
Contornamos o pior momento da seca no sistema hidrelétrico do Sudeste (que hoje acumula 35,9% de sua capacidade, 1,3%% a mais que no início do mês, e tivemos uma queda superior a 10% na demanda de energia) e os jornais estão lotados de análises sobre um agravamento da crise no setor energético.
Em tudo é assim.
O desemprego nunca foi tão baixo, mas vai subir.
A inadimplência caiu, mas vai subir.
A inflação vai estourar, o governo não vai poupar.
Os automóveis vendem, os aviões enchem, os imóveis não baixam de preço.
Mas o país vive um crise profunda e uma estagnação total.
Não há mais jornalismo, mas uma “torcida” despudorada por um desastre econômico.
E por um desastre civilizatório.
Um presidente do STF transborda-se em autoritarismo e é saudado como o “salvador da ética”.
Um apresentadora de televisão defende linchamentos e é acolhida como símbolo da liberdade de expressão.
Um deputado de conhecidos interesses por negócios à sombra é usado como exemplo de que o Governo “desvaloriza” o parlamento, apenas porque não lhe cede á chantagem.
A mediocridade da mídia espalhou-se por uma parcela da classe média e ela própria trata de amplificar os rosnados caninos de grupelhos fascistoides – de direita assumida ou de pretensa esquerda – que advogam os meios mais violentos e autoritários de intervenção política: desde os quebra-quebras até o golpe militar.
Sob o beneplácito de uma elite que despreza seu país, uma sub-elite transforma-se numa feroz matilha a rasgar o tecido social ligeiramente mais justo que se vem tecendo.
Volta a imperar, pelo foco seletivo da mídia, a ideia de que “O Brasil é mesmo uma m…” e que, aqui, nada tem futuro.
Se baixarmos a guarda para isso, em nome de uma cândida tolerância, aí mesmo não o teremos: teremos passado.
Não baixar a guarda não se confunde com agressividade, mas muito menos ainda com a covardia.
Porque ser covarde é transigir com o direito do povo brasileiro a uma Nação e um futuro.
Tudo o mais é aceitável, menos isso.