Volta de Fujimori no Peru

[...] o sonho de consumo da tucademopiganalhada brasileira







Para impedir a vitória de Humala, o sistema não se constrange em apoiar a filha de um assassino

  "A eleição da candidata da direita, Keiko Fujimori, à presidência do Peru seria o pior resultado possível, pois significaria o mesmo que atribuir o poder novamente a seu pai, o ex-presidente Alberto Fujimori, preso por violações dos direitos humanos e corrupção" 

Manifesto assinado por 99 intelectuais peruanos de várias tendências.

Essa disputa no Peru,com segundo turno no dia 5,  mostra o nível de insensatez que envolve políticos e jornalistas brasileiros amargos, provavelmente em busca de compensações psicológicas para seus fracassos entre nós.


Torcer pela vitória da filha do ex-ditador Alberto Fujimori, condenado a 25 anos de cadeia por roubo, corrupção e violação dos direitos humanos, é identificar-se com o que houve de pior em nosso país naqueles anos que poucos têm coragem de defender e ainda tratam de escamotear, com a pressão para que não se apure nada das atrocidades cometidas.


Mas há quem sonhe com o retorno do "fujimorismo" no Peru como uma revanche diante das seguidas derrotas acumuladas aqui. Essa postura irresponsável e passional me lembra o torturador Solimar, que transformava cada interrogatório na Ilha das Flores em espetáculo de puro sadismo - um sadismo que acabava sendo mais imp ortante do que a inquirição em si, como contei no meu livro CONFISSÕES DE UM INCONFORMISTA.


Campanha com dinheiro sujo


A comparação me ocorreu exatamente por conta da simbologia dessa candidatura, alicerçada em muita grana roubada no tempo em que seu pai prendia e arrebentava, e no apoio de uma elite empedernida, que conserva sua condição de minoria aversa à civilização inca, ainda identificada com Francisco Pizarro, o exterminador de milhares de nativos. Há muito dinheiro numa campanha em que o expediente do "clientelismo" encobre uma compra de votos em massa.


Essa cruzada que recorre a todos os expedientes imagináveis tenta prioritariamente impedir a vitória de Ollanta Humala, - o guerreiro que tudo olha, na linguagem inca - um oficial nacionalista que encarna hoje os sonhos do general Juan Velasco Alvarado, líder de um governo militar que desafiou os interesses internacionais em plena f arra das ditaduras forjadas pelos EUA - de 1968 a 1975. E cujo legado inspira as idéias de soberania, tal como aconteceu com o general Omar Torrijos, líder nacionalista do Panamá, morto em acidente aéreo provocado pela CIA, em 1981, conforme relato do seu ex-agente John Perkins.


A pressão contra Ollanta Humala decorre principalmente do que ele representa no contexto de uma América Latina em que muitos militares assumem posições distantes da School of the Americas (hoje, Western Hemisphere Institute for Security Cooperation) o centro de lavagem cerebral que desde 1946 fez a cabeça de mais de 80 mil oficiais do continente, induzindo-os a participarem da "guerra fria", como aliados incondicionais dos Estados Unidos.


Quer dizer: essa paixão doentia da direita brasileira pela filha de Fujimori, que tem como principal preocupação tirar da cadeia o pai e seus cúmplices condenados, sinaliza a rearticulação de um retrocesso perigoso, que ganhou fôlego (mas não vingou to talmente) com a vitória do milionário Sebatián Piñera para a presidência do Chile.


Não é, portanto, uma opção de natureza política dentro das regras do jogo democrático, tão decantado por esses grupos. Porque figuras da direita peruana que não querem a volta da ditadura, ao contrário da nossa direita, consideram a candidatura da sra. Fujimori uma afronta a todos os valores democráticos peruanos.


Até o escritor Mário Vargas Llosa, obstinado defensor das idéias mais reacionárias no Peru, assinou o manifesto de 99 intelectuais advertindo para o retrocesso que seria uma vitória de Keiko Fumori. Com o mesmo raciocínio ex-presidente Alejandro Toledo, que ficou fora do segundo turno de domingo, formalizou seu apoio a Ollanta Humala, dentro da mesma preocupação dos intelectuais peruanos.


Um ditador condenado e na cadeia


Alberto Fujimori foi condenado a 25 anos de cadeia no Peru por acusações muito graves:
Violação de direitos humanos: 1.- Homicídio qualificado, lesões graves e desaparecimento forçado nos massacres de Barrios Altos (1991), onde morreram 15 pessoas que participavam de uma festa, e da Universidade La Cantuta (1992), cujas vítimas foram um professor e nove alunos. Estes crimes foram cometidos pelo grupo paramilitar Colina, comandado pelo então assessor presidencial Vladimiro Montesinos, também condenado.


2.- Homicídio qualificado, desaparecimento forçado e torturas praticadas nos porões do Serviço de Inteligência do Exército (SIE) a agentes do organismo, crimes denunciados desde 1997.


Por corrupção: 3.- Desvio de dinheiro público, atentado contra a fé pública e formação de quadrilha por pagar US$ 15 milhões a Montesinos por seus dez anos de serviço ao Governo de Fujimori. Após receber o pagamento, o ex-assessor fugiu para o Panamá.


4.- Formação de quadrilha e corrupção ativa por pagamentos a parlamentares de outros partidos para apoiare m a reeleição no ano 2000, como foi comprovado em uma série de vídeos gravados pelo próprio Montesinos.


5.- Ocultação de provas, usurpação de funções e abuso de autoridade por ordenar a invasão ilegal da residência de Montesinos para apreensão de vídeos e documentos incriminatórios.


6.- Violação do segredo das comunicações, desvio de fundos públicos e formação de quadrilha por espionagem telefônica de dezenas de políticos, empresários, jornalistas e funcionários ordenado por Montesinos.


7- Crime contra a administração pública, usurpação de funções e desvio de fundos públicos pela compra da linha editorial de diversos meios de comunicação.


A filha do retrocesso e da trama


Keiko Fujimori chegou ao segundo turno por uma manobra solerte do atual presidente Alan Garcia, que não pode disputar a reeleição e agora trabalha para desestabilizar a candidatura de Humala, esperando criar uma crise inst itucional, no caso de uma vitória dela, quando poderia ser chamado a "permanecer no poder" para garantir a ordem no país.


Estamos, pois, diante de um pleito que engorda a coletânea de tramas golpistas da direita continental, para a qual a existência de governos alheios à influência da grande potência colonial tem de ser solapada, mesmo que tenha que se servir da pior escumalha política.


A única garantia de estabilidade democrática nesse país vizinho de quase 29 milhões de cidadãos é a vitória de Ollanta Humala. O contrário seria uma perigosa senha para os golpistas incorrigíveis de todo o Continente latino-americano. 
  

Um comentário:

  1. Que fique claro que esos intelectuais que estão em contra de Keiko Fujmori não representam a niguem, so eles mesmos. Este grupo e´encabeçada pelo escritor Mario Vargas Lloza (MVLL). Aproveitando de sua fama de intelectual. Pois este senhor perdiu muito feio com Alberto Fujimori(AF) em 1990. Até agora ele têm odeio a AF.Ele não consegue esquecer esa derrota. Pois Ele era favorito da direita. Mas os pobres votaram por AF. AF nunca representou a direita, e tambem a filha não representa a direita como se comenta neste artigo.No primeiro turno ficaram os partidos de direita. Hoje 2 de junho a direita decidiu apoiar a Keiko.Com ese apoio acho que e´quase seguro que ela ganha esta elecção. Eu particularmente, acho muito injusto de asociar Keiko Fujimori com seu pae, pois ela tinha 15 anos quando AF gobernou o Peru. Portanto nao se pode dezir que ela cometeu abusos em direitos humanos ou ajudou na corrupção. Entretanto, Humala sim têm provas de matar inocentes em um lugar chamado Madre Mia quando era chefe militar nesa região. Além disso existem provas que ele tentou duas vezes de dar golpe militar junto com seu irmão Antauro que agora está na cadeia pela morte de 4 policias. Keiko, pensa manter o atual modelo economico liberal (talvez por isso chamam de direita),similar que fez Lula dar continuidade ao modelo economico de FHC. MAs Keiko quer dar dar rostro social,ajundado aos pobres, ela mesma falou que nessa parte social quere aplicar alguns programas usado por Lula. Entretanto, Humala quer mudar o modelo economico e mudar a constitução, isso que da medo para os inversionistas. Porque pensam que vai seguir o camino de Hugo Chavez. Existem probas que recebeu financiamento de Hugo Chavez atraves do consulado venezuelano. Assim, vejo este artigo muito tendencioso. Para ser imparcial se tem que criticar os dois lados. Obrigado.

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