Uma carta que não representa Antonio Palocci, por Gustavo Conde
A se ponderar.Acabo de ler a carta de Palocci na íntegra.Posso dizer com toda a segurança e com toda a técnica que a ciência linguística da interpretação de textos pôde me deixar em 12 anos de estudo e pesquisa: trata-se de uma das maiores fraudes que já testemunhei.A carta não apenas NÃO é da autoria de Palocci: é pessimamente redigida (redigida às pressas), composta por compilações igualmente mal redigidas de senso comum plantado anos a fio em editoriais de jornal.Palocci apenas assinou, provavelmente sem ler, sem questionar.É um escândalo terrificante, digno das ditaduras mais totalitárias e sanguinárias.Desmascarar esse texto fraudulento é das tarefas mais fáceis da análise de texto forense.A voz que dali emana não é a de Palocci.E não é porque ele continua sendo o "velho" Palocci ou coisa parecida.É porque os indícios de autoria não são compatíveis com sua identidade textual pregressa, a qual todos tivemos acesso por meio de declarações e discursos proferidos no exercício do cargo de ministro e na condição de militante de um partido.Aquilo não é redação de uma pessoa só, é um texto fragmentado, um mosaico de lugares-comuns costurado às pressas para atender e se antecipar ao descrédito e ao volume de contradições que pairam sobre suas delações, igualmente desovadas sob coação clara do juízo problemático dos próceres de Curitiba (já conhecidos da literatura jurídica mundial como juízes políticos).A segunda coisa mais chocante, no entanto, é imaginar uma pessoa presa com acesso a computador - o texto foi digitado em word.Da cadeia de Curitiba, nessa mesma condição, José Dirceu só escreveu manuscritos (e como escreveu).A primeira coisa mais chocante, para finalizar, é realmente a fraude.Esse tipo de dispositivo de coação é o grau máximo de violência que uma sociedade pode ter a infelicidade de experimentar.Porque a violência simbólica e subjetiva é muito mais grave e profunda que a própria violência física.É a morte do sentido.
Parafraseando Maquiavel:
Assegurar-se contra os inimigos, ganhar amigos, vencer por força ou por fraude, fazer-se amar e a temer pelo povo, ser seguido e respeitado pelos soldados, destruir os que podem ou devem causar dano, inovar com propostas novas as instituições antigas, ser severo e agradável, magnânimo e liberal, destruir a milícia infiel e criar uma nova, manter as amizades de reis e príncipes, de modo que lhe devam beneficiar com cortesia ou combater com respeito, não encontrará exemplos mais atuais do que as ações de Sérgio Moro.