Inúteis
As eleições para o Parlamento Europeu que acontecem neste fim de semana são um plebiscito disfarçado sobre o futuro da Comunidade Europeia. Entre os candidatos pedindo votos há um forte e barulhento grupo — talvez uma maioria — que é contra a comunidade e, portanto, quer ser eleito para uma instituição que pretende destruir.
As razões para sabotar a União Europeia vão desde o nacionalismo emocional até a reação da Europa do Norte ao atraso que representam as economias letárgicas da Europa do Sul e à ameaça de admissão de mais países problemáticos à comunidade, favorecendo a invasão de mão de obra barata do Leste. E passando pelo ressentimento de muitos com o domínio da Alemanha de Merkel sobre todos. A receita de frau Merkel para a saúde geral da comunidade é apfelstrudel,apfelstrudel e não tem conversa.
Assim, boicotada por dentro, a Comunidade Europeia caminha para ser outra Nações Unidas, um monumento à inutilidade de uma boa ideia. As Nações Unidas também nasceram como um projeto de congraçamento, para substituir as guerras pelo debate e o embate irracional pela razão.
É só lembrar todos os conflitos que acometeram o mundo desde que as Nações Unidas existem, sem que a organização pudesse evitá-los ou condicionar a política de grandes potências, para desesperar a Humanidade.
A ONU faz um trabalho valioso nas áreas da saúde e da alimentação internacionais e continua lá, no seu imponente prédio à beira do East River, mas, no seu propósito principal, fracassou. A Comunidade Europeia também tem um vistoso Parlamento, em Bruxelas, simbolizando sua própria frustração.
É difícil imaginar um retrocesso radical e imediato do seu projeto de união — embora até a permanência do euro, a moeda única de uma nação fictícia longe de ser única, esteja sendo posta em dúvida — mas o resultado das eleições deste fim de semana pode muito bem sinalizar o prelúdio de um suicídio.
A televisão francesa não para de mostrar razões para ninguém ir ao Brasil, na Copa ou em qualquer outro momento. Ao mesmo tempo as agências de viagens não param de vender pacotes para franceses irem à Copa. E a música do Brasil está em alta como nunca em Paris, até em lugares inesperados.
Três cantoras francesas e uma guitarrista fizeram um show há dias no Teatro Bouffes du Nord só de compositores brasileiros, de Villa-Lobos a Hermeto Pascoal e incluindo “Tico-tico no fubá”. Uma cantora francesa chamada Malu le Prince está resgatando a obra injustamente esquecida do Johnny Alf. E um show da Stacey Kent com um quarteto de cordas no Teatro Chatelet não só tinha uma maioria de canções do Tom Jobim e outros brasileiros como acabou em batucada. Você acreditaria na Stacey Kent tocando agogô?
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