Lula, as esquerdas e o pobre do interior, por Roberto Bitencourt da Silva

Gostaria de parabenizar o sr. ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está de aniversário, pelos seus 75 anos de idade. Seguramente, o melhor chefe de Estado brasileiro nas últimas décadas.

Especialmente aspectos engenhosos e um tanto ousados da sua política externa merecem ser reconhecidos e submetidos a uma reflexão criteriosa, como vetor de inspiração para um novo, altivo e soberano Brasil que há de pintar por aí, num futuro insondável.

Mas, ou o Brasil, as suas classes subalternas, trabalhadoras, populares e médias, as suas organizações representativas de hoje e do amanhã, superam o seu legado político ou não teremos futuro como Nação.

Me refiro à forçosa e incontornável renovação das esquerdas brasileiras. Que estas sejam nacionalistas, anti-imperialistas e socialistas, revolucionárias mesmo. Nada que efetivamente marcasse e singularize o desenvolvimentista e ex-presidente Lula.

Qualquer pessoa que tenha visto o balanço de pagamentos do Brasil das duas últimas décadas entenderá o que digo, irá ver a leniência nefasta do seu governo com o capital estrangeiro, pouco diferenciando-se de demais governos, notoriamente reacionários. O capital estrangeiro, hoje dono do Brasil de vez.

Lula que chegou a dizer, no auge do deslumbramento, todo pimpão na Presidência, que nunca foi de esquerda…

Convenhamos, a esquerda de fato precisa agir conforme a moralidade do pobre no interior. Não é de franciscanismo “babaquara” que trato, porque falo de política e não de santidade religiosa.

A esquerda precisa se orientar por aquela filosofia, aquela moralidade cotidiana, simples e cristalina, que orienta o sujeito pobre do interior do Brasil: “Você só tem a tua palavra”. A tua “moral é a tua palavra”. Não tem dinheiro, poder, recursos da grana, nada. Você nada possui. Só a palavra e a moral.

Esquerda. De fato. Palavra, coerência entre o que propõe à sociedade e o que irá fazer. Para usar a gramática sociológica weberiana, a “ética da convicção” deve preponderar. Isto é, a plasticidade e a acomodação em relação ao meio não pode ser expressiva. Vai mais se chocar do que se adaptar ao meio.

A direita pode pintar o diabo. E pinta, como o nauseante discípulo do “cruz credo”, o ultraentreguista Jair Bolsonaro tem feito. A direita, de todos os quadrantes, tem muito dinheiro e instrumentos mil para mentir e manipular. Arruma dentro e fora do país. A sua façanha cotidiana.

No entanto, para as esquerdas, usar de expedientes típicos da desfaçatez conservadora, prometendo o que não fará, ou reduzindo as expectativas e os anseios populares ao desencanto, só resta e redundará em engodo e ilusão. Algo que sempre leva água para o moinho reacionário e vende pátria, contribuindo para a despolitização, colaborando para reiterar uma noção amplamente conhecida no senso comum: “Político é tudo igual”.

No fundo, algo que redunda e resultará em desmoralização do campo político sintonizado com as mudanças sociais progressistas.

Ter a possiblidade de colocar o “dedo na cara” das direitas e defender os seus pontos de vista, com a devida serenidade de não ser retrucado com frases do seguinte tipo: “Mas, você não fez isso, nem propôs quando era governo”…

Advogar as suas ideias e propostas sem qualquer motivo de constrangimento, no parlamento e nas ruas. Um perfil de situação e um valoroso comportamento que não têm preço e definitivamente fortalecerão as esquerdas.

Roberto Bitencourt da Silva - historiador, cientista político e colaborador do GGN
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