Eu faço muita entrevista com novo rico. É sempre edificante notar o esforço que a pessoa faz para ser aceita por seus novos pares, esses quase sempre quatrocentões falidos, mas com brasão e título no Harmonia. Aliás, conheci um fazendeiro, ex-boia fria em Sinop, que jogava pólo aquático no Harmonia com uma boia escondida debaixo da camiseta. É dura a vida do emergente.
Ontem fui fazer entrevista com o dono da terceira produtora de frango do Paraná. Um sujeito muito afável, boa praça, que estava feliz por ter comprado um apartamento de 500 metros quadrados num desses condomínios de luxo, margeados pelo aromático Rio Pinheiros, construídos para que as crianças passem a infância e adolescência lá dentro. Saca o menino do interior que só vê o mar pela primeira vez com 15 anos? É a média de idade com que os pimpolhos da torre New Jersey Village Premium conhecem a Avenida Paulista.
Foram três horas de papo. No fim, já éramos íntimos. Ele pediu pra eu definir numa só frase o que eu achava da decoração de sua sala. Fiquei cinco minutos observando os sofás de zebra, os lustres vitorianos, o imenso tapete vermelho (uma réplica do de Cannes). Passei a olhar pra parede, essa mais aprazível: belíssimas reproduções de Caravaggio, Monet e Renoir.
- É pra resumir num só frase o que eu achei de sua casa?
- Sim, diga, Tom. Estou curioso.
Sou um cara legal, mas sofro de sincericídio:
- Um Louvre com curadoria do Zezé Di Camargo.
O cara quis me dar um beijo na boca. Perigosa essa gente sem brasão.