Começo minha fala “segunda-feiral” com um prólogo. Em quase todo alvará de soltura, os juízes determinam a liberação do preso, usando uma expressão – “se por al não estiver preso”. Isso significa, grosseiramente, “solte, se por outro motivo não estiver preso ou não houver outra ordem de prisão”.
Feito prólogo, digo que muitos que dizem ter divergências políticas comigo têm, na verdade, divergência de caráter. Um delegado federal com passado sujo e outro que foi preso (recentemente) por corrupção foram às ruas gritar “Fora Dilma”. Outro, por não conseguir o cargo desejado nos Estados Unidos, na esperança de compor a equipe do golpe, também gritou “Fora Dilma”. Cito meros exemplos de uma enxurrada de outros, como as centenas de parlamentares envolvidos em corrupção, que tiveram depois suas capivaras reveladas. Portanto, Fora Temer!
Sobre política, costumo dizer que o que sei da vida não li em compêndios. Aprendi com os homens-caranguejos de Josué de Castro - um estudioso dos mangues recifenses que constatou que o caranguejo comia as fezes do homem, este comia o caranguejo que se tornaria as fezes que iria alimentar outro caranguejo... num círculo vicioso. Constatação que por certo inspirou sua obra “Geografia da Fome”. Lido, pois, com necessidades primárias, sem as quais o ser humano não cresce, não absorve conhecimento, cultura, não desenvolve empatia.
A rigor, não discuto necessariamente política. Por falta de outra palavra, declaro-me humanista em sentido lato e não me perco em definições e ou conceitos formulados por essa ou aquela escola. É sob essa perspectiva, mesmo com ressalvas, de onde brota minha sensibilidade quanto ao olhar generoso do Partido dos Trabalhadores sobre a miséria. Afinal, o PT foi o que surgiu de (não tão) novo no Brasil. Daí meu respeito por um partido do qual não faço parte, que optou por governar com as regras existentes. Regras porcas que sequer poderia mudar.
Ao aceitar as regras do jogo, oficiais e paralelas, o PT geriu a nação nos limites da permissão burguesa, na cínica regra do e para o capital. Leia-se, regras inerentes à cultura dominante, sabidamente alimentada pela cultura de Moros, Marinhos, Mesquitas, Malafaias, Mendes. Todos forjados e pavoneados por uma sociedade corrupta, cujos pilares são a ganância e a corrupção, que se finge combater. Mas, por que combater alguns frutos e preservar a árvore? Talvez por que lhes garanta sombra.
Trata-se da sociedade das comendas, medalhas e aventais maçons. A sociedade de Sérgio Moro, que só lhe causa incômodos pontuais. Desse modo, profere sentenças de dois minutos - quiçá uma forma de ter tempo para fazer palestras para essa mesma sociedade e dela aceitar diplomas e homenagens. E o mais grave, ao que parece, como se desconhecesse as capivaras dos homenageantes.
A sociedade de Moros e Marinhos teve, recentemente, um constrangedor episódio. A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) realizou um encontro classista, patrocinado por uma empresa condenada por crimes ambientais, trabalhistas e fiscais. Nessa trilha, não custa lembrar que recente congresso dos Delegados da Polícia Federal foi patrocinado pela corrupta Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Já o mais recente, teria recebido patrocínio da prefeitura de Vila Velha (ES).
Não se pode dizer serem relações necessariamente promíscuas. São tão naturais quanto os fios que movem a corrupção no país, sobre as quais só recaem olhares específicos. Mas, posso presumir a leitura que seria feita se alguns desses casos fossem protagonizados por pessoais ligadas ao PT.
São eventos corriqueiros que lubrificam engrenagens da sociedade de Moros e Marinhos, onde predomina o culto a um sistema social-politico-econômico criminoso, que domina o Brasil e o mundo há séculos sem dar respostas sociais, cujos pequenos avanços são frutos de pressões do ideário humanista.
Eis a sociedade que caça Lula. A mesma que recentemente assistiu um bate-boca no STF entre Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, quando trocaram ofensas, deixando no ar que um sabe falcatruas do outro. E aí pensei. Imaginem se mais tarde, por uma circunstância qualquer, o Brasil retorna ao Estado Democrático e de Direito e, se Sérgio Moro por al não estiver preso, algum ministro venha a dizer: “eu sei o que você fez no verão passado!”.
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