Dia dos velhos, por Vera Nilce Cordeiro Correa

Hoje é DIA DOS VELHOS (me recuso a usar idosos) e quero falar disto, nao para parabenizar afinal muita gente nem gosta desta fase da vida, mas como depoimento sobre minha velhice. Não é que faça apologia à velhice mas é que esta tem sido uma fase muito profícua da minha vida. Minha velhice veio junto com a separação de um casamento de 35 anos, então pra não sucumbir tive que me reinventar,  voltei a morar no RJ onde passei parte da juventude e, com isso, fui julgada de todo jeito  mas passei a me importar com o que eu pensava de mim e não com que os outros lucubravam sobre mim,  não ia agradar a todos. Aprendi que a minha melhor cia era eu mesma depois de lutar contra solidão e ela me ensinou muito, me fez ate poemar brincando com as palavras e emocao (passou!). Outra coisa que aprendi é que nao tenho que esperar nada do outro,  se eu tiver que fazer algo por alguém é pra agradar a mim e não pelo que possa vir a receber,  mas garanto que tenho recebido muito mais do que tenha me doado. 
Resolvi viajar mais no Brasil, que já conhecia todo e  ir além.  Fui muito além do que aquela caboca do Janauacá (não por ter nascido lá que não nasci  mas que é o meu paraíso idealizado) jamais  imaginara, primeiro porque a filha estava na Itália e depois pela companhia de amigos. Foram alguns países e, dentre eles, Portugal e França,  nos quais voltei e pretendo voltar; Espanha que quero voltar em breve pois tenho uma quase familia lá; China que fui por pressão do meu saudoso e querido compadre Paulo Roberto, o que foi um banho de cultura e que hj serve para análise política do que representou o comunismo para um povo; Rússia, que se tornou uma paixão pra mim, sua história, suas personalidades politicas; Cuba que sonhava desde jovem conhecer e que representa muito politicamente, sua história, a determinação de seu povo (a pandemia me tolheu a viagem de volta já de malas prontas) e o carinho de minha amiga de lá, considero este país e seu povo o mais bravo e alegre que se possa imaginar; estive em parte da América Latina que é meu sonho de consumo conhecer a maioria de seus paises, na República Dominicana meus amigos me receberam com tanto carinho que ate morro de saudades. Nao vou falar de todos lugares que fui nesta velhice, só queria dizer o quão a velhice acrescentou à minha vida, fiz uma revolução particular com a chegada dela e o estar só. Nisto meus filhos me ajudaram muito pois muito resolvidos,  não me tolhiam, nao me cobravam e pouco ou quase nada me solicitavam, o que me fez descobrir que os havia criado para serem independentes e ficar com sensação de dever cumprido.  A velhice me deu isto, sensação de dever cumprido e descobrir que pouco precisava para viver,  e que libertação é esta. Mas com ela descobri que  meu país estava tomando um rumo estranho que nao queria para meus filhos, netos e jovens que viessem, então me engajei politicamente, não em grupos mas em procurar ler, ouvir e participar de qualquer ato contra opressão. E isto me fez bem e avaliar que eu deveria ter sido uma jovem engajada contra a ditadura, pois apesar de ser contra ela nunca participei ativamente, até talvez pporque tive que cuidar da minha saúde ja que tive que vencer a hanseníase numa época em que servia de experimento e com muito estigma da doença.  Servi de cobaia e tenho orgulho de ja ter servido à ciência. Rsss nao sei se alguem vai ler isto mas minha velhice me tomou a régua e compasso, fiquei sem medidas para ter momentos  felizes,  para estar com amigos que me fizessem bem e, com isso muitas pessoas foram agregadas à minha vida de muitos e grandes amigos. Nao nego e agradeço por ter feito a maioria de amigos atraves das redes sociais, vivi muitos momentos emocionantes nesta velhice,  não faço  loas a ela pois sei que pra muita gente ela vem com muitas mazelas,  perdas e dificuldades,  mas agradeço à minha pois aos quase 72 estou lutando,  com garra e disposição,  pra sair inteira desta pandemia e retomar os prazeres de minha vida e estar viva. Estar viva é meu ato revolucionário após este vírus,  num país em que os velhos foram tratados pelo governo,  e seus adeptos, como objeto que poderiam ser descartados pois eles atrapalham o projeto de exterminio de velhos,  pobres,  pretos e indígenas. 
Minha homenagem a todos que, como eu, chegaram à velhice sem maldizê-la. Eu espero dela algo que sempre foi meu sonho de consumo maior: sabedoria! Tomara que consiga! 
E não podia deixar de homenagear Dona Raimunda que, desde que a conheço, sempre teve que batalhar muito pra criar tantos filhos, como uma leoa , apesar de também dizer que nunca quis uma familia grande mas o destino já colocou em sua vida um amor com 4 filhos rss, que há anos pede que Deus a leve pois nao aguenta estar longe do José,  meu pai. Pra mim minha mãe é exemplo de determinação, coragem, enfrentando marido que a queria em casa, mesmo com tantos filhos,   nunca deixou de trabalhar, tinha filho e com 15 dias ja estava com a barriga no balcão,  quando mulheres eram so pra cuidar de casa, filhos e maridi, o que ela odiava mas, mesmo assim fazia tudo claro que com ajudantes e ainda costurava pra mim que aos sabados vinha chorando pedindo roupa nova e ela em uma tarde fazia rapidinho,   foi (porque não cozinha mais) a melhor cozinheira que conheci. Tudo que ela se propunha o fazia com qualidade.  
Gente,  chega! VIVA a velhice! 
Muita saúde a todos meus amigos contemporâneos. 
À luta! 
A vida é bela, vamos a ela! Fascistas um dia serão vencidos! Acredito!

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