Continuamos órfãos de um programa de governo e de reformas. Agora, pensem, até o PMDB reclama dessa ausência. Deve-se a ela a fraqueza do ajuste fiscal, um ajuste descolado de um projeto claro de retomada do crescimento e do desenvolvimento; e também a ausência de propostas de reforma tributária e de como financiar nosso desenvolvimento nesse novo ciclo. A falta de um programa de governo e de reformas abre espaço para episódios como o do fator previdenciário. Mas também cria condições para um debate que leve à construção de alternativas a longo prazo. É urgente que o país enfrente a questão dos juros e câmbio. E também do papel do Estado e do capital financeiro, que busca desconstituir o setor público bancário para impor de vez um monopólio sobre o dinheiro nunca visto em nenhum pais ou época histórica.
A tensão e as divisões no PT aumentam na medida em que as decisões e ações do governo se opõem ao programa partidário ou a decisões da direção. Cria-se, assim — em um período de defensiva, quando o partido mais precisaria de unidade e direção –, um clima de tensão e dissidências, nem sempre contrárias ao ideário petista mas contra medidas propostas pelo governo. Um exemplo: faz tempo que o Diretório Nacional do PT pede uma alternativa para acabar com o fator previdenciário. Logo, os deputados que votaram pelo seu fim podem alegar que seguiram orientação partidária e que os que apoiaram o governo não. E aí cria-se uma situação injusta com os parlamentares que votaram segundo orientação do governo e a bancada arcando com o ônus político do voto contra.
Tudo indica que o PT chegou ao limite na relação com o governo, o governo do próprio PT. E que chegou a hora de uma redefinição e repactuacão partidária. Nada melhor que o congresso partidário de julho para enfrentar os dilemas e desafios do PT, que mais um vez tem um encontro marcado com sua história e com seu legado de governo.
O período atual é o mais grave que o partido enfrentou. Há uma decisão evidente das forças conservadoras de destruir o PT e de derrotar — se não derrubar — o governo Dilma. É preciso combater em diferentes frentes e são necessários um novo acordo partidário e uma nova direção para esse período histórico. Antes que seja tarde.