2018: o ano que deu bosta, por Sérgio Saraiva
A zero hora de hoje (01/01/2019) encerrou-se o grande acordo nacional [?]... "com supremo com tudo". A frase síntese de Romero Jucá (Pmdb/RR) para o Golpe de 2016.
Uma marcha da insensatez que teve início logo após o final da eleição presidencial de 2014, com a suspeitíssima insubordinação do PSDB aos resultados das urnas, e que levou ao pior resultado possível: o perde-perde.
Não há ganhadores. Há perdedores menores e maiores. Mas todos perdedores.
PT: o Grande e pequeno perdedor
O PT perdeu. Foi vítima de um movimento de demonização levado a efeito pelo poder econômico, pela mídia e pelo Judiciário. Suas maiores perdas foram ter seu grande líder preso e a presidente eleita derrubada em um golpe. Eleitoralmente, no entanto, ele é um pequeno perdedor. Levou seu candidato ao segundo turno das eleições pela quinta eleição consecutiva e de lá saiu com 48 milhões de votos. Não ganhou a eleição. Tinha a maior bancada de deputados em 2014 - 69 deputados – tem a maior bancada de deputados em 2018 – 56 deputados – perdeu 13 cadeiras na Câmara Federal. Elegeu cinco governadores em 2014 e quatro em 2018. Perdeu Minas Gerais. No entanto, é o partido com maior número de governadores.
O personagem Lula – é um mártir. Ninguém sério o acusa ser corrupto. Basta ler seus detratores na grande imprensa – os que ainda têm veleidades de ter o nome de alguma maneira respeitado – o máximo que afirmam é que foi "condenado por corrupção". Não é um mero jogo de palavras obviamente. A vigília Lula Livre está lá, há quase um ano, nas portas na Polícia Federal de Curitiba para lembrar que ele ainda é o maior político vivo do Brasil. Fato único na nossa história política. Mas Lula é um homem de 73 anos confinado a uma solitária gourmet. Enquanto se mantiver forte e firme, será, paradoxalmente, a reserva moral da política brasileira. Enquanto se mantiver forte e firme...
A grande mídia pouco fala da derrocada do PSDB. Mas não há como não identificá-lo o grande perdedor. Era para reconduzi-lo ao poder que deram o apoio necessário ao Golpe de 2016. Aceitando a proposta da quadrilha de Michel Temer: um grande acordo nacional com o Supremo com tudo. Não tiveram votos para chegar ao segundo turno nas eleições. Na verdade, nem para chegar a terceiro colocado no primeiro turno.
Era a terceira maior bancada em 2014 – 54 deputados federais – em 2018 é a nona – com 29 deputados federais. Atrás de PP – PR e PRB – sejam lá o que forem tais partidos. Tinha cinco governadores em 2014. Terá três agora – se é que podemos considerar João Doria como um governador do PSDB.
Mas mais do que isso, cabe perguntar se o PSDB, como o conhecíamos até então, ainda existe. Seus grandes nomes ainda existem? FHC – o presidente emérito do Brasil – José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin. Todos presidente e candidatos a presidentes que chegaram ao segundo turno nas eleições que disputaram. Alguém os convidaria para abrilhantar uma festa de formatura?
Todos necessitando contar com a boa vontade do Judiciário de seus Estados - que jamais lhes faltou - para continuarem fora da cadeia e por aí a falar mal do PT. Não lhes sobrou mais nada. Faltam lhes principalmente ouvidos que os ouçam.
Geraldo Alckmin – o delfim da plutocracia paulista – um picolé de chuchu jurado e sacramentado. De Aécio há o que dizer?
Enfrentarão agora João Doria – o corvo que criaram. Doria é um psicopata social megalômano. Quer ser presidente da República. Mas, além da pecha de traidor, tem o toque de Sadim – transforma em merda tudo que toca. Perdeu a cidade de São Paulo, para a qual tinha sido eleito em primeiro turno dois anos antes. Perderá o Estado de São Paulo.
E, então, sem um Franco Motoro para refundar um novo partido – como foi o caso quando Quércia tomou de assalto – literalmente – o MDB paulista, restará ao PSDB completar o seu ciclo e ser incorporado pelo partido em que Ciro Gomes e Tasso Jereissati – velhos novos aliados - se abrigarem.
PMDB – da tragédia ao golpe – menores
O PMDB havia estado na presidência da República, 28 anos antes. A tragédia elegeu Sarney após a morte de Tancredo Neves. Voltou com o Golpe de 2016. Com a quadrilha de Temer e Eduardo Cunha. Nunca, no entanto, deixou o poder. Seu maior ativo político era sua grande bancada de deputados que compunha com quem tivesse ganhado.
Em dois anos de Temer, viu sua bancada encolher de 66 deputados federais, em 2014 – a segunda maior – para quase que a metade disso - 34 deputados federais em 2018. Está no mesmo blocão em que estão partidos como PSD – PP – PR – PSB e PRB. Agora, é mais um do mesmo.
Não sabe viver na oposição, então terá que baixar e preço e fazer um saldão, se quiser alguma proeminência nos anos Bolsonaro.
O personagem Michel Temer – um Joaquim Silvério dos Reis apequenado. Um nome e um rosto para figurar a hipocrisia da nossa burguesia. Essa que bradava contra a corrupção em praça pública e apoiou o chefe da quadrilha que tomou o lugar de uma presidente honesta – o tempo o provou. Bandido bom é bandido nosso.
Temer deixará a presidência pela porta lateral do Palácio do Jaburu. A mesma pela qual recebia – altas horas – senhores para negociar facilidades. Buscará ser esquecido. Buscarão esquecê-lo. Será melhor para ele e para os que o apoiaram. E assim, esperará a resolução de seus processos por corrupção baixados à primeira instância da Justiça paulista; ou por prescrição, como é de costume, ou por falecimento – o que vier primeiro.
Todos perdedores - o ano em que deu merda
A grande mídia – perdeu para as fake news impulsionadas por mensagens de Whatsapp ou Facebook. Nem para mentir tem mais algum valor.
A Rede Globo – foi comprada pelo empresário Edir Macedo e agora transmite programas evangélicos 24 horas por dia. Seus antigos proprietários - a família Marinho – que não podem viajar para o exterior, por causa de processos na Justiça americana derivados do assim chamado “escândalo da FIFA”, se refugiaram em uma mansão a beira-mar em Paraty.
O STF – Supremo Tribunal Federal – foi fechado por um cabo e um soldado.
PS: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia deseja a todos os seus clientes e amigos algum 2020.
Vida que segue...