Walcyr Carrasco: por que o homem é galinha?


Tenho um amigo que foi casado por quatro anos. É ator, embora não famoso. Aprontava. Nas viagens de um espetáculo em que atuava, fazia a festa com as colegas de elenco. O casamento entrou em crise. A mulher quis ter um filho. Ele se recusou, sob o argumento de que o momento não era apropriado. Pretendia investir na carreira de ator, entrar para a televisão. Ela se separou. Voltou a se relacionar com um antigo namorado. Em dois meses, estava grávida. O garoto já nasceu, e seu novo casamento continua sólido. Meu amigo se lamenta até hoje. Sente-se traído:

– Como ela pôde gostar de outro tão depressa?

Pura frustração. Sabe perfeitamente que o culpado foi ele. Primeiro, por sair com outras em todas as oportunidades. Segundo, por se negar a ter um filho em função de seus objetivos pessoais, sem oferecer espaço para um projeto em comum do casal. Sofre até hoje, mas não mudou de atitude. Nem quer mais um relacionamento, só transas eventuais. Se a garota telefona nos dias seguintes, não dá conversa. Faz de tudo para não se envolver.

Meu amigo segue o padrão de comportamento masculino tradicional. Espera-se que um homem conquiste muitas mulheres. É um modelo pré-histórico, quando o troglodita simplesmente arrebatava a fêmea. Ou, como aconteceu em várias civilizações, quando os sultões montavam haréns. As coitadas passavam o tempo brigando e tratavam de ficar belas para atrair a atenção do poderoso. Montar um harém, eis o desejo masculino. A figura do marinheiro que tinha uma mulher em cada porto ainda preenche a imaginação. Ou melhor, a lendária figura de Don Juan, para quem toda mulher é objeto de desfrute.