O Brasil está pronto para deixar de ser o país do futebol, por Cesar Monatti

Há muitas décadas o futebol vem se transformando em um grande negócio que tem um esporte popular como suporte. E há quase tanto tempo também o Brasil deixou de ser o país do futebol, embora insistamos em não aceitar essa realidade e continuemos a designá-lo assim. Não foi apenas aqui que a popularidade do futebol perdeu a espontaneidade de sua prática. Outros centros como Uruguai e Argentina também foram atingidos pela ultra-profissionalização do esporte. Há anos ouvi de um uruguaio que, no seu país, as famílias de meninos com oito ou nove anos de idade, cuja aptidão para jogar bola fosse identificada nas ruas, eram imediatamente procuradas por “agentes” a fim de assinarem contratos desde a infância. A derrota vexatória na semi-final da copa do mundo de 2014 para a seleção da Alemanha, talvez possa ser considerada uma bela metáfora para ajudar a entender que assim como o mundo das finanças se unificou para garantir altas rentabilidades da moeda, no mundo do futebol perderam um pouco o sentido as seleções dos melhores de um país e passaram a ter muito maior importância os clubes-empresa que, mutatis mutandis, equivalem às grandes corporações globais que têm, em muitos casos, poder maior que os governos de estados-nação. Ao buscar-se consolo durante o luto esportivo pelo qual a grande maioria dos brasileiros está passando, dois aspectos aparecem no horizonte: o primeiro estritamente referente à competição e de viés negativo, isto é, a compreensão de que teria sido muito pior se o desastre viesse a ocorrer numa final; o segundo, mais amplo e mais importante, baseado numa projeção positiva de que o Brasil está apto para ganhar um novo aposto. Fora dos estádios, o riquíssimo e emocionante desenrolar do megaevento no Brasil revelou ao mundo um lugar maravilhoso em termos de paisagens, climas e de gentes e, mais que tudo, de comportamentos. Embora haja de tudo do humano, naturalmente, entre o povo brasileiro, preponderaram a tolerância, a cordialidade e a alegria na recepção aos visitantes de tantos e tão distintos lugares do planeta. É chegada a hora de começarmos a chamar esta pátria de “Brasil, o país de todos os povos”.