Defender a candidatura de Lula é defender a democracia, por Luis Felipe Miguel

O recurso de Lula contra a sentença de Moro chegou à segunda instância - olha que surpresa - em tempo recorde.
Nada de errado, dizem "especialistas". O prazo não é determinado por lei e depende de inúmeros fatores imponderáveis. Podemos confiar na isenção do TRF-4 tanto quanto podemos confiar na lisura dos sorteios de distribuição de processos no Supremo.
Só que o presidente do tribunal afirmou de público que a tramitação do caso de Lula precisaria ser sensível ao calendário eleitoral. Isso, aliás, logo após de ter dito que a sentença de Moro, que ele não tinha lido, era irretocável. Minha hipótese é que Thompson Flores não é um boquirroto sem noção. Ele, como muitos outros agentes dos poderes do Estado, percebeu que o momento não é de fingir equidade, mas mostrar abertamente que está servindo ao golpe, para cobrar a recompensa depois.
O TRF-4 sinaliza que está pronto a alvejar a candidatura de Lula, assim que os gestores do golpe cheguem a um consenso. Imagino que a extraordinária recepção popular ao ex-presidente, em seu périplo pelo Nordeste, tenha ligado várias sirenes de alarme no campo da direita. Lula se mostra, cada vez mais, como um candidato imbatível, o que aumenta a tentação de rasgar o mínimo de legitimidade que a eleição possa ter e impedi-lo de concorrer.
Não ando contente, muito pelo contrário, com o desenho que Lula está imprimindo à sua nova candidatura, com o discurso popular combinado a acenos às classes dominantes e acertos com as oligarquias. Creio que o momento exige uma postura mais nítida de enfrentamento. Mas é meu direito, como cidadão, decidir se quero ou não votar no Lula. Qualquer disputa com veto prévio a ele não passa de um simulacro de eleição. Entender isso não é ser lulista. É ter apreço pela democracia.
Em tempo: desvendam-se por completo, nessa situação, os efeitos da "Lei da Ficha Limpa", medida de um moralismo raso e autoritário que, no entanto, foi saudada por muita gente como a salvação da lavoura. Não é retirando poder do povo que se aprimora a democracia.