Ruy Fabiano: tucanos no muro


Apesar de entronizado na presidência nacional do PSDB e lançado candidato por algumas das cabeças coroadas do partido, tendo como patrono ninguém menos que o ex-presidente FHC, o senador Aécio Neves ainda enfrenta tensões no tucanato paulista.
Na quinta-feira, o governador Geraldo Alckmin, que na semana anterior já havia dito que Aécio não é o único presidenciável do partido, voltou a fustigá-lo. Não diretamente, claro: não é da índole do partido o confronto.
Mas há modos enviesados de dar recados que muitas vezes são mais contundentes que o ataque direto. Alckmin voltou a dizer que “é muito cedo para o PSDB lançar o seu candidato a presidente”. E, a seguir, sapecou, sem que ninguém o perguntasse: "Serra deve ser candidato em 2014”.
Ato contínuo, a inevitável pergunta: candidato a quê? E a resposta enigmática: "Só ele pode responder”. Juntando-se as pontas das sentenças – “é cedo para lançar candidato”; “Aécio não é o único nome”; “Serra é candidato em 2014” e “só ele pode responder a quê” -, tem-se uma conclusão óbvia: a candidatura de Aécio ainda não está consolidada.
Alckmin sabe do peso de suas palavras dentro do partido: é governador pela segunda vez, com direito à reeleição, e foi candidato do partido à Presidência da República. Não é baixo clero e sabe que suas palavras contrariam figuras de proa do partido – a começar por FHC.
Seu perfil é de um político moderado, avesso a confrontos. Por que então comprou essa briga? Quem o respalda? Serra é beneficiário de suas palavras, mas não as comenta.
Por mais que evite falar de divergências com Aécio e até exiba apoio formal às decisões do partido – que incluem o pré-lançamento da candidatura de Aécio -, sabe-se que não está exatamente feliz. Em política, as aparências sempre enganam.
Basta lembrar que, na campanha presidencial passada, Aécio também declarava apoio a Serra, apareceu em alguns de seus programas eleitorais, mas, por trás daquela coreografia, liberava os prefeitos aliados de Minas para votar em Dilma Rousseff.

A garota que calou muitos

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Tem coisas que nem a fisica explica

Bom dia!!!

Artigo semanal de Delubio Soares

A VERDADE E SUA COMISSÃO

Os povos que não buscam conhecer, interpretar e esclarecer os fatos ocorridos em sua história estão sujeitos à repeti-los indefinidamente. Não buscar a verdade e o esclarecimento dos processos políticos autoritários, das ditaduras genocidas, dos regimes de exceção é um cometer um tremendo erro contra as futuras gerações.

A pequena e sofrida Guatemala ministrou uma lição ao mundo quando sentou o general Efrain Rios Montt, ex-ditador, no banco dos réus e ao responsabilizá-lo pelo genocídio que marcou sua história recente. Tribos indígenas inteiras, incluindo idosos e crianças, foram dizimadas com requintes de sadismo, adversários políticos desapareceram sem deixar pistas, os mortos e desaparecidos em solo guatemalteco se contam aos milhares.

O Chile, após a soturna ditadura do general Augusto Pinochet, com números assustadores de mortos e desaparecidos além dos relatos de brutais torturas, ao reencontrar-se com a democracia no início dos anos 90, buscou sua verdade histórica. E não foi um processo revanchista. Longe disso. Sob o comando do presidente Patrício Aylwin, moderado líder democrata-cristão, os chilenos preferiram a verdade, por mais dura e chocante, ao exercício bizarro do mero desconhecimento, da fuga ao que realmente sofreram, evitaram uma espécie ridícula de “autismo histórico”. Não se abriram feridas, mas se conheceram todas elas em sua profundidade e dor.

Na Argentina os presidentes Alfonsin e Kirchner promoveram a responsabilização dos que sequestraram, torturaram e mataram um número de mulheres e homens que pode chegar à casa dos mais de 30 mil compatriotas. Em momento algum isso foi considerado revanchismo ou perseguição. Os argentinos sofreram nos anos 70 e 80 o terrível “terrorismo de estado”, onde o aparelho repressivo policial e militar foi colocado à serviço de uma autêntica carnificina, onde nada e ninguém foi poupado. Morto recentemente, o ditador Videla é rejeitado até por sua cidade natal, Mercedes, que não quer servir de última morada ao seu corpo, tamanho é o trauma e tanta é a dor que ainda existe no coração de seu povo. Uma comissão de notáveis, presidida pelo grande escritor Ernesto Sábato, comandou a apuração dos crimes da ditadura militar e produziu um relatório pormenorizado, peça emblemática e terrível da histórica daquela Nação-irmã, cujo título serve de divisa ao sentimento nacional: “Nunca Más!”.

Português precavido

Manoel Joaquim da Silva, um português de 40 anos, na onda da antecipação de Angelina Jolie, fez cirurgia de amputação de pênis ao lembrar que seu pai e seu avô ficaram broxas.

O testamento de Darcy Ribeiro

Por Rodrigo Vianna


A TV Senado levou ao ar no fim de semana um belo documentário sobre Darcy Ribeiro. Documentário clássico, em que os depoimentos costuram a história. A diretora Maria Maia não pretendia se mostrar genial. Até porque gênio era o personagem retratado.

Entrevistei Darcy uma vez, em 1995, pela TV Cultura. Fazíamos um especial sobre UTIs, sobre formas de humanizar o tratamento hospitalar. Darcy tinha muito a dizer. Fugira pouco antes do hospital, porque o ambiente da UTI o matava lentamente. Fugiu porque queria escrever (terminar de escrever, na verdade) seu grande livro: O Povo Brasileiro. Deu certo. Fugiu, escreveu, e viveu mais alguns anos.

Era a segunda vez que driblava a morte. Nos anos 70, exilado, teve câncer de pulmão. Foi desenganado pelos médicos. Pediu aos militares autorização para voltar ao Brasil, onde queria morrer. Voltou, e não morreu. O amor pelo Brasil, pelo conhecimento, pelos índios e pela educação: tudo isso alimentava Darcy Ribeiro.

Acadêmico, jamais se escondeu atrás da pompa universitária. Fundou a UnB (Universidade de Brasília), andou pelo Brasil, fez Política com P maiúsculo. Foi Chefe da Casa Civil do governo de Jango. Caiu em 64. Foi o último janguista a abandonar o Palácio, com o golpe já consumado. teve que fugir de Brasília num teco-teco, ao lado de Waldir Pires. Diz que foi o momento de maior tristeza na vida: saber que haviam sido derrotados pela direita. Exilou-se no Uruguai, Chile, Peru. Já era um antropólogo renomado. Vivera entre os índios – sua primeira grande paixão. Escrevera sobre os índios obras fundadoras.

O exílio permitiu que estudasse mais sobre América Latina. Debruçou-se sobre o tema. Escreveu o grandioso As Américas e a Civilização. Depois da Anistia (e do drible no câncer), Darcy fundou o PDT com Brizola. Foi vice de Brizola no Rio. Idealizador dos CIEPs e do Sambódromo.
Perdeu a eleição para governador em 86, para Moreira Franco. Mais tarde, viraria senador. Nacionalista, professor, namorador… O documentário retrata bem a vida de Darcy.

Adorava o Brasil. “Temos um povo maravilhoso, e uma classe dominante horrorosa. Precisamos dar lição a ela, mostrar que é possível construir esse país”, diz Darcy em transcrição não literal, numa das entrevistas concedidas pouco antes de morrer e recuperadas no documentário.

Ele dizia que “sentia dó” porque não veria a grandeza do Brasil consumada. Iria morrer antes. E disse, olhando para a câmera e para as gerações mais novas: “ficam vocês encarregados de fazer esse país. Mas façam! Sem copiar ninguém! Seremos uma das grandes civilizações desse mundo”. 

A história mais emocionante sobre Darcy é contada por uma das médicas que cuidou dele. Pouco tempo antes de morrer, Darcy – percebendo que o fim se aproximava – disse que queria ficar em casa. E pediu: “doutora, estou com uma vontade de dar uma aula, a senhora não me traz uma criança pra eu dar a aula?“. Deu aula a uma criança de 9 anos. Falou sobre o Brasil, sobre a importância de respeitar todas as culturas. Falou sobre escolas e sambódromos. Era o testamento que ele queria deixar. 

Darcy amou o Brasil. Sem pompa, mas com energia. Viva o Darcy Ribeiro!

Fonte: http://www.rodrigovianna.com.br/sopa-de-letras