por *Armando Rodrigues Coelho Costa
Na medida em que a ficha técnica do golpe vai sendo revelada, mentores, autores, operadores das casas das máquinas, também vem ficando claro a inconsistência da seriedade da Farsa Jato. Como queria que fosse séria! As evidências não autorizam e só se pode concluir pelo inverso. Qualquer um pode presumir que por ignorância ou conivências o País está diante de um inexorável pacto pró-corrupção.Ainda que corrupção seja um problema, no caso do Brasil, o problema não era e não é a corrupção, mas sim de quem tem o direito de exercê-la; em jogo as prerrogativas de quem pode ser quem no mundo da corrupção; quem tem a prelazia da impunidade. E daí ser possível fazer outra presunção, a de que Sérgio Moro, Ministério Público e os delegados da PF mesmo bem preparados, seguem um estranho script. Em clima de censura à liberdade de expressão, melhor ser prudente no trato das entranhas do golpe.É improvável que se desconheça que empresas transnacionais com sede em países desenvolvidos viviam empenhadas na corrupção de funcionários públicos de países em desenvolvimento, como o Brasil. Uma prática em geral acobertada pelo sistema bancário internacional, até que o fatídico 11 de setembro de 2001 revelou o óbvio: o dinheiro do terror percorria o mesmo subterrâneo do dinheiro da corrupção.Daí ser importante lembrar o papel da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um dos itens, aliás, enfocados no mais recente Congresso Nacional de Delegados da Polícia Federal, em Vitória/ES, financiado em parte com verba pública, enquanto um outro mais antigo fora financiado pela impoluta Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em Fortaleza/CE .Pois bem. Criada em 1948, a OCDE é uma organização internacional composta por 34 países regidos por respeito aos princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado. Dela fazem parte nações com elevado PIB per capita e bom IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Voltada para a economia, busca solucionar problemas comuns e coordenar políticas domésticas e internacionais.Com estatutos complexos, os países ligados à OCDE não podem, por exemplo, perdoar dívidas, um dos fatores que impedem o Brasil de se tornar membro, já que perdoou dívida, por exemplo, do Haiti. Mesmo fora, o Brasil tem status de membro pleno, por conta do empenho do Governo Federal na trilha moralizadora, sobretudo adotando (espontaneamente) leis em conformidade com aquela organização.
Desse modo, em 2014, a OCDE destacou os avanços no Brasil no combate à corrupção. Chegou a enaltecer a aprovação da Lei da Empresa Limpa, bem como o papel da Controladoria-Geral da União (CGU), além dos incentivos a programas de compliance, que, grosseiramente, é uma espécie de ajuste de condutas para empresas e instituições, cuja violação gera multas e perda de credibilidade.Até pouco tempo, a OCDE só emitia recomendações de conduta e pais nenhum era obrigado a cumprir; Coletou decepções: a Alemanha, até 1999, permitia que suas empresas deduzissem do imposto de renda a propina paga em países como o Brasil. A Suécia, o Japão... também eram tolerantes, embora não permitissem a dedução. Por que a mídia golpista, FIESP, maçonaria, PF, MPF, JF fingiam desconhecer isso?A rigor, fingia-se não saber que o Brasil, há tempos, era e é alinhado a um bloco de países corruptos. Somente após as orientações da OCDE serem convertidas em tratados internacionais, os países membros a foram obrigados a seguirem seus ditames, decidiram ser mais sérios no combate à corrupção. Empresas e Justiça entraram em acordo, multas foram pagas, empresas continuaram atuando, não houve desemprego em massa e os governantes foram aplaudidos.Já no Brasil, que adotou espontaneamente as mesmas leis, rompeu-se a ordem jurídica, assassinaram reputações, usaram prisões temporárias como forma de coação, delações foram adrede vazadas, prenderam empresários e quebraram empresas. Agravaram a crise - outro item do golpe, e para completar, tentam derrubar a Presidente da República. Com o país nas mãos de uma quadrilha, parte dela vive sob ameaça de prisão. Quem não seguir o script do golpe vai preso e as prisões já pedidas seriam meras coincidências.
*- jornalista, advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo