Restrição hídrica


 

Por Ronaldo Souza

Nasci e vivi a minha infância no sertão baiano, na minha querida Juazeiro.

Desde cedo vi e vivi tudo.

Bem de perto.

Secas e enchentes que destruíam.

Vi a dureza da vida e vi as pessoas enfrentando com fé e resignação.

Mas sempre com muita luta.

Invejei-as tempos depois, já como homem.

A força do sertanejo chegou a mim bem antes das palavras de Euclides da Cunha, mesmo tendo ele escrito na década de 1900.

"O sertanejo é antes de tudo um forte."

Cresci vendo no meu pai e nos seus amigos algo que somente o tempo me mostraria com clareza:

A força da palavra.

Quantas vezes meu pai me mostrou, sem o saber, a força da palavra empenhada.

E quantas vezes os seus amigos reforçaram esse aprendizado.

Não precisou ninguém me dizer que o homem é a sua palavra.

Vivi esse sentimento desde cedo.

Somente anos depois, muitos anos depois, aprendi outro significado da força da palavra.

Não a força da palavra empenhada.

Mas o seu poder para "fazer" homens.

Na minha infância vi e vivi o drama das pessoas pela falta d'água.

Vi o sofrimento que ela causa.

Quando vejo a falta d'água" se transformar em "restrição hídrica", percebo o quanto me fazem falta meu pai e seus amigos.

"Nós perdemos e devemos recuperar nosso caso de amor com a Palavra. Eu sou tão culpado quanto outros por ter exaltado a Imagem às expensas da Palavra".

Esse é de uma certa forma um pedido de desculpas de Steven Spielberg por ter se afastado da palavra.

Junto-me a ele.

Precisamos recuperar nosso caso de amor com a palavra.

Mas com a palavra dos homens de verdade.



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