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A semente dos escândalos

juiz Sergio Moro arbitra uma operação que investiga um extenso esquema de corrupção e evasão de divisas intermediadas por doleiros que atuam especialmente no Paraná. Uma força-tarefa é montada e procuradores da República propõem ações penais contra 631 acusados. Surgem provas contra grandes construtoras e grupos empresariais, além de políticos.
Delações premiadas e acordos de cooperação internacional são celebrados em série. Lava Jato? Não! Trata-se do escândalo do Banestado, um esquema de evasão de divisas descoberto no fim dos anos 90 e enterrado de forma acintosa na transição do governo Fernando Henrique Cardoso para o de Lula.
Ao contrário de agora, os malfeitos no banco paranaense não resultaram em longas prisões preventivas. Muitos envolvidos beneficiaram-se das prescrições e apenas personagens menores chegaram a cumprir pena. 
Essas constatações tornam-se mais assustadoras quando se relembram as cifras envolvidas. As remessas ilegais para o exterior via Banestado aproximaram-se dos 134 bilhões de dólares. Ou mais de meio trilhão de reais em valor presente. Para ser exato, 520 bilhões.
Salvo raras exceções, CartaCapital entre elas, a mídia ignorou o caso. Há um motivo. Os investigadores descobriram a existência de contas CC5 em nome de meios de comunicação. Essa modalidade de conta foi criada em 1969 pelo banco para permitir a estrangeiros não residentes a movimentar dinheiro no País.
Era o caminho natural para multinacionais remeterem lucros e dividendos ou internar recursos para o financiamento de suas operações. Como dispensava autorização prévia do BC, as CC5 viraram um canal privilegiado para a evasão de divisas, sonegação de imposto e lavagem de dinheiro.
Em seu relatório, o procurador Celso Três deixa claro que possuir uma conta CC5, em tese, não configuraria crime, mas que mais de 50% dos detentores não “resistiriam a uma devassa”.  Nunca, porém, essa devassa aconteceu. A operação abafa para desmobilizar o trabalho de investigação começou em 2001. Antes, precisamos, porém, retroceder quatro anos a partir daquela data.
A identificação de operações suspeitas por meio das CC5 deu-se por acaso, durante a CPI dos Precatórios, em 1997, que apurava fraudes com títulos públicos em estados e municípios. Entre as instituições usadas para movimentar o dinheiro do esquema apareciam agências do Banestado na paranaense Foz do Iguaçu, localizada na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina e famosa no passado por ser uma região de lavagem de dinheiro.
Das agências, os recursos ilegais seguiam para a filial do Banestado em Nova York. Informado das transações, o Ministério Público Federal recorreu ao Banco Central, à época presidido por Gustavo Loyola. Os procuradores comunicaram em detalhes ao BC as movimentações suspeitas.
Em vez de auxiliar o trabalho do Ministério Público, o Banco Central de Loyola preferiu criar dificuldades para o acesso dos procuradores às contas suspeitas. Segundo Celso Três, as informações eram encaminhadas de forma confusa, propositadamente, diz, com o intuito de atrasar as investigações. Diante dos entraves causados pelo BC, a Justiça Federal tomou uma decisão sem precedentes. Determinou a quebra de todas as contas CC5 do País.
Uma dúvida surgiu de imediato: se havia formas regulares, via Banco Central, de enviar dinheiro ao exterior, qual a razão de os correntistas optarem por essas contas especiais que não exigiam autorização prévia nem estavam sujeitas à fiscalização da autoridade monetária?
Pior: antes do alerta da CPI dos Precatórios, o BC parece nunca ter suspeitado da intensa movimentação financeira por agências de um banco estatal paranaense, secundário na estrutura do sistema financeiro. Até então, nenhum alerta foi dado pelo órgão responsável pela fiscalização dos bancos. Vamos repetir o valor movimentado: 134 bilhões de dólares. 
Editada em 1992, uma carta-circular do Banco Central determinava que movimentações acima de 10 mil reais nas contas CC5 deveriam ser identificadas e fiscalizadas. Jamais, nesse período, as autoridades de investigação foram comunicadas pelo BC de qualquer transação incomum.
Com a quebra de sigilo em massa determinada pela Justiça, milhares de inquéritos foram abertos em todo o País, mas nunca houve a condenação definitiva de um político importante ou de representantes de grandes grupos econômicos. Empresas citadas conseguiram negociar com a Receita Federal o pagamento dos impostos devidos e assim encerrar os processos contra elas.
O Ministério Público chegou a estranhar mudanças repentinas em dados enviados pelo governo FHC. Em um primeiro relatório encaminhado para os investigadores, as remessas da TV Globo somavam o equivalente a 1,6 bilhão de reais.
Mas um novo documento, corrigido pelo Banco Central, chamou a atenção dos procuradores: o montante passou a ser de 85 milhões, uma redução de 95%. A RBS, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul e atualmente envolvida no escândalo da Zelotes, também foi beneficiada pela “correção” do BC: a remessa caiu de 181 milhões para 102 milhões de reais.
A quebra do sigilo demonstrou que o Grupo Abril, dono da revista Veja, fez uso frequente das contas CC5. A Editora Abril, a TVA e a Abril Vídeos da Amazônia, entre outras, movimentaram um total de 60 milhões no período. O SBT, de Silvio Santos, enviou 37,8 milhões.
As mesmas construtoras acusadas de participar do esquema na Petrobras investigado pela Lava Jato estrelavam as remessas via Banestado. A Odebrecht movimentou 658 milhões de reais. A Andrade Gutierrez, 108 milhões. A OAS, 51,7 milhões. Pelas contas da Queiroz Galvão passaram 27 milhões. Camargo Corrêa, outros 161 milhões.
O sistema financeiro não escapa. O Banco Araucária, de propriedade da família Bornhausen, cujo patriarca, Jorge, era eminente figura da aliança que sustentava o governo Fernando Henrique Cardoso, teria enviado 2,3 bilhões de maneira irregular ao exterior.

Briguilinks dominical

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Na coluna de Monica Bergamo, na Folha, a declaração de quem sabe – porque está recebendo as perguntas e as propostas de acordo da Polícia Federal, do Ministério Público, com a cobertura do Juiz Sérgio Moro, que estende indefinidamente a duração da prisão dos acusados – o objetivo do método "vai ficar preso até
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ark as read Sexta-feira à noite e aquela angústia. São as tais borboletas no estômago, os suspiros de saudade, a lembrança de ter sido sempre bom, sempre gostoso. E a pizza que não chega. Nessas horas, o...Continua>>> 
Os dois primeiros sonegam informação, o segundo dinheiro. O banco foi cúmplice de bilhões em sonegação ao Estado brasileiro. UOL e o jornalista (?) Fernando Rodrigues sonegam a lista com o nome de todos os correntistas com contas na Suiça. Por que?... Estão protegendo os petistas condenados no "Mensalão" e os ainda não condenados que tem muito dinheiro na lavanderia HSBC. Minha única dúvida
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O Globo - Prêmio Faz a Diferença 2015

Um tributo ao trabalho e talento de brasileiros que fizeram história

Entre os mais votados até agora estão:

  • Juiz Sérgio Fernando Moro - pelas prisões e condenações absolutamente imparciais
  • Governador Geraldo Alkmin (Psdn-SP) pela gestão dos recursos hídricos e segurança do Estado
  • Presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (Pmdb-RJ) - vulgo trombadinha da Telerj -, pela honestidade
  • Senador Aécio Neves (Psdb-MG) pela gestão da aviação mineira tanto na questão de turismo quanto os aeroportos particulares
  • Senadora Marta Suplicy (Pmdb-SP) que filiou-se ao partido para combater o fisiologismo e o financiamento eleitoral por empresas
  • O empresário Jorge Gerdau por combate a sonegação
Próxima semana atualizaremos os resultados da votação


Briguilinks


  • Ontem mesmo todas as formalidades legais foram realizadas. A partir de hoje o ex-presidente prestará explicações exclusivamente ao ...
  • \o/ Habib's é investigado por suposto esquema de sonegação Habib's é investigado por fraude fiscal em São Paulo e Minas Habib's ...
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  • Ao blog o promotor Cássio Conserino voltou a criticar a preferência da Globo na divulgação e endeusamento da PF, MPF e um juiz de Cur...
  • por Paulo Nogueira 1) O governo Dilma sai da defesa. Desde o primeiro dia de seu segundo mandato, Dilma vive sob ataques incessantes ...
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  • - Lembro ao jornalista que Fhc também foi citado em delações premiadas. Acredito que tenha sido apenas eum pequeno lapso de memória não é me...
  • \o/ Os promotores Cássio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique de Moraes Araújo (tinha de ter um Fernando Henrique no meio), b...

  • “Esse homem é muito bom. Ajuda todo mundo”

    Tenho certeza que todo mundo conhece essa realidade revelada nesse texto abaixo, seja em Cláudio-MG ou Iguatu-Ceará. Além de todo Brasil. É para continuar lutando contra esses privilégios e abusos que nós (Povo) vamos reeleger Dilma Roussef. 

    Leia, curta, compartilhe, retwitte e comente a reportagem do jornalista Joaquim Carvalho (DCM)

    Em abril de 2012, o Fantástico, da Rede Globo, mostrou a fachada de um casarão antigo no município de Cláudio onde o comerciante Tancredo Tolentino, o Quedo, entregou propina ao desembargador Hélcio Valentim de Andrade Filho, em troca de um habeas corpus para libertar dois traficantes. Na sexta-feira passada, eu fui a Cláudio e vi que o casarão ganhou outra finalidade. Além de vender a cachaça Mingote, abriga o comitê eleitoral de Aécio Neves, e Quedo assumiu a coordenação da campanha na região centro-oeste de Minas.
    No sábado, depois de entrevistar mais de dez pessoas e de ver o processo que apura a construção do aeroporto, voltei à Mingote para tentar conversar com Quedo. Primo de Aécio, ele é o personagem onde dois escândalos se encontram. O pai de Quedo, Múcio, que é tio de Aécio e ex-prefeito de Cláudio, é o dono da fazenda onde o aeroporto foi construído com dinheiro público. Até estourar o escândalo, a chave do aeroporto ficava em poder da família.
    Quedo é também o elo que ligou traficantes presos na região de Cláudio a um desembargador nomeado quando Aécio era governador de Minas Gerais. É o caso noticiado pelo Fantástico, numa reportagem de 11 minutos, rica em detalhes sobre a investigação da Polícia Federal, mas miserável num aspecto: em nenhum momento, é citado o nome de Aécio, embora uma reportagem publicada anos antes na revista do mesmo grupo, a Época, tivesse revelado que Aécio era produtor da cachaça Mingote.
    Quedo chegou em um Uno, modelo novo, na companhia de mais três pessoas. Estava de boné, quando me apresentei como jornalista e disse sobre o que gostaria de conversar. Quedo tirou um celular do bolso, me perguntou para quem eu trabalhava e digitou um número. Depois de conversar no telefone, explicou que era da assessoria do primo. “Se eles deixarem, eu falo”, disse.
    Enquanto aguardava orientação da cúpula da campanha, Quedo me convidou para sentar num banco em frente à casa da mãe dele, ao lado da Mingote, e disse que precisava ter cautela. “Afinal, é uma disputa para presidente e nós estamos na frente. Daqui uns dias, a Dona Dilma vai morar em Cuba”.
    Quedo quis saber o nome das pessoas que eu havia entrevistado e mencionou o ex-vereador Israel de Souza, conhecido como Relinho, autor da denúncia em que o Ministério Público cobra do tio de Aécio a devolução do dinheiro gasto na construção da primeira pista do aeroporto.
    Não confirmo, e a conversa prossegue. O telefone toca. “Sim, ele está aqui do meu lado e o carro prata está estacionado aqui na frente da minha casa… Estou vendo o carro”, diz ele, se referindo ao veículo alugado que uso para fazer a reportagem. Desliga o celular e olha para mim, nem um pouco ameaçador.
    “Eu já soube que você estava com o Relinho, em frente à fazenda do Aécio. Você sabe que a única pessoa da minha família que se dá bem com o Relinho sou eu? Ele é uma pessoa amarga, difícil. Acho que não se dá bem nem com a família dele”.
    Ex-vereador por quatro mandatos, Israel de Souza, hoje com 70 anos, tem uma oficina que conserta geladeiras e já prestou serviços para Tancredo Neves e a mulher, dona Risoleta, tios de Quedo.
    A avenida onde fica a Mingote, uma das principais da cidade, se chama Tancredo Neves e é bastante movimentada, mesmo para um sábado à tarde. Um carro passa, ouve-se a buzina e vê-se um aceno efusivo. “É 45!”, grita o motorista para Quedo.
    Um carro para, descem algumas pessoas e um homem pergunta, depois de cumprimentar Quedo: “Tem adesivo, desses bem grandes?” Quedo manda um funcionário buscar balde de água e adesivos.
    Enquanto o próprio Quedo adesiva o carro, utilizando água para colar, o rapaz que desceu diz: “Esse homem é muito bom. Ajuda todo mundo”. Dois outros carros param e também pedem adesivo.
    Um deles, com uma camionete, ganha um adesivo: “Sou médico e voto Aécio”. O homem explica que é uma homenagem à filha, que é médica. O passageiro de um Gol velho, um moreno de bermuda e chinelo, bem alegre, pede o adesivo em troca de uma ajuda para a gasolina.
    Quedo afixa o adesivo e tira R$ 10,00 do bolso. O passageiro demonstra satisfação e, rindo, olha para o motorista: “Três litros de gasolina”. Quedo diz: “É assim o dia inteiro.”
    No primeiro turno, Aécio teve mais de 12 mil votos na cidade, Dilma, quase 2 500, Marina, 600, e Luciana Genro, surpreendentes 280. “Quem vota nessa maluca? Ela parece que engoliu uma enciclopédia e fala o que dá na telha”.
    Quedo volta ao tema do aeroporto: “Foi bom para a cidade. Tem um empresário aqui, o Pedro, que disse que, se o Múcio deixar, ele vai usar o aeroporto”. Como assim, Múcio deixar? O aeroporto não é público? Quedo lembra que não está dando entrevista.
    Antes de voltar à Mingote, para entrevistar o Quedo, estive no aeroporto. O portão estava fechado, mas o cadeado era bem novo e diferente daquele que foi fotografado pela Folha de S. Paulo na reportagem que revelou a existência dessa obra em Cláudio.
    Quem conhece os hábitos políticos em Cláudio e a tradição dos Tolentino, coronéis no passado, aposta numa versão: o tio de Aécio não quis entregar a chave depois que o escândalo eclodiu, e o prefeito, aliado de Aécio, mandou trocar o cadeado.
    A manutenção da chave que abre o portão do aeroporto em poder do ex-prefeito se tornou insustentável depois que o Ministério Público abriu uma investigação para apurar o caso. Numa resposta ao Ministério Público, a prefeitura diz estar hoje em posse da chave do aeroporto.
    Mas, mesmo com a troca da chave, permanece o conflito entre público e o privado nas terras da família Tolentino, onde Aécio desfruta de um quinhão hereditário.
    A pergunta que todos em Cláudio se fazem é: por que o governo do Estado gastou quase R$ 14 milhões na pavimentação de uma pista de aeroporto, mais 1 milhão para desapropriar a área, se o município tem muitas carências, como a falta de um grande hospital?
    A resposta pode estar 31 anos atrás, quando o avô de Aécio, Tancredo Neves, governador de Minas Gerais, transferiu dinheiro do estado para a prefeitura de Cláudio, na época chefiada pelo seu cunhado Múcio, construir um campo de pouso.
    Uma publicação da prefeitura à época mostra um orgulhoso prefeito, com uma perna assentada num barranco, inspecionando como um general a obra feita com dinheiro público na sua propriedade. A foto ilustra o que a publicação chama de progresso de Cláudio.
    Na ação civil pública aberta em 1999, onde esta foto foi juntada, o promotor de Cláudio à época pediu a devolução aos cofres públicos do dinheiro gasto na obra e revelou que, em sua investigação, constatou que  não teve sequer licitação.
    Em seu depoimento ao promotor, Múcio confirmou que o campo fica em sua propriedade, e um dos primeiros pousos foi de um avião que trazia o recém-eleito presidente da República Tancredo Neves, acompanhado do governador de São Paulo, Franco Montoro, e do ministro da Agricultura recém-nomeado, Pedro Simon.
    quedo

    O atual titular do Ministério Público em Cláudio, Marcos Lamas, herdeiro da ação, compara a obra de construção do campo à ampliação de uma casa.
    “É como se o estado construísse uma piscina no quintal da minha casa, mas só poderia usar a piscina quem eu quisesse”, diz o promotor. “Vou cobrar o ressarcimento da obra, com correção e juros”.
    Na única vez em que houve um cálculo sobre o valor a ser ressarcido ao estado, citou-se a cifra de R$ 250 mil, bem inferior ao valor depositado com a desapropriação feita por Aécio para a pavimentação da pista: R$ 1 milhão.
    Por que, quando governador, Aécio decidiu pavimentar o campo de pouso construído pelo tio, com dinheiro do estado liberado pelo avô, numa propriedade da família?
    O argumento do ex-governador é que Cláudio, embora tenha pouco mais de 30 mil habitantes, é o maior polo de fundição artesanal do Brasil e, portanto, com atividade econômica que justificaria o aeroporto.
    Há pessoas ricas na cidade, mas apenas três utilizam regularmente transporte aéreo próprio. Gino, da dupla sertanejada Gino e Geno, tem um helicóptero, mas a propriedade dele já conta com um heliponto.
    O empresário conhecido como Pedro Cambalau tem avião, mas usa o hangar do aeroporto de Divinópolis, a 50 quilômetros dali. Aécio também usa avião e helicóptero particulares regularmente, e admitiu que utilizou a pista algumas vezes. Ainda assim, se justificaria o investimento?
    Segundo o ex-vereador Israel de Souza, o tio de Aécio liberou a pista algumas vezes para amigos e conhecidos praticarem aeromodelismo, e pequenos aviões pararam ali para voos panorâmicos fretados.
    O aeroporto de Cláudio fica à margem direita da rodovia de acesso à cidade, em frente a um motel. É parte de uma vasta área que pertenceu ao trisavô de Aécio, Domingos da Silva Guimarães, o Mingote, chefe do clã que se uniria à família Toletino.
    A partir do aeroporto, seguindo estrada adentro, depara-se com placas como Fazenda Casa Rosa – Dr. Osvaldo Tolentino (tio de Aécio), Fazenda Santa Ignês / Tia Zezé (parente de Aécio), TAN (Tancredo Augusto Neves (tio de Aécio), Fazenda Cachoeira / Cueio do Jacó (primo de Aécio) e Fazenda da Mata / D. Quita (bisavó de Aécio), hoje em poder do próprio ex-governador.
    O aeroporto não é o único bem que revela dificuldade ao visitante de saber o que ali é público e o que é privado. Na fazenda da Mata, encontrei a base de uma torre de alta tensão sem a parte de cima.
    Israel de Souza me explicou que, há alguns anos, quando Aécio era governador, ele desviou a rede de alta tensão de sua propriedade. No terreno por onde passava a rede, mandou construir um haras. “A cidade ficou um dia sem luz só para fazer esse desvio”, conta.
    A rede hoje faz um traçado curioso. Os cabos vêm em linha reta até o início da propriedade de Aécio, desvia para o lado direito e lá na frente, fora do perímetro da fazenda, para o lado esquerdo. “É um zigue-zague que ele fez para desviar da obra”, diz o ex-vereador.
    Um pouco adiante, vê-se uma nova estrada, que desviou o trânsito da fazenda da Mata. “A obra até que foi boa, porque encurtou o caminho de quem vai para o povoado de Matias, mas ele não fez por isso. Fez para tirar o movimento da frente da fazenda”, conta.
    Israel conta que, antes do desvio, costumava passar pela frente da fazenda da Mata com seu fusquinha branco. Um dia, avistou um grupo de cavaleiros adiante e fez a ultrapassagem.
    Alguns homens galoparam e mandaram Israel parar, para adverti-lo de que ele não poderia fazer isso, pois levantara poeira em cima do governador. “Como é que eu ia saber que era o Aécio? Se alguém tivesse sinalizado, eu não passaria. Mas não tinha ninguém sinalizando e o carro é mais rápido do que um cavalo”, comenta.
    A fazenda é uma herança que dona Risoleta deixou para sua filha, Inês Maria, mãe de Aécio e de Andrea. Mas é Aécio quem manda ali, herdeiro de uma tradição da família Tolentino. A sede da Fazenda da Mata é ocupada sempre pelo Tolentino mais poderoso.
    Era do Quinto Alves Tolentino e da sua mulher, dona Quita, passou para dona Risoleta e seu marido, Tancredo Neves, e deles para Aécio. Quem toca a casa é uma senhora que cuida de Aécio desde que ele era criança. É uma mulher que permaneceu solteira e o acompanha nas suas viagens com a família.
    “Dona Deusa é quem cuida da roupa e da comida do Aécio. Esses dias, eu perguntei para ela como se sentia sendo tia avó dos gêmeos. Ela disse: ‘eles são uma gracinha’”, conta uma moradora de Cláudio, comerciante, que conhece a família.
    De volta à conversa com Quedo, ele continua a falar sobre a campanha do primo. “Você viu o depoimento que a Denise Abreu gravou na internet?”
    Antes que eu responda, telefona para alguém e pede para enviarem para o meu celular uma gravação em que ex-diretora da ANAC diz que o aeroporto de Cláudio é irrelevante perto das obras do governo federal em Cuba.
    Enquanto Quedo cola mais um adesivo em carro, um morador explica que o primo de Aécio se tornou popular em Cláudio porque é ele quem costuma agilizar atendimento médico em hospital de outras cidade, principalmente Betim.
    “Quando alguém quebra a perna e não consegue atendimento na Santa Casa de Cláudio, procura o Quedo, e ele com certeza arruma atendimento em alguns lugar”, conta.
    Quedo ouve e confirma: “Gosto de ajudar as pessoas.” Ainda que a ajuda, no caso de hospitais, seja pelo Sistema Único de Saúde. Influência do primo?
    Quedo já cumpriu pena na cadeia da cidade por sonegação fiscal. Foi na década de 90, e algumas pessoas dizem que, no cárcere, tinha tratamento vip. Recebia visitas na hora que queria, e chegou até a fazer churrasco para amigos.
    Em 2011, quando voltou a ser preso, flagrado na negociação de habeas corpus para liberar traficantes, a cidade não se surpreendeu.
    “Todo mundo sabe que o Quedo já mexeu com coisa errada, mas ele é tão boa pessoa que a gente nem fala nesse assunto. Nas cavalgadas,  quando o Quedo passa, todo mundo cumprimenta: oi, Quedo! Às vezes, o Aécio também participa, e a gente cumprimenta: Oi, Quedo. Oi, Aécio. E eles respondem.”
    Quedo é alguns meses mais velho que o primo famoso. O telefone toca, Quedo troca algumas palavras e diz:
    – A ordem lá de cima é esta: nada de entrevista. Eles me disseram que, se você quiser me entrevistar, venha na segunda-feira depois da eleição. Eu até queria dar entrevista, mas não quero prejudicar. O negócio não é brincadeira. Está em disputa a Presidência da República.
    Vou embora, sem a entrevista de Quedo.
    Com mais de 30 mil habitantes, Cláudio, no centro oeste de Minas Gerais, é uma cidade conhecida na região por suas lendas. A professora Noeme Vieira de Moura registrou algumas delas, em textos publicados em jornais e revistas do município. Uma fala de um tesouro enterrado numa serra da cidade. Muitos fizeram escavações, mas ninguém encontrou o tesouro, todos afugentados por ventanias e vozes ameaçadoras. A outra lenda é a da santa encontrada também em uma serra. Os homens ricos tentaram levar a imagem para a matriz, mas toda noite ela desaparecia e voltava para o lugar onde foi encontrada. Os proprietários de terra tentaram construir uma capela no local, mas a santa desapareceu para sempre.
    Tanto num caso quanto em outro, os escravos são personagens centrais. São eles que escondem o tesouro para não serem roubados pelos senhores. Na outra, foram os escravos que encontraram a santa, que lhes foi retirada pelos fazendeiros. A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros diz que a cidade tem esse nome por causa de um escravo, chamado Cláudio, que encontrou um córrego e todos passaram a chamá-lo de córrego do Cláudio. Essa versão é rejeitada pelos mais ricos, que preferem outra, contada por um historiador da região. Segundo ele, Cláudio era o dono de uma pousada para tropeiros.
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    Sobre o Autor
    Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquim.gil@ig.com.br

    Saul Leblon - com quantos oportunistas se faz um Opportunity

    A trajetória do banqueiro Daniel Dantas, esquadrejada em minucioso trabalho jornalístico pelo repórter Rubens Valente reúne um repertório tão abrangente de personagens, crimes econômicos, ademais de manobras político-partidárias, policiais e jurídicas que involuntariamente pode anestesiar a percepção do leitor para um aspecto não negligenciado na narrativa.

    Daniel Dantas não foi um acidente de percurso no Brasil dos anos 90.

    A sociedade despedia-se então de um ciclo esgotado do seu desenvolvimento.

    Tateava outro, embalada  na firme adesão de suas elites à ideia de que o atalho para o futuro tinha um preço: eliminar  qualquer coordenação democrática do Estado sobre a economia e o crescimento.

    O PSDB do sociólogo e presidente Fernando Henrique Cardoso considerou que o custo era justo.

    Isso não é o necrológio de uma época.

    Tucanos e variações da mesma espécie, eventualmente com sotaque pernambucano, assim como progressistas arrependidos continuam  a crer  que a contrapartida  é uma bagatela.

    A galinha morta, congelada durante cinco anos pela crise dos seus fundamentos, volta assim ao balcão das ofertas eleitorais como frango fresco.

    Quiçá orgânico, graças às contribuições  de Marina Silva.

    Não se pode subestimar a lição política extraída do relato minucioso de Valente.
    Uma reforma política que dificulte ao máximo a captura das campanhas eleitorais pelos agentes do dinheiro grosso é um imperativo do regime democrático.

    Mas ela não basta.

    É preciso que os interesses graúdos sejam igualmente regulados pelas urnas na exata medida do que a sociedade requer das instituições e recursos por eles  dominados. 

    Quem o fará?

    Esse capítulo não consta, nem poderia constar do livro.

    Antes que seja coligido por um autor, a disputa política terá que dizer o que o país pretende dos bancos e do sistema financeiro em geral.

    Banqueiros, ao contrário do feérico Daniel Dantas, em geral são discretos.

    O  papel que desempenham na engrenagem sistêmica recomenda uma rotina à  salvo dos refletores políticos e judiciais.

    É  questão de segurança e de história.

    O dinheiro grosso passa por eles  –às vezes literalmente, a caminho de paraísos fiscais como o das ilhas Cayman –mostra o livro;  ou embarcados em esféricas contabilidades que preservam a identidade, o patrimônio e a sonegação  de seus anônimos detentores.

    Bancos e banqueiros formam uma espécie de estuário dos sucessos e  pecados expressos na forma mais desejada, arisca e versátil da riqueza -- a forma dinheiro, na qual todas as outras estão representadas. 

    Não se confunda o sistema financeiro com mera tinturaria ou levedura dos endinheirados.

    Ainda que seja isso também,  sua estrita regulação é crucial para que se aplique no que lhe cabe como provedor do crédito, sem o qual não há crescimento no capitalismo.

    O multiplicador que permite ao banco emprestar várias vezes aquilo que de fato possui em depósitos, fia-se na certeza de que nem todos os correntistas e investidores vão sacar o seu pecúlio ao mesmo tempo.

    É esse lastro de vento que permite ao crédito ser uma antecipação do futuro.

    Ao irrigar a produção e o consumo permite à economia erguer-se pelos próprios cabelos, encorpando a musculatura da mais-valia na acumulação subjacente.

    Boa parte da engrenagem se apoia numa cabeça de alfinete chamada confiança nos bancos.

    O oposto é a corrida aos saques - capaz  de destruir um banco em questão de horas,  por conta justamente do descasamento intrínseco ao seu alicerce entre ativos e passivos, prazos e expectativas díspares.

    Quando todas as variáveis  convergem para um mesmo ponto –a esquina do pânico -  o sistema financeiro quebra.

    Influenciar sem se expor, sem gerar ruídos  é, portanto, o segredo desse negócio.
    Daniel Dantas destoa no quesito recato.

    Mas se encaixa no ditado, segundo o qual, não se deve cometer o equívoco de jogar o bebê com a água suja do banho.

    A dimensão político- judicial da atabalhoada ascensão financeira não o torna um personagem menos elucidativo  da agenda cuja presença ainda pulsa tão forte na política brasileira quanto os interesses que ele expressou e muitos ainda expressam.

    Esqueça a imagem do bandoleiro adestrado na rapinagem tosca.

    Fundado em 1994 e tendo iniciado as operações em 1995, não por acaso seu banco levava o nome de Opportunity, conforme observa Rubens Valente com a mesma sagacidade do personagem.


    Não era um banco convencional voltado ao financiamento da produção e do consumo.

    Era uma ferramenta  dos novos tempos.

    Esses que persistem insepultos apesar da crise brutal em que mergulharam o planeta desde 2007/2008.

    A ‘oportunidade’ dos novos ares saltara aos olhos de Dantas, e outros, com a vitória do PSDB  nas eleições de 1994.

    Fernando Henrique Cardoso assumiu com a mesma disposição de Collor.

    Defenestrado no meio do caminho, o ‘caçador de marajás’ construído pela Globo e assemelhados, prometera privatizar 68 estatais.

    Caiu quando tinha liquidado 18.

    Dantas participou da formulação desse programa de governo.

    Protegido de Mario Henrique Simonsen, de quem fora aluno brilhante, chegou a ser cogitado como ministro da Fazenda de Collor; do mesmo modo, e pelas mesmas mãos, participaria do plano de FHC, como conselheiro econômico do principal aliado tucano em 94 e 98, o  PFL (depois Demos).


    ‘O liberalismo econômico é a única solução para sairmos do impasse (...) é a saída mais rápida e eficaz, especialmente porque não exige coordenação. O governo deveria se engajar num amplo programa de privatizações . Deveríamos começar pela privatização do próprio  setor privado: fim das cotas, monopólios, subsídios.’

    O trecho é de um artigo de 1988 (na Folha) do futuro banqueiro que estudou no MIT, era tido como garoto prodígio e começou no mercado administrando fortunas de endinheirados, como a do ex-presidente do Bradesco, Antonio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha.

    Compare-se com o que diz hoje a cavalaria dos colunistas que diariamente acusa o necrológio do modelo ‘intervencionista’ do PT e o anacronismo da ação desenvolvimentista do BNDES, que adicionou R$ 190 bi ao investimento da economia em 2013.

    O texto de 1988 poderia ser assinado hoje  por um formulador do tucano Aécio Neves, como Edmar Bacha. Ou um guru das microreformas, como Marcos Lisboa, que há dias despejava megatons contra o que classifica de ‘o velho desenvolvimentismo do governo’, no não menos comparável jornal Valor Econômico.

    O que dizem todos os assessores de Campos se não a mesma coisa  que já dizia  FHC na famosa entrevista concedida a Folha, em 13 de outubro de 1996 quando via a humanidade a caminho de um novo Renascimento – nos braços da globalização.




    É forçoso reconhecer: o  sociólogo intuía a ameaça subjacente ao pacto mefistofélico feito com os ditos ‘livres mercados’.

    Na ausência de contrapesos institucionais, o que aconteceria em caso de colapso financeiro global, perguntava-se?

    O tucano conservador,  porém, preferiu não dar corda às especulações do sociólogo optando por  terceirizar a governança  à hegemonia dos mercados financeiros desregulados: ‘ninguém foi capaz, nem eu sou, de dizer como se resolve essa questão das "regras de governança" em nível mundial. Não tem problema se não houver tropeço grande do sistema financeiro. Aí está: você tem um conflito aqui, outro ali, mas não dá uma crise maior’.

    ‘Mas, e se der?’, perguntava a si mesmo.

    Estamos falando, portanto,  de um metabolismo coletivo do qual Dantas foi a artéria exposta de uma época que ainda não acabou.

    Seu instinto e intelecto souberam transformar o  vento de popa da desregulação ensaiada por Collor, e consumada pelo PSDB, no combustível da engrenagem faminta que o levou onde chegou. 

    Longe.

    De gerente de fortunas alheias, com um caixa de US$ 50 milhões, nos anos 80, no Icatu, banco pessoal da família Braga, em 1997 ele já movimentava investimentos da ordem de US$ 3,7 bilhões a bordo do Opportunity.

    O ponto de mutação envolve o mergulho de cabeça  em um enredo meticulosamente decifrado no livro.

    Ele reúne a determinação do governo do PSDB de privatizar portos, jazidas, telefônicas, elétricas,  petroquímicas, siderúrgicas, ferrovias – e mesmo a Petrobrás, recomendada por  Dantas, diga-se, mas salva no escândalo da Petrobrax.

    À determinação tucana aliou-se a do banqueiro de não perder a exuberante oportunidade.

    Para isso juntou interesses aflorados com a grande lambança rumo a um modelo de desenvolvimento menos ‘burocratizado’, dizia-se,  literalmente franqueado aos instintos capazes de explorar todas as possibilidades do cardápio.

     O City Bank foi um dos que aderiram ao menu oferecido pelo Opportunity , que se especializou em compor pools de capitais para avançar sobre as estatais de faca na boca.

    No caso do City havia  um adicional de apetite: interessava ao banco desfazer-se de papéis da moratória brasileira dos anos 80.

    Em vez de direitos de saque teóricos sobre uma riqueza futura, o saque em espécie do patrimônio tangível.

    As regras da privatização tucana facultavam a modalidade de gula.

    O banco norte-americano colocaria  entre US$ 700 milhões e US$ 1 bi nas mãos de Dantas, com quem iria se indispor no imbróglio das teles anos depois, em conflito que se repetiria entre o banqueiro e os fundos de pensão, já aqui sob a gestão do PT, em disputa de poder pelo comando das privatizadas.

    A resenha de Renato Pompeu nesta página é um precioso guia para o leitor de Rubens Valente não perder o fio da meada.

    São rounds e rounds de um duelo de perder o fôlego, do qual participariam direta e indiretamente não apenas o PSDB, mas também integrantes de um pedaço do PT, da PF e do judiciário.

    A endogamia entre Daniel Dantas e Gilmar Mendes é um caso à parte.

    Debulhada em triangulações que envolvem escritórios de advocacia interligados por pontes de interesse familiar  e favores pessoais, reúnem material suficiente para convocar a palavra escárnio.

    Ela precifica os rompantes do magistrado que evocava o risco republicano de um Estado capturado pelo PT, no julgamento da AP 470.

    O livro de Rubens Valente não esgota o assunto.

    Não por falha do autor.

    Trata-se,  como se disse acima, de uma história inconclusa.

    Interesses, visões de mundos, forças políticas e personagens centrais iluminados por ele continuam a exercer e a enxergar no Brasil uma enorme oportunidade.

    Tome-se o caso pedagógico do economista  Pérsio Arida, por exemplo.

    Arida participou ativamente, ao lado de André Lara Rezende e outros, da formulação do Plano Real; presidiu o BNDES  –agente financeiro das privatizações—até  a posse de FHC, em janeiro de 1995, quando assumiu a presidência do Banco do Brasil.

    A esposa, Elena Landau, exerceu o cargo mais específico impossível de coordenadora do programa de desestatização do BNDES.

    Arida e Landau saíram do governo FHC antes de soar a campainha convocando os mercados para o rebabofe das estatais que eles ajudaram a deixar ao ponto.

    Foram direto de mala e cuia trabalhar para o Opportunity  de Daniel Dantas (Landau fez um aquecimento prévio na gerencia de investimento do banco Bearn Sterns)

    Arida passou a ser apresentado aos clientes como parceiro sênior do banco, atuando diretamente na frente de investimentos, leia-se, arremate de estatais.

    Que nome dar a isso?

    Arida, Bacha, Landau, Lisboa, Mendonças, Lara Rezende (hoje um guru do econeoliberalismo de Marina) continuam a pontificar e a pautar a agenda econômica do país, na assessoria de forças conservadoras e como referência do colunismo embarcado.

    Aquilo que especulava FHC na entrevista citada de 1996  deixou de ser especulação --‘Não tem problema se não houver tropeço grande do sistema financeiro; você tem um conflito aqui, outro ali, mas não dá uma crise maior. Mas, e se der?’

    Deu.

    A inexistência de alternativa à altura, porém, encoraja a mesma  turma a apostar em uma nova chance em 2014.

    Uma nova oportunidade - diria aquele que de todos talvez tenha sido o mais transparente em seus propósitos.