Campanha presidencial é disputa de símbolos e imagens

O entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do intérprete que possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os símbolos serão para ele mortos, e ele um morto para eles.

1.1. A primeira é a SIMPATIA. Tem o intérprete que sentir simpatia pelo símbolo que se propõe interpretar. A atitude cauta, a irônica, a deslocada –todas elas privam o intérprete da primeira condição para poder interpretar.
                
1.2. A segunda é a INTUIÇÃO. A simpatia pode auxiliá-la, se ela já existe, porém não criá-la. Por intuição se entende aquela espécie de entendimento com que se sente o que está além do símbolo, sem que se veja.
               
1.3. A terceira é a INTELIGÊNCIA. A inteligência analisa, decompõe, reconstrói noutro nível o símbolo. Tem, porém que fazê-lo depois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia no exame dos símbolos. É o de relacionar no alto o que está de acordo com a relação que está embaixo. Não poderá fazer isso se a simpatia não tiver lembrado essa relação, se a intuição não tiver estabelecido. Então a inteligência, de discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e o símbolo poderá ser interpretado.
                
1.4. A quarta é a COMPREENSÃO, entendendo por essa palavra o conhecimento de outras matérias que permitam que o símbolo seja iluminado por várias luzes, relacionando com vários outros símbolos, pois que no fundo, é tudo o mesmo. Não direi erudição, como poderia ter dito, pois a erudição é uma soma. Nem direi cultura, pois a cultura é uma síntese. E a compreensão é

uma vida. Assim certos símbolos não podem ser bem entendidos se não houver antes, ou no mesmo tempo, o entendimento de símbolos diferentes.
                
1.5. A quinta dimensão é menos definível. Direi, talvez, falando a uns, que é graça. Falando a outros que é a mão do Superior Incógnito. Falando a terceiros que é o Conhecimento e a Conversação do Santo Anjo da Guarda. Entendendo cada uma dessas coisas, que são a mesma, da maneira como as entendem aqueles que delas usam, falando ou escrevendo.

2. Viver não é necessário, o que é necessário é criar / Bellum sine bello: Guerra sem Armas / Todo começo é involuntário – Que farei eu com esta espada? Ergueste-a, e fez-se / O homem e a hora são um só / Claro em pensar, e claro no sentir, e claro no querer; indiferente ao que há em conseguir / Louco sim; louco porque quis grandeza / Ergue a luz da tua espada para a estrada se ver/ O sonho é ver as formas invisíveis, da distância imprecisa, e, com sensíveis movimentos de esperança e da vontade; buscar na linha do horizonte os beijos merecidos da Verdade / O esforço é grande e o homem é pequeno; o porto sempre por achar / Aqui no leme sou mais do que eu; sou um Povo que quer o mar que é teu! / Com duas mãos: o Ato e o Destino / Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor / Ah, quanto mais o povo a alma falta, mais a minha alma atlântica se exalta. Não sei a hora, mas sei que há a hora / Mas a chama que a vida em nós criou, se ainda há vida ainda não é finda. Dá o sopro –ou desgraça ou ânsia- com que a chama do esforço se remoça / Ser descontente é ser homem / Senhor, os dois irmãos do nosso Nome –o Poder e o Renome- ambos se foram pelo mar da idade à tua eternidade. É a busca de quem somos, na distância, de nós, e em febre de ânsia, a Deus a mão alçamos / Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro.

"Mensagem" do poeta Fernando Pessoa - Editora Martin Claret (1998)

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