O Millôr pulverizou a frase feita “Uma imagem vale mil palavras” desafiando: “Diga isso sem palavras”. Mas, em alguns casos, uma imagem, ou uma superimposição de imagens, diz tudo sobre um momento, sem precisar de palavras.
Há dias os jornais publicaram, simultaneamente, duas fotos, uma do Marcelo Rubens Paiva na Flip, interrompendo um depoimento que fazia sobre o desparecimento de seu pai, Rubens Paiva, morto pela ditadura militar, até poder controlar a emoção, outra, a do coronel Wilson Machado, um dos ocupantes do Puma em que explodiu, prematuramente, a bomba destinada a causar pânico e mortes no Riocentro, no 30 de abril de 1981.
O coronel está rindo na foto. Depois de mais de 30 anos desde o seu desaparecimento, a família do Rubens Paiva continua sem saber onde está o seu corpo. Nos 33 anos desde a explosão da bomba no seu colo, o então capitão Wilson Machado teve uma carreira militar normal com promoções sucessivas, chegou a coronel e certamente chegará a general.
A julgar pela sua foto, está em paz com sua vida e sua consciência. Os superiores do coronel, que planejaram e ordenaram o atentado, também não têm com o que se preocupar.
Os responsáveis pelo desaparecimento de Rubens Paiva também não. A própria instituição militar já disse que nada de anormal aconteceu nos seus quartéis durante o chamado “período de exceção”. Todos podem rir como o coronel.