O PT fez o que a mídia imediatamente chamou de “vídeo do medo”, associando-o ao comercial de Regina Duarte, em 2002, contra Lula. “PT aposta no medo na propaganda do partido” mancheteou o GloboOn de ontem.E depois: “O marqueteiro João Santana produziu um vídeo plagiando o polêmico e criticado discurso do medo, usado pelo PSDB na campanha de 2002″.
Faz sentido. Não tem como não associar um ao outro.
Ao invés do tradicional clima alegre, festivo, que costuma povoar as propagandas partidárias, vem um vídeo mais tenso. Mas há uma diferença abismal entre a propaganda do PT deste ano e a do Serra de 2002.
Em primeiro lugar, Regina Duarte, como atriz global de prestígio, dirigia-se pretensamente a “todo o povo brasileiro”, mas era mais especificamente à classe média que partia de corpo e alma para abraçar Lula – sem medo de ser feliz.
O vídeo petista deste ano dirige-se bem claramente – com muita precisão, aliás – à Nova Classe C. E faz bem em fazer isso. Quero mais uma vez lembrar o que escrevi aqui, em abril de 2011 (“Povão” ou “Classe Média”: em defesa de Fernando Henrique), analisando um texto do ex-presidente tucano:FHC ainda demonstra mais um momento de lucidez ao aconselhar o partido “a priorizar as novas classes médias, gente mais jovem e ainda não ligada a partido nenhum e suscetível de ouvir a mensagem da socialdemocracia”. Ele está apostando nas parcelas da nova classe média que vão procurar se adequar a novos valores, esquecer que um dia já foram “povão”.
Foi exatamente esse pensamento que motivou a nova propaganda do PT, certamente a partir de muitas pesquisas. Parte do “povão” que virou “nova classe média” provavelmente deslocou-se para aquela faixa dos “indecisos”, mais suscetíveis ao chalrar tucano. Era necessário abrir os olhos para essa tagarelice. Daí o trabalho de recordar o passado recente.
E essa é a grande diferença entre os dois medos.
Regina Duarte trabalhou o medo do futuro, dirigido principalmente a quem sempre viveu bem. O PT trabalhou o medo da volta a um passado recente, dirigido a quem sempre viveu mal, e agora está bem melhor.
Pessoalmente, não gosto de propagandas tensas, porque me parece que se voltam contra quem faz. Mas reconheço que essa peça é muito bem produzida, inteligente e convincente.
Só não atinge quem nunca precisou ter medo de ser infeliz.
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