O aspecto mais curioso da campanha presidencial deste ano (2014) é o aparecimento de bons moços e moças dentro do PT
Não faltam exemplos. Os bons moços lamentam que o governo não tenha dado respostas aos protestos de junho – esquecendo que Dilma Rousseff foi a única política brasileira que pelo menos tentou, entre milhares do Congresso, nos governos estaduais, nas prefeituras, na oposição e na situação, em mais de 30 partidos, a apresentar um conjunto de projetos que respondiam a questões colocadas pelas ruas, a começar pela reforma política. As propostas tinham vários defeitos, todos sanáveis. Foram destroçados sem piedade pelos adversários em função de suas qualidades.
O bom moço não cobra a responsabilidade de quem enterrou mudanças que todos diziam querer. Faz auto-crítica pelas falhas de seus aliados.
O bom moço é assim. Se aparece um erro no lado adversário, corre para descobrir uma falha equivalente entre aliados.
Quando apanha numa face, mostra a outra.
Quer ser o melhor da classe, ainda que todos saibam que não é o queridinho da professora e sempre será colocado de castigo por razões injustas.
Imagine um bom moço do PSDB. Começaria dizendo que o governo Fernando Henrique entregou uma inflação de 12% ao ano -- e que esse patamar nunca foi alcançado depois da posse de Lula. Também diria que a falta de reservas daquele tempo colocou o país de volta ao FMI. Falaria também da compra de votos para a emenda da reeleição.
Este é o jogo real.
Tenho certeza de que não sou o único brasileiro que tem estranhado o comportamento recente do ministro Gilberto Carvalho, uma liderança histórica do PT, com um papel imenso nas conquistas do governo Lula-Dilma.
Hoje me atrevo a questionar suas declarações recentes.
E me atrevo a dizer que sinto aí um espírito de bom mocismo.
Dias depois do VTNC do Itaquerão, Gilberto Carvalho considerou que era necessário colocar em seu devido lugar a reação do partido – e de amplos setores democráticos sem relação com o PT e até seus adversários -- em defesa da presidente.
“No metrô vi muito moleque que nada tinha a ver com a elite branca gritando palavrão.”
“Não nego atos de corrupção que tivemos. Infelizmente, eles aconteceram, têm de ser reprovados.”
Falando sobre a campanha eleitoral o ministro afirma é que necessário fazer uma “grande mobilização que não parta da ilusão de que o povo pensa que está tudo bem.”
É bom sublinhar alguns pontos. O repúdio ao VTNC era necessário porque o xingatório, naquelas circunstancias, nada tinha a ver com eventual descontentamento da população. Era uma atitude de desrespeito a democracia que pretendeu, pela violência verbal, intimidar e silenciar seus adversários. Nada a ver com palavrões no metrô. Quem esteve nos encontros recentes do PT sabe que o partido está longe de acreditar que o "povo pensa que está tudo bem." Dizer o contrário ajuda quem gosta de dizer que a campanha tem uma postura arrogante.
Os votos de outubro irão definir se conquistas históricas dos últimos 12 anos serão renovadas a partir de 2015, se possibilidades novas de progresso podem ser mantidas. Ou se haverá um retrocesso, de duração imprevisível.
Num confronto dessa natureza, cada frase, cada palavra, cada vírgula e cada ponto de exclamação se traduz pelo valor político. E quem traduz são meios de comunicação em sua maioria engajados – como Gilberto Carvalho admite – em auxiliar os adversários de Dilma, de Lula e do PT.
O horizonte das palavras e dos silêncios é o mesmo – a disputa pelo poder. Falhas e erros devem ser admitidos com franqueza. O debate, interno e público, é necessário.
Mas cabe levar em conta um elemento básico das campanhas eleitorais: cada passo em falso prejudica aliados e dá conforto ao inimigo.
Essa é a questão do bom mocismo.
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