Postei no meu último artigo, em dezembro, a ideia de que a oposição, dadas as decisões do STF sobre o impeachment, estava exposta e seria esmagada. Passado um mês da análise, mantenho o ponto de vista. O Estadão hoje publica que a oposição tem estratégias para além do impeachment... Aloysio Nunes constatou também que se o PT não sair pelo impeachment...sairá pelo voto!
A ideia de que o impedimento está inviabilizado está sedimentada. Essa inviabilidade, de fato, aumenta exponencialmente os riscos das ações que visavam viabilizá-lo, pois a narrativa (a história é dos vencedores) e suas consequências têm o poder de mudar reputações no seu oposto... e obriga a um reposicionamento geral das forças no campo de batalha.
Vejamos:
As declarações de inocência de Marcelo Odebrecht por Paulo Roberto Costa e o fato de que não teria sido citado nas delações, acentuam o descrédito da operação Lava Jato, bem como o risco para os seus protagonistas de figurar em trágica situação nos livros de história. Hoje um dos procuradores afirmou que seriam mais de 2000 anos (DOIS MIL...) de pena para Marcelo Odebrecht. Não pode dizer o contrário, a nação o espreita, há livros de história no prelo e pescoços em jogo, mas a verdade será a dos tribunais.
De fato, a atribuição à Lava Jato de boa parte da recessão em que se encontra a economia brasileira atestada pelo o FMI, somada ao fato de que projetos estratégicos para o país, como o do submarino nuclear, estão sob tensão (o almirante Othon continua preso...) constrangem e permitem ver que a inviabilidade do impeachment é uma ameaça real à reputação dos que nele seriam heróis. O que há, efetivamente, é um longo futuro pela frente no qual cada prejudicado, sobretudo se inocentado, vai querer responsabilizar os seus algozes e ser indenizado em questões de Direitos Humanos. A cada prisão relaxada pelo STF dobra um sino.
Há também um longo futuro no qual incontáveis protagonistas institucionais poderão provocar os tribunais para julgar a conduta da Lava Jato pelos prejuízos para o Brasil, bilhões de dólares em perdas para a economia, milhões de desempregados e projetos estratégicos atrasados ou ameaçados, efeitos estranhamente, aliás, incomparavelmente piores no plano material do que a corrupção alvo das investigações. Isso pode produzir muita insônia, muita polêmica jurídica e resultados imprevisíveis inclusive no plano da História.
É pouco provável, portanto, diante do cenário sombrio que vai sendo materializado para a oposição, um acirramento da agressividade processual pela Lava Jato quando já sofre desmoralização na área civil e na militar. Tal desvario poderia dar mais força a um desfecho negativo para ela, fato que por hora não pode ser descartado. Não é um "quem prende quem". A reputação, a história e o quem ri por último contam mais. De que valeu a multa que Cid Gomes pagou por ter adjetivado Cunha de achacador... De que valeu Tiradentes ter sido considerado corrupto aos olhos da Coroa? Sobre a Operação Lava Jato a História já começou a firmar um veredito... e há pouca margem para evitar o iceberg... Isso é uma pena, pois a corrupção investigada não foi pequena, mas a operação perdeu-se na política e talvez venha a pagar um preço muito caro perante o futuro.
Mesmo assim, pode haver, é verdade, tendências de acirramento por parte da Lava Jato. Mas o impeachment saiu da agenda, o campo democrático começou a gostar de ir para a rua e a história espreita. Não há mais um porto salvador comandado por Michel Temer. O que há, na verdade, é um “vem que tem” no agora e poderá haver uma narrativa histórica futura a valorizar o gigantesco e incalculável prejuízo material e moral para o Brasil, além do INCOMENSURÁVEL perdão aos delatores (todos corruptos ou corruptores) que tiveram suas penas reduzidas de 283 para sete anos (sem falar nos tucanos que sequer foram investigados). Uma autêntica operação Lava Judas, (o delator) paralela à Lava Jato. Então, um acirramento da parcialidade, pode resultar em vitórias de Pirro.
E o STF tem dado diversas provas de maturidade e isenção e parece determinado em firmar-se como um Poder soberano, o que é um elemento que escapa à governabilidade da operação.
O PSDB, com o governo FHC NADA tendo feito para apurar a corrupção do seu período, acrescentou-se, além da derrota do impeachment, uma derrota moral maior, o Oscar da hipocrisia. Está enfraquecido como alternativa de poder. Na geladeira o decano dos tucanos também deve explicações à nação e devemos, sem espírito de revanche, exigi-las.
Já Eduardo Cunha e Michel Temer parecem fazer parte de um passado longínquo. O primeiro tenta todas as manobras possíveis para sobreviver. Sem medo do ridículo quer adiar um dos processos no STF ao pretenso fim do seu mandato em... 2017. O segundo está sumido. Agora por vontade própria. A sua permanência na presidência do PMDB só se justificaria por imensa compaixão dos seus pares, o que seria indigno. Viria a ser um presidente... figurativo.
O presidente do TCU Aroldo Cedraz, dispensa comentários.
Compõe o cenário atual a eleição do novo presidente da Argentina, figura menor, cujas medidas, muitas das quais já anuladas pela justiça, revelam a alma da direita latino-americana. Foi capaz de adoecer o país vizinho, mas, nefasto que é, nos imuniza.
São parte do contexto, ainda, o agravamento da crise humanitária na Europa e do Oriente Médio onde o Estado islâmico mostra-se mais resiliente do que o previsto e onde a Rússia, o Irã e o Iraque atuam em aliança. Isso, como de costume, possivelmente secundarizará a frente de batalha da América Latina pelo imperialismo. Acrescente-se a isso o excesso da oferta de petróleo atual que torna esse botim circunstancialmente anêmico.
Tudo soma contra a oposição.
Não devemos, pois, nos deixar impressionar pela aparente piora das denúncias nos jornalões, isto decorre precisamente de que a nossa retaguarda tornou-se inexpugnável com a confirmação, pelo STF. do rito constitucional para o impeachment. O golpismo está vivo, certo, mas vencido, mal posicionado e exposto. Pode produzir manchetes em jornalões, mas perdeu no principal.
Por tudo isso, no presente momento, quem deve pedir explicações somos nós, na imprensa, nas redes sociais, e sim, nos tribunais. E o povo vai para as ruas.
Nos concentremos, então, para entender o que é principal e o que é secundário, no fato de que o impeachment foi derrotado.
A perda da credibilidade da Lava Jato impõe ao campo democrático a luta pela correção dos seus excessos e pela universalização das investigações da corrupção a todos os segmentos da política. Ou disso tudo restará apenas: um país arruinado, uma narrativa histórica em que a investigação será registrada como traição, perdendo o seu potencial alcance transformador e um tucanato para quem não terá havido NENHUMA pressão para a mudança da cultura da corrupção, pois são inimputáveis. O pior cenário no plano da ética e da política.
As ruas, os parlamentares, os movimentos sociais devem, sobretudo agora que o risco à democracia foi afastado, levantar a bandeira da ampliação das investigações para o lado ainda não investigado. Isto não deve ser feito com objetivos de revanche, mas com o propósito de dar ao prejuízo moral e econômico que são um extraordinário passivo da Lava Jato, ao menos, o alcance de transformar o Brasil num país, efetivamente, menos corrupto e não num país onde um Tucano pode roubar impunemente
Vencido o impeachment duas linhas de trabalho são, portanto, cruciais: ampliar o escopo das investigações contra a corrupção a todos os segmentos da política e continuar a democratização do Estado. O direito de resposta na imprensa, a tipificação do crime de vazamento, a atualização da legislação que tipifica a Traição e a Sabotagem, dentre outras estão na ordem do dia, pois será preciso separar o joio do trigo.
Essa é alavanca que nos dará força moral e política e nos permitirá ir saindo da tempestade. Quem tiver olhos de ver que veja, essa alavanca é uma moenda.
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