Machado de Assis, Ariano Suassuna e o Ibope
Os brasileiros viveram nos últimos dias em dois mundos paralelos. No planeta oficial, os temas foram a votação que blindou o presidente, a articulação conservadora no Congresso, o leilão entreguista do pré-sal e até a próstata de Temer. Esses assuntos ganharam cobertura intensiva da imprensa familiar. O país parou para acompanhar um balcão de negócios vergonhoso, uma obstrução urinária e dancinhas ridículas.
No país real, que pode ser simbolizado pela caravana de Lula por Minas Gerais, os assuntos foram bem mais relevantes. Os temas foram o corte de verbas para educação, a reforma agrária, os direitos sociais, a desnacionalização dos recursos estratégicos, a preservação ambiental, a supressão de direitos, a convocação de um plebiscito revogatório e a regulação dos meios de comunicação. É claro que sem o mesmo interesse da mídia.
A viagem de Lula, quando chegou aos jornais, foi para receber críticas ou ser avaliada como campanha eleitoral antecipada. Deixando o conteúdo de lado, algumas reportagens gastaram tinta para falar da quantidade de fotógrafos, das equipes de preparação e do formato do palanque. E, na onda persecutória de Temer, foram solertes na deduragem, “entregando” prefeitos e lideranças que apoiaram a caravana em suas cidades com ameaças pouco sutis.
Na lógica dos meios de comunicação, quando o ex-presidente abre a boca é para pedir votos. Já Dória, Bolsonaro, Meirelles, Huck e outros menos cotados podem falar asneiras sem pejo. Têm lugar cativo para apresentar suas ideias eleitorais: ração humana, golpe militar, austeridade à custa de corte de investimentos sociais, financiamento de candidatos aprovados em teste para fascismo, entre tantas outras enormidades.