Promiscuidade explícita chegaram na Polícia Federal. E agora?
“Se eu mergulhar dentro de mim eu me afogo”. Foi uma coincidência encontrar essa frase escrita num muro, logo após tomar conhecimento das novas revelações sobre os bastidores do golpe de 2016. Segundo o jornal Folha de S. Paulo (em parceria com o The Intercept), o Marreco de Maringá, num conluio com a PF e procuradores da República, tiveram em mãos 22 gravações telefônicas. Ilegalmente e de forma distorcida divulgaram apenas uma, para incriminar a então Presidenta Dilma Rousseff e o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A trupe enganou o ministro Gilmar Mendes, que acabou cassando a posse de Lula como ministro de Dilma. Hoje, Gilmar Mendes, também vítima da mesma horda, com propriedade, chama a Farsa Jato de organização criminosa. Sim, para ele, agentes de Estado agiram como uma quadrilha. Não se combate crime com crime.
Verdade nua e crua na imprensa, um policial comentou: “chegaram na PF”. Até então, os expoentes da promiscuidade eram apenas o Marreco de Maringá e os procuradores da República, blindados pela lei e apaniguados por suas corregedorias.
É de se imaginar, quão desconfortante deve ser para os policiais sérios estarem mergulhado nesse lixo. O problema, como disse o colega, mesmo os servidores probos, que não tomaram parte na canalhice, também vão pagar a conta. Os delegados da PF, mais cedo ou mais tarde, vão entender que a política partidária da Farsa Jato vai levar a perder a própria credibilidade da instituição. Os supostos heróis, outrora festejados, podem ser afastados e processados. Terão os delegados a mesma proteção do juiz e procuradores? Como esquecer o delegado Protógenes Queiroz? O marreco está impune e o delegado exilado.
Era golpe. Muita gente na PF sabia e não se sabe até onde o The Intercept vai chegar. Mas, nos grupos de WhatsApp e Telegram de delegados da PF, aqui, ali, surgiam mensagens de que “a solução para o Brasil é via Estados Unidos”. Os mais ligados à Maçonaria davam claros sinais, ao afirmarem que “A Era PT acabou”. Um servidor da PF ligado ao Guardião (sistema de escuta), sem apontar uma prova sequer, chamou Lula de ladrão e me disse: “se manca, Lula vai ser preso”.
Estava tudo no ar ou nas entranhas golpistas? Ao se depararem com um comentário de minha autoria numa matéria do jornalista Marcelo Auler, sugeriram-me retratação, sob o argumento de que eu “estava sob efeito de medicamento”. Não só não me retratei, mas passei a reafirmar minhas posições neste GGN. De repente, não mais que de repente, uma enigmática mensagem reservada: “Coelho, o momento é de ‘imergir’…”. Por insistir nas posições, veio outra mensagem: “Tu não entendeu. O momento é de imergir e tu tá emergindo”.
Vivi mais de três décadas na Polícia Federal, participei do primeiro planejamento quinquenal da instituição. Desde lá, atuava não tão nas sombras, um representante da Marinha que tinha um pé no extinto (?) Centro de Informação da Marinha (Cenimar), vendendo planejamentos não só para a PF, mas também para outras instituições. Desenvolvia um trabalho de criação de cenários futuros (prospectivos), baseado num questionário a ser respondido por representantes das classes dominantes. Houve até um curioso detalhe: um dos integrantes do site “O Antagonista” foi consultado e se recusou a responder. Vai saber!
Sempre percebi que a Farsa Jato era mesmo farsa, fraude, muito embora pessoas honestas e de boa fé acreditassem num propósito sério. Falou mais alto insólito ódio ao PT, que nunca souberam explicar. Entretanto, a partir de então, esse ódio estaria fundamentado. A PF que majoritariamente apoiou Collor, Aécio, Serra, e mais recentemente o Bozo, nunca conseguiu fazer uma leitura sensata da questão nacional. Sem reflexão, se deixou levar por um sistema intrinsecamente corrupto, que vive da corrupção, mas que se encantou com a Farsa Jato para, em nome do combate à corrupção, servir a um golpe de estado e fraudar as eleições presidenciais.
Sim, a corrupção é real, mas foi nela que se forjaram os pretensos vestais da moralidade. A corrupção é real, mas é o sistema corrupto que a PF aprovou que está em crise, enquanto aos poucos o castelo da farsa, antes “morificado”, desmorona-se e desmoraliza-se.
De forma cínica, os operadores da maior farsa jurídica da história nacional, dizem não reconhecer as gravações que são produto de crime. Por meio de nota, a PF diz estar investigando crime de vazamentos sem entrar no conteúdo.
E o que tem a frase do muro a ver com tudo isso?
A Polícia Federal foi capitã do mato da farsa jurídica e da fraude eleitoral. Aquele papo furado republicano de que investiga fatos e não pessoas, era tudo frase feita no melhor estilo “não ao ovo da pata, sim ao ovo de galinha, que faz sucesso pois ela ‘grita mais’”. O ovo da pata e da galinha integram a receita da PF para dar visibilidade às suas operações, desde lá atrás – sob a batuta do boa praça, reserva da Marinha.
Enquanto a PF finge investigar o crime de um suposto hacker, sob a perspectiva da forma, sem “entrar no conteúdo”, mais revelações podem surgir. Quando e se a PF mergulhar dentro de si, corre mesmo o risco de se afogar.
por Armando Coelho Rodrigues Neto
Nenhum comentário:
Postar um comentário