A personalidade do ano



Dois dos principais jornais do planeta apontaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como a personalidade do ano. O mais recente foi o Le Monde, hoje o único jornal frances que tem importância.
O outro foi El País, que há onze dias fez uma lista das 100 pessoas mais influentes do planeta — e colocou Lula em primeiro lugar. Nas últimas semanas, outras publicações importantes, como Economist, Financial Times, fizeram reportagens positivas sobre o Brasil.
Não custa lembrar alguns fatos importantes. O primeiro: Lula tem um ano de mandato pela frente e a experiência ensina que qualquer governo pode auto-destruir-se em poucos meses — e mesmo em semanas ou dias. O balanço histórico de seu governo só será feito depois que ele entregar a faixa a seu sucessor (ou sucessora).
Mas vamos combinar: o reconhecimento atual, que envolve 7/8 de seu governo, é uma surpresa para muitas pessoas. Em 2002 a chegada de Lula ao Planalto era descrita como um acidente de percurso provocado por um certo tédio diante de oito anos de reinado tucano — sem falar em mais dois de presença importante do PSDB nas áreas estratégicas do governo de Itamar Franco.
Diversos analistas apostavam que Lula faria um governo tão incompetente que,  arrependido, o eleitorado logo ficaria impaciente para devolver o governo ao PSDB. Chegaram a imaginar que a tragédia seria tamanha que Lula não conseguiria chegar ao fim do primeiro mandato e sofrerira impeachment por causa do mensalão.
Depois disso, tentaram convencer o país que o melhor que Lula fez foi ter copiado boas idéias de Fernando Henrique Cardoso — e lamentar que 190 milhões de brasileiros não perceberam o plágio.
Acompanhei os primeiros meses da posse de Lula com relativa proximidade. Naquele momento, nem os aliados do presidente, ainda que acreditassem na capacidade de Lula para dar respostas aos problemas que surgissem durante  seu governo, podiam imaginar que ele acabaria reconhecido de forma tão positiva — seja pelo eleitorado, seja por muitos empresários que são adversários políticos de seu governo, seja pelos observadores internacionais.
Nos primeiros dias do primeiro mandato,  um ministro do PT me disse, numa conversa reservada, que o presidente estava convencido de que teria um papel de mudar não só o Brasil — mas o mundo inteiro. Era difícil evitar uma certa incredulidade e mesmo ironia ao ouvir isso — e tenho certeza de que meu interlocutor também não estava mais do que 50% convencido do que me dissera.
Como já disse, o balanço do governo Lula só poderá ser feito no final de seu governo. O cemitério político de todo o mundo está recheado de belas reputações que foram destruídas por eventos de última hora.
O reconhecimento internacional não pode nem deve rebaixar o espírito crítico de ninguém.
Mas também deve servir como uma advertência contra idéias pré-concebidas e aquilo que o professor John Kenneth Galbraith chamava de “visão convencional” do mundo e das coisas, concorda?

Um comentário:

  1. Lula foi considerado Personalidade do ano pelo jornal frances por manter a política econômica que tanto criticou quando era oposição. Foi ao mesmo tempo criticado por não praticar a política social que tanto defendeu quando era oposição.

    O lulo petismo é realmente uma Metamorfose ambulante. Tem a incoerência em seu DNA

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