Satisfeitos paneleiros?

A maior demonstração da iniquidade da justiça está na liberdade de Cunha versus a prisão de Dirceu, por Paulo Nogueira

Preso político
Preso político
A mais cruel demonstração da justiça iníqua brasileira está no seguinte.
José Dirceu apodrece na prisão enquanto Eduardo Cunha janta em restaurantes finos no Rio, em São Paulo e em Brasília.
A diferença essencial entre eles: Cunha é um serviçal da plutocracia. Ganha gorjetas para defender criminosamente os superricos. Na Câmara, impediu por exemplo que fosse discutida a regulação da mídia e deu todo o apoio à terceirização.
Dirceu, ao contrário, dedicou a vida a combater os privilégios e as mamatas da plutocracia. Este foi seu crime real, imperdoável num país cuja elite primitiva e predadora vive de perseguir os que a desafiam, como Dirceu.
Lembro de um vídeo em que Moro, com sua voz esganiçada, interrogava Dirceu. Moro parecia desconhecer que empresas como a Ambev pudessem contratar Dirceu para ajudá-la a tratar de litígios na Venezuela, onde ele tem bons contatos com o governo de Maduro.
Numa outra esfera, a Globo pode fraudar a Receita, sonegar copiosamente, erguer uma casa suntuosa numa área preservada ambientalmente: nada acontece. É a plutocracia impune ancestralmente no Brasil. Em vez de punir a Globo, a Justiça confraterniza com ela. Gilmar Mendes, o descarado, troca telefonemas com Bonner para combinar pautas no Jornal Nacional na frente de testemunhas.
Gilmar, privinciano ao extremo, tem ideia do que ocorreria se o editor de um telejornal de Murdoch fosse apanhado combinando uma pauta com um juiz da Suprema Corte britânica? Seria demitido, com ignomínia, imediatamente, e não escaparia da cadeia por ligações intoleráveis.
Eduardo Cunha é impressionante. Usou até uma igreja evangélica para obter vantagens pessoais. Tem contas na Suíça comprovadas pelas autoridades locais sem jamais tê-las declarado. Mentiu numa CPI ao dizer, antes que as contas fossem conhecidas, que só tinha aquilo que declarara na Receita.
Fez emendar para favorecer empresas que financiaram sua eleição. Ameaçou, pelos seus paus mandados, delatores que pudessem citar seu nome em roubalheiras. Levou uma vida nababesca, ao lado da mulher, Claudia Cruz, absurdamente incompatível com seus rendimentos de deputado. Uma empresa ligada a ele depositou quase 600 mil reais na conta de sua mulher.
Com esta ficha criminosa espetacular, Eduardo Cunha não é sequer cassado. Pôde conduzir, como se fosse Catão, o processo imundo do qual resultou o afastamento de Dilma.
Enquanto isso, Dirceu vai morrendo na cadeia.
A plutocracia quis acabar com ele. E o PT, acovardado, não o defendeu. Você conhece aqueles célebres versos de Brecht: primeiro pegam uma turma, e você se cala. Depois, pegam outra, e você outra vez se cala. Até que pegam você.
A plutocracia, primeiro pelo Mensalão e depois pelo Petrolão, buscou Dirceu, e o PT nada fez. Depois foi atrás de Lula e de Dilma.
E eis então Dirceu, esquecido por todos, às voltas com a vida sombria numa prisão na qual foi atirado apenas pelo crime imperdoável, no Brasil, de se opor à plutocracia.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Briguilinks

Poesia do dia


A amizade é o mais belo afluente do amor,
ela ajuda a resolver,
com paciência,
as complicadas equações
da convivência humana.

A amizade
é tão forte quanto o amor,
ela o educa,
sinalizando o caminho da coerência,
apontando as veredas da justiça, 
controlando os excessos da paixão.
A amizade é um forte elo que une pessoas na corrente do bem querer.
Amizade é cola divina, cola demais, pode doer.
A amizade tem muito mais juízo que o amor, quando ele se esgota                                                                         e cisma de ir embora,                                                                         ela se propõe a ficar                                                                         vigiando                                                                         o sentimento que sobrou.
                                                                                    Ivone Boechat

Amor


Os patrões do traíra estão desesperados

Leiam com atenção abaixo o post do jorna-lista Josias de Souza:

Tão chegando ao fundo do fundo mais profundo que a imoralidade consiga chegar. Mas, que ninguém se iluda, vermes do mar sempre conseguiram se superar. A pergunta que fica é:

Até quando?

Não há almas ingênuas no Congresso. Em matéria de probidade, por exemplo, a hipocrisia é total. Mas nos porões de Brasília os parlamentares sempre encontram ambiente para conversar mais abertamente sobre suas aflições. Nos últimos dias, um tema revelou-se incontornável para os aliados de Eduardo Cunha: o cerco jurídico ao personagem se fechou. Com isso, o custo político da operação montada para salvar a cara e o mandato de Cunha está pela hora da morte.
Cunha vive agora uma fase delicada de sua agonia. Diante da profusão de evidências colecionadas contra o deputado, alguns de seus aliados começam a sentir um certo desconforto. E quando alguém se sente um perfeito idiota é porque está começando a deixar de sê-lo. Deve-se a caída em si aos penúltimos movimentos da força-tarefa da Lava Jato e do Judiciário.
Em Brasília, o STF já prepara a sessão em que Cunha será declarado réu pela segunda vez. Em Curitiba, os procuradores e o juiz Sérgio Moro realçaram o ridículo do lero-lero do deputado ao levar a mulher dele ao banco dos réus pelos gastos milionários que fez com o dinheiro sujo extraído das contas suíças que Cunha diz não controlar.
Como se fosse pouco, o Ministério Público Federal incluiu Cunha no polo passivo de uma ação por improbidade movida no Paraná contra desvios praticados na diretoria Internacional da Petrobras. Para desassossego de Cunha, ações desse tipo não estão acobertadas pelo foro privilegiado dos parlamentares. Correm na primeira instância do Judiciário. Se condenado, Cunha perderá os direitos políticos por até dez anos e ainda terá de devolver aos cofres da estatal, junto com outros acusados, a cifra desviada. Coisa de US$ 5,7 milhões.
Na Câmara, a situação de Cunha é mais dramática no plenário. Ali, forma-se uma maioria a favor da cassação, independetemente do resultado da votação no Conselho de Ética. Não é por outra razão que Cunha tenta, num gesto desesperado, aprovar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) um parecer que muda as regras do jogo aos 45 minutos do segundo tempo, limitando os poderes do plenário.
Alguns aliados de Cunha gostariam que ele renunciasse à presidência da Câmara. Faria isso num grande acordo que lhe preservasse o mandato. Por ora, Cunha dá de ombros para essa possibilidade. Em privado, ele tenta reativar a lealdade de sua tropa com um argumento poderoso. Recorda que há muitos outros parlamentares com a corda no pescoço. Afirma que sua cassação abriria uma porteira por onde passariam várias outras. Parece guiar-se pelo lema segundo o qual a união faz a farsa.

O sucesso da hora

Anotem

É

Será

Eduardo.

E que vocês venham receber o pão