Eu te amo - uma crônica, por Orlando De Souza

A gente pode nem se dar conta.
Mas viver é um fechar e abrir de ciclos.

A gente está sempre redesenhando novos fins e começos.

Verdade é que na vida, ciclos se fecham, independentemente das nossas vontades.

Depois que um ciclo se fecha, o que fica é a sensação do dever cumprido, isso em tese, ao menos.

Existe um sentimento que após a passagem de um ciclo permanece em nós: a saudade.

Tem gente por aí sentindo saudade do que não viveu, outros sentem saudade daquilo que nunca tiveram.

Soma-se ainda, os que sentem outro tipo de saudade: saudade do que não disseram.

E, como não disseram, há os que sentem saudade do que nunca ouviram.

Existem três palavras que, separadas, pouco representam e quase nada têm de significado.

Quando juntas, porém, formam uma poderosa sentença capaz de mudar a rota de uma vida, abrir novos horizontes e tracejar sorrisos na cara de quem a escuta.

Não se conta a quantidade dos que fariam qualquer coisa para ouví-la e sentir a força do seu extasiante poder.

Eis as tais palavras:
EU - a Primeira Pessoa do Singular. EU - não passo de um prenome. EU - falo de mim mesmo.

TE - vale um objeto indireto. TE - complemento do objeto indireto. TE – pronome pessoal oblíquo.

AMO – ato de amar. AMO – aquele que é servido, o dono da casa. AMO -  esposo da ama.

Ficou fácil a descoberta da palavra que encanta, que cura e liberta: EU TE AMO.

Tem gente que está em débito, não com a palavra “EU TE AMO”.
Tem gente que está devendo um EU TE AMO para o seu amor. Para quem caminha consigo e faz parte da sua vida.

É quilométrica a fila dos filhos que nunca disseram “pai, EU TE AMO. EU TE AMO, mãe.”
Na outra extremidade dessa fila estão os pais que nunca também disseram aos seus filhos: “EU TE AMO.”

Aliás, não se discute a fantástica e inexplicável magia florescedora que o “EU TE AMO” exerce sobre quem se sente amado ao escutá-la.
Todavia, é bom frisar, há os que jamais irão falar com palavras, mas manifestarão seu amor em ações simples e rotineiras, até.

A gente pode dizer “EU TE AMO” usando as variáveis formas existentes de expressão do amor, ensejando efetivamente o amar no sentido mais puro.
Faz pouco tempo, eu fiz uma postagem na qual se via que coar um café para alguém é uma forma de dizer “EU TE AMO.”

Uma pessoa está falando “EU TE AMO” quando faz um almoço com cuidado pra você.

Quando acrescenta uma fatia de queijo àquele pão quentinho no meio da tarde e te dá um sorriso numa hora qualquer do dia.

Um telefonema e um whatsapp no começo da noite é outra maneira de dizer “EU TE AMO.”

Às vezes a pessoa, por conservadorismo, complexidades de natureza ou mesmo por timidez não se sente livre nem à vontade para pronunciar a frase “EU TE AMO”.

Porém, ela tem um jeito todo especial de dizer isso e o faz com atitudes e gestos tão nobres que ela mesmo pode desconhecer, que aquilo é amor.

Que fique evidente: não falo restritamente do amor romântico, do sentimento de afeto e paixão. Falo também do amor afetivo na família, extensivo aos círculos de amizade envolvendo até amigos do trabalho.

Falar “EU TE AMO” sem usar a palavra ocorre num “descanse um pouco”, ou “já almoçou? Dormiu bem?”
Quando eu digo: “estou com saudade”, e “essa música me lembra muito de você” não precisa dizer mais nada. É “EU TE AMO” que estou dizendo.

Afinal, ninguém sente saudade do que não ama.

Quando o Sol dorme até mais tarde e amanhece chovendo não é nem um pouco fácil enfrentar o tempo lá fora. Nesses dias, eu sinto a minha mulher dizendo “EU TE AMO” nas entrelinhas de sua recomendação: “leva a sombrinha.”

Isso é amor, pensa que não? Eu não tenho dúvida que é.

Era dia dos namorados e na aula, a professora pediu que os alunos definissem a palavra “EU TE AMO.”
Um menininho de oito anos aproximadamente levantou a mão e falou: Eu te amo é quando a mamãe faz o café pro meu pai e experimenta antes que é para ver se o açúcar tá bom.

Sabe tudo de amor aquele garoto.

Teve também o irmão mais velho que todo dia dizia, sem palavras, “EU TE AMO” para sua irmã mais nova.

Ele comprava chocolates para o lanche na faculdade.

Todo dia.

E todo dia, a irmãzinha ia lá, “assaltava” a mochila dele e se empanturrava de chocolate.

E todo dia, o rapaz tornava comprar chocolate e botava no mesmo bolso da mochila. E a pequena ia lá, assaltava a mochila...

O irmão sabia quem era a “assaltante” de seus chocolates. E porque sabia, botava, chocolate na mochila.   

Todo dia...

O objetivo mesmo desta crônica, talvez a mais simples que já fiz, é somente que você exercite e diga “EU TE AMO” para o seu pai, sua mãe, seu cônjuge, seu irmão, seu amigo.

A gente só dá valor depois que perde. Depois que se fecha as cortinas é que percebemos o quão vazia é a sala e como nos entristecemos na sua tristeza e na sua solidão.

Não deixe que um ciclo se feche.
E nunca permita que alguém a quem você ama sinta saudade de ouvir você dizer:

“EU TE AMO!”

(Orlando De Souza)

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