por Fernando Brito - Tijolaço
Os sites reproduzem um vídeo – que não coloco aqui porque nem é coisa que deva circular, de tão brutal – de uma mulher que agride uma criança autista num elevador, em São Paulo.
Também noticiam que uma estilista – segundo dizem madrinha da moda punk - diz que os pobres comem demais.
E, igualmente, sai na imprensa que o secretário de Recursos Hídricos de São Paulo, Mauro Arce, dizer que a “culpa” dos paulistanos pobres é o de não terem caixas d”água ou não as terem capazes de armazenar água suficiente para atravessar os cortes no fornecimento.
Li as três matérias e fiquei pensando.
O menino agredido, de todos eles, é o menos autista, no sentido em que se entende, primariamente, o autismo: o do isolamento.
Porque, talvez – e nem é assim, se houver amor e carinho – certamente não é o menos capaz de se relacionar e entender as outras pessoas.
Porque só gente muito má é capaz de bater num indefeso, recomendar dieta a um faminto ou tripudiar com quem fica sem água para suas necessidades básicas.
Gente incapaz de entender o outro e que, aos problemas e vontades do outro, reage com agressividade e prepotência.
Impossível deixar de pensar, também, nos que vão fazer este protesto dos inconformados com o voto popular amanhã, em São Paulo.
Enxergam o povo brasileiro como o menino do elevador, como um traste, um inútil. Mesmo que ele esteja quieto, levando apenas sua mochilinha para a escola, em santa paz.
Odeiam porque não o entendem e não o amam como seu semelhante e o acham uma inutilidade.
Não importa que seja diferente, desde que reconheça no outro o mesmo que ele é, tão importante quanto ele é.
O garoto do elevador é tão importante quanto eu, até mais, porque o futuro depende mais dele do que de mim, agora.
Porque tudo o que eu possuo de recursos intelectuais e capacidade de pensar e agir só tem sentido se eu puder ser especial para ele.
Dar a ele o amor, o carinho, a proximidade, o entendimento que ele, por tantas razões, tem dificuldade em dar.
A elite brasileira, muito mais do que as crianças que nascem com este transtorno, é que se encaixa nas definições primárias de autismo, as de viver isolada em seu pequeno mundinho, insensível ao que se passa em torno dela.
As crianças, ah, elas são muito melhores: aprendem a conviver, a respeitar, a trocar, a aceitar.
Não só aprendem, mas ensinam a gente também.
Pessoalmente, posso garantir: eu aprendi muito.
PS: A fita da ilustração é símbolo mundial da conscientização em relação ao autismo, pelas peças diversas do quebra-cabeças, com cores e formas diferentes, mas que se encaixam
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