De Cavalo de Tróia à Rainha da Inglaterra, por Fernando Horta
O Brasil acordou hoje com a notícia de que já somos mais de 13 milhões de brasileiros desempregados. Em 2014, ainda no governo Dilma, tínhamos a menor taxa de desemprego da história, menos de cinco milhões de desempregados. Naquele momento a “intelligentsia” neoliberal, corporificada pelo proclamado ministro da economia de Aécio Neves, passou a peregrinar pelo Brasil informando que a pressão do aumento dos salários em pleno emprego reduziria a margem de lucro das empresas. A solução dada por Fraga? Baixar o salário e criar um “nível de desemprego” seguro, obviamente para rentistas e donos do capital.
Temer assumiu em maio de 2016 com pouco mais de 10 milhões de desempregados. Entre 2014 e 2016 uma série de erros políticos e uma imensa conspiração jurídica e legislativa atacaram o Brasil. Segundo estudo do IPEA, quando a Lava a Jato foi deflagrada o desemprego era de cerca de 7% (cerca de 6,3 milhões de desempregados), e sua atuação elevou diretamente o desemprego para algo em torno de 11 a 12 milhões de pessoas.
Depois de todo o jogo político para retirar Dilma e prender Lula, Temer entregou o país com cerca de 11 milhões de desempregados, em dezembro de 2018. O governo Temer foi, por assim dizer, nulo na recuperação prometida ao trabalhador. Não vamos entrar aqui no mérito de que sem a CLT os empregos criados são com salários menores do que os perdidos e, portanto, a massa salarial disponível na economia é reduzida diminui o consumo e, no médio prazo, nos coloca no caminho da recessão.
Quase 70 dias do (des)governo Bolsonaro e o que temos é o aumento médio de um milhão de desempregados por mês. A continuar neste caminho, ao final do (des) governo, teremos 45 milhões de desempregados ou quase 50% da nossa força produtiva.
Ao mesmo tempo, a ideologia impregnada nas ações de governo já impactou na venda de carne para o oriente, na soja (e sua liberação descontrolada de agrotóxicos), no trigo, no leite e caminhamos para diminuição de receitas exatamente nos produtos primários, que sustentam a economia brasileira.
Neste cenário de incertezas, o dólar bate quatro reais e o mercado financeiro (que vive da especulação) adota posturas conservadoras e se refugia na moeda norte-americana. O recado é claro e a “reunião” de empresários da FIESP com o vice-general Mourão apenas deixa o óbvio: Bolsonaro não tem a confiança do alto empresariado brasileiro mais. O “The Economist”, uma das vozes econômicas mais conservadoras e “pró-establishment” do mundo, já avisou que “o mercado não estava preparado para a incompetência de Boslonaro”.
O quadro é preocupante e os militares se dividem. Uma parte, que foi a responsável pela Operação Cavalo de Tróia de Bolsonaro, está muito incomodada com os desvarios, desmandos, incompetência e incapacidade de Bolsonaro e seus escolhidos. O plano inicial era arrumar um idiota qualquer, de baixa patente e com apelo populista para assumir o Brasil de forma democrática (no voto) e, em seguida, permitir que os militares o governassem. Bolsonaro era o candidato com quase todas as “qualidades” para ser o cavalo de Tróia. Contudo, como já informavam os relatórios de avaliação sobre o Capitão Bolsonaro, ele é um “mau militar”. Alguém com aversão à hierarquia, forte componente narcisista, argentário e, agora, deliróide.
No meio militar se sabe que “quem não sabe obedecer, não sabe comandar”. Bolsonaro, seus filhos e Olavo de Carvalho não estão podendo ser contidos. O establishment militar pensava em usar o Cavalo de Tróia como uma Rainha da Inglaterra. Deixaria Bolsonaro no twitter, atacando seus delírios de comunismo e tocaria o governo de forma “técnica”, já que a auto-imagem dos militares brasileiros afirma que eles são a quintessência da intelectualidade do país. E nacionalistas, ainda por cima.
Sem entrar no mérito da distância entre como os militares brasileiros se veem e como eles realmente são em termos de capacidades técnicas, o fato é que cada vez que um dos filhos de Bolsonaro fala, Olavo de Carvalho se manifesta em redes ou o presidente dá entrevista, os formuladores da “Operação Cavalo de Tróia” (na sua maioria generais) se apavoram. O medo é que sem conseguirem conter a famiglia Bolsonaro e o Rasputin de Richmond, não apenas o governo brasileiro, mas também a instituição das FFAA sairão diminuídas.
No caminho da serenidade política estão as veleidades políticas de vários personagens que não conseguem trabalhar em grupo. Moro e Bretas pretendem-se políticos de alta monta no curto prazo, no Brasil. Estão usando para este fim (há muito tempo) as togas. O ato contra Temer foi julgado pelo meio militar como “fora de tempo”, embora não totalmente fora de propósito. O atrito com Rodrigo Maia poderia ter sido evitado. Agora, depois da ameaça velada dos juízes aos parlamentares, dificilmente Maia terá alguma boa vontade com o governo, eis que o “Botafogo” sabe que sua “batata está assando”.
O Congresso deixa claras as linhas da negociação: é preciso parar com o ativismo dos juízes-celebridades e diminuir o poder do executivo. Sem isto não haverá nenhum avanço nas negociações no parlamento, apesar de que a ala fascista, eleita por Bolsonaro, ainda consegue manter o legislativo incapaz de contra-atacar. O problema é que começam a pesar as questões individuais.
Paulo Guedes tenta enxugar todos os recursos públicos e isto significa aumentar as crises econômicas pelas quais os estados passam. Mesmo parlamentares fiéis ao PSL não podem ignorar completamente seus estados e abraçar cegamente Bolsonaro, especialmente com a economia indo para o brejo na velocidade em que está. A ala evangélica acordou para o fato de que a imensa maioria do seu dízimo vem de pessoas que serão atacadas pela reforma da previdência como já o foram pelo fim da CLT. No médio prazo, “Deus vai ficar sem dinheiro”. E quando falta pão na mesa dos filhos e sobra carros e apartamentos de luxo na conta bancária dos pastores a realidade material fala mais alto que “o amor de Cristo”.
Em outras palavras, a Bolsonaro existem apenas duas saídas, ou se torna a Rainha da Inglaterra, restrita a acenar em carros abertos e perseguir os “comunistas” no twitter, sem colocar em risco o país, ou será defenestrado. Como nem o clã Bolsonaro, nem o Rasputin de Richmond conseguem ter uma ideia minimamente real do que está acontecendo, eu acho que o governo Bolsonaro subiu no telhado.
À oposição cabem duas coisas: impedir a qualquer custo a Reforma da Previdência, não apenas porque ela é venal para os trabalhadores e causará apenas miséria e mortes para nossa gente, mas porque ela é a única moeda de troca que Bolsonaro ainda tem com o capital. Negar ao fascista-presidente esta possibilidade é virtualmente acabar com seu governo. Em segundo lugar, este é o momento de ouvir Bolsonaro. Deixá-lo falar. Provocar-lhe. Perguntar, fazer entrevistas, e dar a famosa “corda para se enforcar”. Durante a campanha a “facada amiga” impediu que Bolsonaro se suicidasse politicamente. Agora, sendo presidente e tendo “todo o poder do mundo”, ninguém pode segurá-lo.
Fale presidente, fale! Nos conte sobre seus planos, suas ideias e sua visão de mundo!
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Jair Bolsonaro, um asno falante. É o que tenho escutado por aí
Vida que segue
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Vocês estupraram o país por 16 anos e querem a recuperação em 6 meses! Parem de demonstra a boçalidade de vocês, esquerdistas!
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