Juca Kfouri - o panelaço da barriga cheia e do ódio

Jornal GGN - "Como bem lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha", contou o jornalista Juca Kfouri, em sua coluna "O panelaço da barriga cheia e do ódio". Ao compartilhar a publicação em sua página do Facebook, o secretário-adjunto de Direitos Humanos e Cidadania, Rogério Sottili, ainda convocou as pessoas a reagirem: "vamos enfrentar este debate da forma e com o tom que tem que ser enfrentado".

Por Rogério Sottili, de seu Facebook

Imperdível!!!! Vamos laá!!! Vamos enfrentar este debate da forma e com o tom que tem que ser enfrentado: firme na defesa do projeto que tem nas classes populares o seu foco. O nosso silêncio e nossa timidez devem ser superados. Nunca se roubou tão pouco; nunca se apurou tanto e se prendeu tantos corruptos; nunca se construiu tantas estruturas eficazes que possibilitam o acesso ã políticas públicas para o desenvolvimento social e de transparência; nunca se combateu tanto a miséria e a pobreza como agora; numa as classes populares tiveram tanto acesso à educação, saúde e cidadania.... Temos bandeiras, temos projetos, temos dignidade, temos o que dizer e defender... Vamos às ruas, somente assim poderemos, democraticamente fazer as críticas necessárias e justas que este governo merece para ajudar a continuar a mudar e melhorar o Brasil. Valeu Juca!!


O panelaço da barriga cheia e do ódio

Por Juca Kfouri

 

Nós, brasileiros, somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de Imposto de Renda só no ano passado.

Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci.

O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção.

Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando  aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade.

Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca.

Como eu sou.

Elite branca, termo criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas enxerga.

Como Luís Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse:

"Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres. 

O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar. 

Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente. 

Não é preocupação ou medo. É ódio. 

Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. 

Continuou defendendo os pobres contra os ricos. 

O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. 

Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força. 

Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita. 

Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho. 

E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo."

Nada diferente do que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem que os escândalos do mensalão e da Petrobras demonstram que jamais se roubou tanto no país. 

"Santa hipocrisia", disse ele. "Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não ia parar nas redes sociais".

Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.

Ou a falta de educação, ao chamar uma mulher de "vaca" em quaisquer dias do ano ou no Dia Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa do Mundo.

Aliás, como bem lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: "Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha".

Já na zona leste, em São Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta, porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos bom serviços da Eletropaulo e da Sabesp.

Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado.

Que as vozes de Bresser Pereira e Semler prevaleçam sobre as dos Bolsonaros é o mínimo que se pode esperar de quem queira, verdadeiramente, um país mais justo e fraterno.

E sem corrupção, é claro!

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