- Considero Marcos Coimbra como um dos mais gabaritados cientista político e especialista em pesquisa de opinião pública. Mas, nesse caso ele errou feio -
na Carta Capital
O maior sucesso das oposições ao longo do primeiro governo Dilma Rousseff (e, talvez, o único realmente significativo) foi a destruição da imagem da política econômica.
Todas elas dedicaram-se a promovê-la, desde os partidos aos líderes empresariais, no Brasil e no exterior. Mas a ponta de lança, como de costume, foi o establishment midiático. Mais que os políticos de oposição, mais que os porta-vozes do empresariado, quem mais golpeou a condução da política econômica, mais se entristeceu com os sucessos alcançados e mais se alegrou com os fracassos foi a imprensa antipetista.
Não que fosse seu único alvo. Dilma, o governo e o PT passaram dois anos sob tiroteio cruzado, destinado a enfraquecê-los e derrotá-los na eleição. Mas, em todos os fronts, salvo nas questões econômicas, as oposições obtiveram resultados magros.
Não conseguiram, por exemplo, convencer a opinião pública da imoralidade dos governos e políticos petistas. Fizeram o carnaval que puderam com o julgamento do “mensalão” e as acusações de irregularidades na Petrobras, achando que marcariam Dilma, Lula e seus correligionários com a pecha da corrupção. Não houve um dia sem que os colunistas conservadores atirassem contra “escândalos” reais ou inventados.
Foi debalde, no entanto, como vimos nas pesquisas do fim de 2014. Na pesquisa Vox Populi feita entre 5 e 8 de dezembro, 60% dos entrevistados responderam que foram Lula (com 31%) e Dilma (com 29%) os presidentes que mais combateram a corrupção entre os três mais recentes (ficando Fernando Henrique Cardoso com apenas 11% das respostas). No tocante à Petrobras, 69% dos entrevistados afirmaram que “as irregularidades (na empresa) vêm de antes do PT (chegar ao governo federal)”.
A incompetência foi outro flanco ao qual as oposições e, em especial, a brigada midiática se dedicaram. Também nesse plano não deixaram passar um dia sem denunciar os sintomas de alguma “crise de gerência”, da ameaça do “apagão elétrico” à falta de esparadrapo em um hospital do interior.
Achavam que iam bem nesse combate, à luz dos resultados de pesquisas que mostraram, até agosto, que Dilma, de fato, não alcançava os níveis de aprovação necessários a uma reeleição tranquila. Mas esqueceram-se de que ela teria, a partir do início da propaganda eleitoral na televisão e no rádio, como falar diretamente com a opinião pública, mostrando as realizações de seu governo livre da censura imposta pela “grande imprensa”.
Quando terminou a eleição, Dilma exibia taxas de avaliação positiva amplamente suficientes para explicar sua vitória. Na mesma pesquisa Vox Populi, 42% dos respondentes disseram que consideravam “ótimo” ou “bom” o governo, ante 22% que o avaliavam como “ruim” ou “péssimo”, restando 33% que afirmaram que o viam como “regular”. Na mesma métrica usada durante a campanha por Aécio Neves para dizer que saíra do governo de Minas Gerais com elevadíssima popularidade, Dilma chegou a dezembro de 2014 com 75% de aprovação.
Ou seja: por mais que tenham passado os últimos dois anos insistindo nas teclas da corrupção e da incompetência, nossas oposições não convenceram a quem precisavam persuadir. Talvez tenham conseguido exacerbar o antipetismo mais tosco na sociedade, aquele que se expressa na internet e nas redes sociais, mas foram incapazes de formar maiorias.
Conseguiram, todavia, atingir a presidenta e o governo na economia. Chegamos ao início do segundo mandato com percepções muito negativas em dimensões como inflação, desemprego e desenvolvimento.
Quase metade dos entrevistados diz-se “muito preocupada” com a inflação. No tocante ao desemprego, 53% afirmam estar “muito preocupados” ou “preocupados, ainda que não muito” com a possibilidade de ficar sem emprego.
Tampouco são elevadas as expectativas de melhora do poder de compra dos salários: 28% temem que diminuam, 45% que se mantenham e apenas 19% que aumentem. No tocante à possibilidade de piora do desemprego, números idênticos: 28% esperam que cresça, 45% que permaneça e 19% que se reduza.
Dilma começa seu segundo governo consciente de que as oposições tentam, mas não conseguem caracterizá-la como leniente com a corrupção ou má gestora. E convencida de que precisa alterar as expectativas a respeito da economia.
Não é por outra razão que mudou a aposta na política econômica. Seria ingenuidade imaginar que insistir no que foi feito no primeiro governo agora daria certo.
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