ou a direita que acredita nas suas próprias mentiras
No julgamento da Ação Penal 470, o "comitê central" da direita elaborou uma estratégia, com êxito nos resultados, para condenar José Dirceu. Motivos não foram apenas atingir a imagem do PT e criminalizar o partido, mas também neutralizar um cérebro político diferenciado. Se os partidos são os "modernos príncipes", estes são determinados, em larga medida, pelo papel do indivíduo na história, do qual falou um sábio russo.Neste período em que se aproxima do V Congresso do PT, é bom resgatar algumas passagens.Foi sob a presidência de José Dirceu que o PT se abriu a alianças sociais e políticas que permitiram combater com força o neoliberalismo em nível local e derrotá-lo em nível nacional. Foi neste tempo que o partido realizava encontros de prefeitos e secretários para convergir um modelo de gestão e atuação legislativa que se chamou Modo Petista de Governar e Legislar. Também, nesta época, foram criados os Diretórios Zonais, para aproximar o partido das comunidades, bem como os setoriais nacionais de múltiplos temas, para a formulação de programas de governo e articulação social mais organizada com movimentos feministas, anti-racistas, de juventude ou LGBT. Neste interstício o PT adotou uma propaganda profissional que, longe de descaracterizá-lo, traduziu, por meio de um marketing competente, suas propostas concretas para mudar o Brasil. Sem falar na reforma estatutária que criou o Processo de Eleições Diretas, inédito, que permitiu ao partido mobilizar seus milhares de filiados para escolherem as direções e o programa partidário, com debate livre e cobertura ampla da imprensa, mesmo a anti-petista.
Dirceu poderia apenas ter juntando sua trajetória de líder estudantil e guerrilheiro com o do partido laboral que emergia das bases populares do país para ser uma liderança "revolucionária", mas inovou e até "domar" o touro de Wall Street domou em imagem legendária, indo ao Partido Republicano e ao Governo dos EUA pactuar governabilidade em escala internacional. Tudo sem abandonar o laço com movimentos sociais, assim como o diálogo com artistas historicamente vinculados às lutas democráticas, nacionais e populares. Se não foi o único responsável, foi a marca indelével do PT capaz de ganhar eleições e governar a, hoje, 7ª economia global.Fora do governo, poderia ter aceitado a sua morte política em nome da "causa", solução proposta pelos que, ante a toda a ofensiva da direita, sugerem o enconchamento e os canhões "para dentro". De novo, escolheu inovar, virou consultor de sucesso da indústria, construção civil etc, e de duas maiores empresas do mundo, levando "expertise" nacional e investimentos para países africanos e latino-americanos que precisam de ambos em sua saga contra a desigualdade.Com estes recursos se defendeu e defendeu o PT, fazendo a direita "bater e voltar". Vinculou seu próprio empreendimento ao projeto de mundo que defende, por dentro do sistema.De 2005 até 2015, muitas batalhas foram perdidas no tema da "corrupção" até que, enfim, conseguiram carimbar, se em definitivo ou vinculado ao desempenho da economia ainda incerto, a marca no PT.Só que, nesta tentativa de vincular Dirceu à Lava-Jato, há, além de injustiça e forçação de barra, comprovados pelos "delatores" e notas da JD Consultoria e dos advogados do ex-ministro, uma subestimação da inteligência do velho Carlos Gouveia de Melo.No caso da AP 470, a fina flor da inteligência da direita sabia o que fazia e jamais acreditou em suas próprias mentiras, inclusive as jurídicas, logo amenizadas em outros julgamentos, como o do "mensalão tucano". Era conversa para a turma do "sonegar não é imposto" e do "Aécio Arregão" engolir.O que vemos agora é esta turma, com toga de juiz e cargo na magistratura, levando a cabo a mentira como convicção. Moro et caterva acreditam que José Dirceu é o "vilão da República" e pretendem se mostrar à altura de seus patronos. Assim, tentam transformá-lo em um "ladrão de galinhas".Sem conseguir compreender o nível, Moro e seus coleguinhas acham mesmo que a JD era fachada para arrecadações ilícitas. Para além de seus métodos desprezíveis, são de uma inteligência miserável.Este senso comum da direita que se espraia para além do "público-alvo" tradicional do senso comum é o perigo dos nossos dias. Zumbis estão empoderados. Não é, assim, demais, falar que precisamos travar uma espécie de Guerra "Z", como naquele filme estrelado por Brad Pit, só que com métodos democráticos.
por Leopoldo Vieira
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