Uma pesquisa publicada hoje (09.02) revela que 60% dos paulistanos – portanto a maioria – apoiam racionar água e que 65% dos brasileiros – ampla maioria, também – aprova um racionamento de energia. O que nos leva a concluir que o cidadão-contribuinte-eleitor está consciente da gravidade da situação, particularmente da falta d’agua no Estado de São Paulo e no Sudeste do país, bem como dos riscos que corremos com os reservatórios das hidrelétricas no limite da capacidade de sustentar a demanda de energia no verão e durante o ano.
Na prática o racionamento d’água é uma realidade em São Paulo. Também o sistema elétrico nacional não tem suportado a demanda em determinadas horas e dias, ainda que não se possa comparar a falta d’água permanente há meses em São Paulo com os apagões parciais de algumas horas que aconteceram. Tampouco são comparáveis as consequências para a população e os serviços, para a indústria e o comércio que, de fato, em São Paulo vivem o racionamento d’água.
Na pesquisa a população respondeu, assim, a uma evidência – o iminente racionamento de água e o risco de cortes de luz. A pesquisa demonstra, então, um grave erro político e de comunicação nosso e do governo federal. É preciso revelar mesmo ao povo brasileiro toda a gravidade de nossa situação econômica. Revelar que os riscos de racionamento de energia (menores) e d’água (reais) são apenas um dos graves problemas a enfrentar.
O mundo em meio a uma crise econômica e política sem precedentes
O mundo vive uma crise econômica e política sem precedentes. Basta ver a extensão de cenários de guerra e conflitos civis existentes hoje. Com o agravante do componente religioso e da militância militarista e unilateral norte-americana.
O Brasil está sendo afetado duramente pela queda do comércio externo e dos preços das commodities. Internamente, sem reformas como a tributária e a política, não há como financiar o desenvolvimento e muito menos a rede de proteção social construída nos últimos anos. O fato é que conquistamos grandes avanços sociais e econômicos nos 12 anos de governos do PT, mas cometemos erros e deixamos de fazer reformas que agora nos cobram seu preço.
O saldo destes 12 anos é altamente positivo. Por isso mesmo vencemos no ano passado a quarta eleição presidencial sucessiva. Mas é preciso dizer à população a verdade e apontar os rumos para superar essa fase de nossa construção como nação democrática, soberana e independente, sem de novo jogar o povo para fora da construção do bem estar coletivo.
As reformas, notadamente a tributária – ao lado da reforma política, a tributária é a mãe de todas elas – têm um preço que deve ser distribuído de forma desigual para que aqueles que têm mais contribuam com mais e os que tem menos contribuam com menos. Os que sempre perderam não podem arcar, de novo, com os custos do ajuste fiscal, o que inevitavelmente acontecerá sem a reforma tributária e com a elevação dos juros. Não podemos, muito menos, voltarmos a modelo anterior de concentração de renda e dependência externa.
Dizer ao povo quais as medidas adotadas e para onde o governo conduz o país
É preciso dizer ao povo quais medidas serão adotadas e para onde o governo conduz o país, o que será preservado e o que será mudado. Como nos casos das políticas relativas ao salário mínimo e Previdência Social, Petrobras, política externa, o papel dos bancos públicos e do Estado.
Dizer se vamos optar – como no passado – pela redução do valor dos salários, da participação do trabalho na renda nacional reduzindo drasticamente seu custo e deter a distribuição de renda que sustenta nosso crescimento via mercado interno, ou se vamos investir pesado em tecnologia, inovação e educação, como prioridade 1 do governo, ao lado do investimento na infraestrutura e em energia, gás e petróleo.
É preciso mostrar, claramente, se vamos continuar investindo na integração regional e na exportação de serviços, capital e tecnologia, com a criação de um Eximbank, ou se vamos submeter nosso comércio exterior a esfera de interesses dos Estados Unidos.
Indispensável, a hora é de vir a público e mostrar, também, como preservar o emprego e a renda, a autonomia do governo e do país para definir a política econômica que defenda o interesse nacional e popular. Isso significa não submeter a política econômica à servidão dos juros e ter coragem de desvalorizar o câmbio e preparar a redução dos juros, sem o que o país ficará ingovernável tal o custo da dívida interna.
Sem a reforma tributária a equação não fecha
Mas, ainda que consigamos isso tudo, sem uma ampla reforma tributária que recomponha a capacidade de investimento do Estado e redistribua os custos do seu financiamento, a equação não fecha. Falta receita para sustentar os gastos sociais e previdenciários, o serviço da dívida interna e para investir na infraestrutura social e econômica do pais, na revolução científica e educacional.
A austeridade e a estagnação com riscos de deflação, como vemos na Europa, não pode ser nossa única alternativa. Não podemos ter uma economia que dependa das finanças internacionais e do crescimento ou não da China. É hora de repensar todo nosso projeto de desenvolvimento e colocar na agenda uma nova fase de reformas que exige um novo jeito de fazer política e novas alianças.
Quem pode liderar essa mudança é o ex-presidente Lula e o PT. Podem fazê-lo com novos aliados, com as novas forcas políticas e as novas gerações que surgiram nos últimos anos, com uma nova agenda que dê conta desses desafios colocados pelo novo mundo que surge após a crise de 2008-2009.
Crise que ao invés de ser estancada, só se agrava com a desaceleração da China, com a deflação na Europa e a generalização de guerras e conflitos sem perspectivas de solução política a curto prazo.
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