Economia - Thomas Piketty virou o jogo

O 1% dos mais ricos abocanhou 60% do aumento da renda Estadunidense

As ideias do economista dominam o mundo

Ele Pegou o pensamento econômico que prevaleceu depois de Keynes e jogou ao mar.

Ele é francês, tem 43 anos, professor da Escola de Economia de Paris e escreveu “Capital no Século XXI”, lançado nos Estados Unidos pela Belknap-Harvard e, aqui, segundo autor por ela editado, sairá pela Intrínseca.

Segundo Paul Krugman, “este será o mais importante livro de Economia do ano e, talvez, da década”.

Piketty organizou dados sobre vinte países – nenhum sobre o Brasil – desde o século XVIII – para discutir a concentração da renda.

E prova que o sistema capitalista em curso levará a uma concentração de renda que poderá gerar a instabilidade social.

O exemplo supremo dessa mega-concentração de renda é os Estados Unidos.

Sempre que o retorno sobre o capital é maior do que o ritmo do crescimento econômico, os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres.

É o que ele resume na formula “r>g” – em que “r” é a media anual de retorno sobre o capital, e “g” é o ritmo de crescimento da economia. (Pág. 25)

“Quando isso acontece, é quase inevitável que a riqueza herdada vai superar por larga margem a riqueza acumulada numa vida de trabalho, e a concentração do capital vai atingir níveis extremamente altos – níveis potencialmente incompatíveis com os valores da meritocracia e os princípios de justiça social fundamentais para as sociedades democráticas modernas.”(Pág. 26)

Ele desconsidera os economistas-matemáticos – especialmente americanos – e, depois de citar Balzac, Jane Austen e Tolstoy, define o livro como “um trabalho de História tanto quanto de Economia”.

Piketty demole a tese central do pensamento econômico americano sobre distribuição de renda.



É a “curva do sino”, a “bell curve” do economista americano Simon Kuznets, que, ao analisar os “anos gloriosos” da II Guerra Mundial – e não representativos do longo prazo – , estabeleceu o principio que Ronald Reagan adorava citar: “o crescimento é uma onda que levanta todos os barcos”. (Pág. 11)

E, no começo do crescimento econômico, a desigualdade sobe, como o lado de um sino; depois se estabiliza num nível alto de concentração; e, progressivamente, a curva da desigualdade cai – porque todos o barcos passam a subir com a onda de prosperidade.

Nada disso, diz Pikketty.

“Desde 1980, porém, a desigualdade de renda explodiu nos Estados Unidos. A participação do decil mais alto aumentou de 30-35% da renda nacional nos anos 70, para 45-50 nos anos 2000. (Pág. 294) … O grosso do crescimento da desigualdade veio do “1%”, cuja participação na renda nacional passou de 9% nos anos 70, para 20% em 2000-2010 … Por definição, isso significa que desde 1980 esses grupos sociais (os 5% e o 1% de renda mais alta – PHA) conseguiram um aumento de renda substancialmente mais alto do que o crescimento médio da economia americana, o que não é desprezível.” ( Pag. 296)

“De 1977 a 2007, os dez por cento mais ricos da sociedade americana se apropriaram de ¾ do crescimento (da economia).  E O UM POR CENTO MAIS RICO, SOZINHO, ABSORVEU CERCA DE 60% DO AUMENTO TOTAL DA RENDA NACIONAL AMERICANA NO PERIODO. (Ênfase minha – PHA) – Pág. 297.

Por isso, ele propõe, além de medidas nacionais de intervenção estatal – especialmente em Educação – um “imposto global e progressivo sobre o capital”. (Pág. 515)

Blasfêmia !, bradou o Financial Times, que, com a Economist, se tornou o cão de guarda da concentração de renda nos Estados Unidos e na Inglaterra.

(A Inglaterra, como se sabe, não passa de uma agencia bancária de Wall Street.)

A Fel-lha (*) de SP e o estado comatoso, o Estadão, reproduzem neste sábado as críticas do FT.

Que o Piketty já respondeu.

Se há imprecisão sobre os dados mais recentes da concentração nos Estados Unidos, é porque, provavelmente, não refletem uma concentração ainda maior.

Sempre é possível melhorar os dados, diz ele.

No livro, Piketty lembra que boa parte da renda dos americanos está escondida nos paraísos fiscais”, que abrigam algumas fortunas brasileiras também – clique aqui para ler sobre a Globo Overseas.

Se a renda dos herdeiros nos paraísos fiscais for incorporada ao 1% mais rico da sociedade americana, aí, então, é que vai haver uma “explosão social”, daquela que o Paulo Coelho profetiza.

As ideias de Piketty já governam o mundo, na verdade.

A ideia de que só a intervenção estatal é capaz de conter a tendência selvagem e inexorável do capitalismo neoliberal já é política de Estado nos BRICs: Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, que, como se sabe, governarão o mundo, breve.

Os pais de Piketty eram trotskistas, de militância operária, que ajudaram a agitar a França em 1968.

Desiludidos, se recolheram ao campo e foram produzir queijo.

Piketty cresceu numa cultura de esquerda.

Estudou na ENS – École Normale Supérieure, etapa indispensável para se beneficiar do sistema da meritocracia francesa.

E lá aprendeu a ler.

Balzac, por exemplo, era um dos prediletos de Marx, que morreu sem conseguir realizar o sonho de escrever um ensaio sobre o escritor que, segundo ele, melhor entendia o capitalismo.

Piketty trata do “Père Goriot” ( Pág. 238) para explicar como a renda herdada é elemento importante no processo de concentração de renda – e, portanto, desmonta os ideólogos da meritocracia da sociedade americana,” a terra das oportunidades”, do “yes, we can”.

Piketty enfrenta outro tema que deixará o Financial Times e o Economist inquietos, porque bate no estômago de sua clientela – são os salários dos super-managers do capitalismo americano.

Executivos que controlam as empresas e se conferem salários e bônus que não tem nada a ver com a eficiência das empresas que dirigem.

Sao os leitores do Economist, do FT e do PiG (**) nativo.

Esses salários de “executivos-celebridades” – como diz Piketty – são uma das explicações para o crescimento da concentração da renda nos Estados Unidos.

E enquanto boa parte da “esquerda” americana gastou tempo, capacidade de organização e dinheiro com o casamento gay e o aborto, a concentração, hoje, é igual – ou pior ! – do que em 1924, quando foi necessário os Estados Unidos criarem o Imposto sobre a Renda…

Piketty tem militância no Partido Socialista da França.

O livro critica Ricardo e Marx, pais fundadores do pensamento econômico.

Mas, já no título, ele dá crédito a uma inevitável influência intelectual.

Solto, o capitalismo não se destruirá, como previa Marx, Piketty lembra.

Mas, solto, o capitalismo produzirá uma concentração de renda que vai destruir a Democracia.

Em tempo: no Brasil, como se sabe, a concentração é ainda inaceitável. Mas, como tem demonstrado o Marcelo Neri, melhora consistentemente. E é por isso que os herdeiros do PiG (**) – não tem um único dono do PiG que tenha subido na vida por esforço próprio – estão aflitos com mais quatro anos de Dilma e oito do Lula.


Paulo Henrique Amorim

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