Aqui no meu bairro tem um restaurante japonês que vive lotado. Depois que a classe média descobriu que é possível passar maionese no sushi, tudo ficou mais palatável.
Colado ao japa, abriu um bar de cerveja artesanal, outra febre que chegou, enfim, à plebe, depois que ela percebeu (demorou pra caralho) que a Bohemia tinha o mesmo gosto da Itaipava. O bar é decorado com um varal cheio de lâmpadas, com mesinhas no terraço. Nada mais caipira que um paulista metido a descolado.
Mas não foi isso que me chamou a atenção e sim a equipe da PM que faz plantão em frente ao japa. Os policias variam, mas o número é sempre o mesmo: quatro soldados. Trabalham ali, diariamente, da abertura do restaurante até o fechamento, por volta da meia noite. E, claro, não incomodam os fregueses ao lado, que se entopem de cerveja de mate torrado e saem dirigindo os seus carros.
Os gambés são pagos, provavelmente, pelo dono do estabelecimento, que tem proteção garantida para ele e para os clientes. É uma prática tão comum, tão milenar, que deu nome à expressão Coxinha, muito antes de ela ter a conotação que hoje conhecemos. Era o nome dado ao policial que trocava a proteção da padaria por alguma iguaria vendida ali.
A vida ficou cara. O policial de hoje não se contenta apenas em encher a pança. Quer seu pixuleco. Normalmente, a quantia paga é negociada com algum oficial, que embolsa a maior parte da grana - o que sobra é repartido entre os soldados, que pelo menos vão pra casa já comidos. Semana passada levaram quentinha do japa. Eu vi.
Ontem fui falar com um deles, fingindo ser um comerciante prestes a abrir um restaurante no bairro.
- Boa noite.
- Boa noite.
- Vou abrir um restaurante lá na rua de cima.
- Seja bem-vindo.
- Eu posso contar com o apoio de vocês?
- Sim, manda um whatssapp pro tenente William. Fala que foi o Mixirica que passou. Você trata com ele.
- Obrigado.
- Qual a proposta do seu restaurante?
- Culinária japonesa.
- Vai ter temaki com cream cheese?
- Sim.
- Hummmm. Boa sorte com o tenente.