Os mais puros, diante dos fatos acachapantes das últimas semanas, se perguntam: como alguém como Eduardo Cunha pode fazer uma carreira com tamanhas delinquências ao longo de tantos anos?
A resposta é um retrato do Brasil.
Os americanos, na Guerra Fria, se referiam a ditadores que os apoiavam de uma maneira abjetamente pragmática.
São os nossos ditadores.
Eles matavam, perseguiam, torturavam – e eram mantidos no poder pelos líderes do “Mundo Livre” porque eram seus ditadores.
E então.
Na visão da plutocracia, Eduardo Cunha é um dos nossos corruptos.
Exatamente como Ricardo Teixeira, para ficar num caso. Teixeira cansou de roubar na CBF. Mas era amigo da Globo, e portanto da plutocracia, e então teve vida fácil no Brasil.
Ninguém o aborrecia com coisas como honestidade.
Eduardo Cunha se iniciou com PC Farias, o tesoureiro de Collor. Com ele aprenderia a arte de arrecadar – vital depois para patrocinar campanhas de políticos menos talentosos naquilo.
Depois, por indicação de PC Farias antes do fim da era Collor, foi ser presidente da Telerj.
Naquele posto a parceria com os plutocratas ganharia músculos.
Cunha facilitou a vida da NEC, uma empresa de telefonia controlada pela Globo.
Pronto. Deu o passo essencial para se tornar um intocável.
Ajudando a Globo: assim se tornou intocável até chegarem os suíços
Ajudando a Globo: assim se tornou intocável até chegarem os suíços
A Globo é uma espécie de mantenedora dos nossos corruptos. Se, como Ricardo Teixeira e Eduardo Cunha, você está protegido por ela, tem licença para fazer muita coisa.
Você não vai aparecer no noticiário. E protegidos da Globo costumam ser também protegidos da Justiça.
Conte quantos amigos da Globo foram apanhados na Lava Jato. Aécio é um típico amigo da Globo: veja quantas vezes ele foi cobrado pelas suas conhecidas estripulias.
É um golpe perfeito.
Ou quase.
O problema é quando entram em cena coisas fora do controle da plutocracia brasileira, e portanto da Globo.
A polícia suíça, por exemplo.
Não fossem os suíços, correríamos o risco de ter Eduardo Cunha na presidência.
A plutocracia adoraria.
Desapareceria da mídia o noticiário obsessivo sobre corrupção, para começo de conversa, como ocorreu nos anos de ditadura militar.
E Eduardo Cunha comandaria uma agenda completamente a favor dos plutocratas.
Financiamento de campanha, que é a forma consagrada pela qual a plutocracia toma de assalto a democracia? Sim, sim, sim.
Regulação da mídia, que é como a sociedade se protege de abusos das grandes corporações jornalísticas? Não, não, não.
E assim seguiria o Brasil, o paraíso das iniquidades.
Mas apareceram os suíços, e a festa, para Eduardo Cunha, terminou em tragédia.
Não, no entanto, para os plutocratas que sempre dispensaram proteção.
Há muitos outros Eduardo Cunhas na política brasileira.
Aécio é um deles.
A plutocracia sabe que pode contar com Aécio.
Tem seus defeitos. Gosta muito da vida noturna, e é amigo de pessoas em cujo helicóptero pode aparecer meia tonelada de pasta de cocaína.
Mas tudo bem.
Na ótica dos donos do Brasil, é um dos nossos.
Como Eduardo Cunha.
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Paulo Nogueira - jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
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