A agenda da terra dos mortos
Não há nenhuma alma viva, provida de um mínimo de esclarecimento, que desconhece o que está na agenda desse atual governo e daqueles que estão no exercício do poder de fato em nosso país.
Lula será preso e não vai concorrer à presidência. Uma composição bisonha de candidatos fará a eleição de 2018 parir um presidente fraco e refém de um congresso corrupto e cínico.
Nessa conjuntura, todo o poder estará nas mãos de um judiciário reacionário que continuará a criminalizar os setores progressistas e a esperança de um Brasil melhor.
Essa é a agenda da Terra dos Mortos, uma Terra que já conhecemos um dia como Brasil. Um país gigante, sucateado e arrasado por uma elite retrógrada que está suficientemente empoderada para fazer o que bem entende, às custas de um povo sofrido e desorientado.
E como parar essa agenda? Como evitá-la? Existe uma solução? Sim. Existe.
Mas quem deveria solucionar o problema, provavelmente não vai fazer...
“A culpa seria do povo que não vai para as ruas?” Não... o povo pode ir para as ruas o quanto quiser. Isso não é suficiente...
“Devemos ocupar escolas, instituições públicas, terras, bloquear estradas?” Até podemos... Mas isso não serve, por si só, para nada... Nada disso ainda é suficiente...
“Lula tem que sair pelo Brasil denunciando o golpe?” Isso ele já faz... E de nada adiantou e nem adiantará...
A chave está nas mãos dos deputados e dos senadores do campo progressista do Brasil.
E o que eles deveriam fazer?
Deveriam ter a dignidade e a força moral histórica para renunciarem - sem nenhuma exceção - aos seus mandatos e, como ato contínuo, deveriam fundar uma nova Assembléia Popular Paralela, em defesa da constituição de 1988, da Democracia e do Estado de Direito.
A solução é, enfim, a insurreição parlamentar. E ela deveria ser o epicentro de um estado de desobediência civil contra esse governo corrupto e ilegítimo.
Essa é a única solução.
Esperar pelas eleições de 2018 é uma ilusão. E se não é, então... está na hora dos setores progressistas deixarem a retórica de que “não existe plano B” e que Lula será o candidato da esquerda e do PT. A direita não vai deixar isso acontecer. Ponto final.
O problema é esse: a direita radicalizou a política em um nível inédito em nossa História. E fazer uma insurreição significa abrir mão de muita coisa, inclusive dos privilégios adquiridos como políticos e que podem ser reafirmados pela via eleitoral daqui a alguns meses.
Por isso, provavelmente não teremos qualquer insurreição, qualquer ato de coragem ou bravura histórica. Teremos apenas os repetidos discursos raivosos contra um “governo ilegítimo e golpista”... Mas que tem a força para tudo fazer, no momento que quiser.
E isso nos faz lembrar, enfim, que por de trás da agenda da Terra dos Mortos há um sistema perverso que permite que ela se faça possível. Um sistema que alimenta com privilégios e regalias aqueles que deveriam estar dispostos a dar suas vidas pelo povo brasileiro.
Essa é a nossa tragédia. Essa é a triste verdade que relutamos em aceitar... Ou os parlamentares da esquerda se rebelam ou teremos a edificação da Terra dos Mortos por no mínimo cem anos em nossa nação.
Carlos D'Incao - historiador
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