Quem assistiu ao vídeo divulgado na internet pelo Instituto Lula ficou impressionado, tanto assim que uma das imagens ganhou o alto da primeira página do DIA no sábado. Na gravação de dois minutos aparece o ex-presidente praticando uma série de exercícios, desde caminhada na esteira até levantamento de peso, com a ajuda de personal trainers. Além de se mostrar em excelente forma para seus 69 anos, Lula dá conselhos ao pessoal da terceira idade. “O que você pensa que é sacrifício é benefício. Tenha coragem. Levante às 5h, 6h, 7h, 8h, quando puder.” Suado e sorridente, ele brinca com o próprio esforço: “Parece pouco, mas, para um velhinho como eu, está de bom tamanho”. Seu recado vai muito além dos cuidados com a saúde. O que fica claro (e, sem dúvida, deu origem ao vídeo) é que Luiz Inácio Lula da Silva está pronto para o que der e vier.
Faltam três anos para a pré-campanha à sucessão de Dilma Rousseff, mas até as pedras de São Bernardo do Campos sabem que o ex-metalúrgico está polindo os músculos para tentar a volta ao Palácio do Planalto nas eleições de 2018. Seus homens de confiança já entraram em campo, numa espécie de missão precursora. Paulo Okamoto, Franklin Martins, Luis Dulci e Gilberto Carvalho cuidam da agenda do chefe e traçam cuidadosamente a estratégia da campanha. Há quem diga, como a senadora Marta Suplicy, que Lula deveria ter buscado o terceiro mandato já nas eleições de 2014, mas foi impedido por Dilma, que não admitiu abrir mão da prerrogativa constitucional. Em outra linha de intriga, comenta-se que o ex-presidente estaria apostando no fiasco para se descolar do atual governo e engrossar o coro dos críticos. Ganharia tempo suficiente para enxugar os respingos do fracasso de sua protegida.
Nestes dias de incerteza, pululam as teorias conspirativas. Mas aqueles que acompanham de perto as relações entre Lula e Dilma sabem que, mesmo que os ânimos esquentem de vez em quando, os dois são amigos e nada os afastará. Pela maior experiência política (e também pela notória intuição), é natural que o ex-presidente se intrometa na gestão, principalmente em momentos de crise. Ele dá sugestões, enfrenta resistência inicial, mas em geral acaba sendo atendido. Este foi o caso, por exemplo, das mudanças na articulação política. Dilma fez o possível para manter nas mãos do PT a coordenação das relações entre o Executivo e o Legislativo. Mais realista, Lula defendia a divisão da tarefa com o PMDB, e, se necessário, a inclusão do vice Michel Temer nas discussões. Custou, mas sua fórmula prevaleceu.
Que ninguém duvide: apesar de todos os problemas, o criador continua a apostar no êxito de sua criatura. Se Dilma conseguir sair da arapuca em que se meteu e recuperar a economia a partir do segundo semestre de 2016, o desafio de Lula em 2018 será mais fácil. Mas o ex-presidente disputará a corrida ao Planalto de qualquer jeito. O filho de Dona Lindu costuma passar incólume pelos escândalos que desgastam o PT. Falam mais alto sua trajetória de vida, seu forte carisma e os avanços sociais obtidos em seus dois mandatos. Ele é protegido pelo que os políticos chamam de efeito teflon. Alguém, em sã consciência, acredita que Lula pode ser derrotado pelo tucano Aécio Neves ou pelo prefeito Eduardo Paes, a nova aposta do PMDB? O velhinho vem aí e está em plena forma.
Octavio Costa, em O Dia
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