É difícil tratar com a seriedade que ela merece, uma questão como os efeitos da flatulência na biosfera.
E, no entanto, pum de vaca é responsável por boa parte da emissão de gases que ameaçam nosso equilíbrio ecológico e provocam o aquecimento global.
Há mesmo quem diga que o pum é a principal contribuição de países como o Brasil, com seus grandes rebanhos bovinos e ovinos, para o problema.
Mas falou-se pouco em flatulência em Copenhague. E ninguém falou pelos bovinos e ovinos.
Se tivessem um porta-voz atuante na reunião, as vacas poderiam ter dado um subsídio valioso à defesa dos países ricos que resistem a mudanças nos seus hábitos poluidores.
A defesa das vacas seria a Natureza. É da sua natureza darem puns. Não podem se conter.
Se pudessem controlar a própria flatulência, não seriam vacas, seriam damas da sociedade.
Da mesma maneira, é da natureza dos países industrializados sacrificarem tudo à sua volta, inclusive a própria saúde, por índices sempre maiores de crescimento e lucro. Se contrariassem a sua natureza, não seriam o que são.
Vacas e países desenvolvidos teriam o mesmo argumento em Copenhague: não poluímos por falta de caráter, mas porque é assim que fomos feitos.
Vacas e países desenvolvidos teriam o mesmo argumento em Copenhague: não poluímos por falta de caráter, mas porque é assim que fomos feitos.
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Tem gente que não acredita no tal aquecimento global provocado pelo homem e a vaca.
Há os que dizem que não há provas científicas suficientes ou convincentes disto e há os que simplesmente negam as provas, como fazem os que negam o Holocausto ou a evolução.
Mas alguns ecocéticos surpreendem com sua posição. Por exemplo: Alexander Cockburn, que escreve regularmente na revista The Nation e diz que toda essa campanha contra as emanações de combustíveis fósseis que causariam o efeito estufa tem por trás o lóbi da indústria nuclear, pois o que está em jogo é quem dominará a energia do planeta no futuro.
Como todas as teorias conspiratórias, esta depende, para ser aceita, de uma certa suspensão do bom senso.
Como todas as teorias conspiratórias, esta depende, para ser aceita, de uma certa suspensão do bom senso.
Cockburn tem sólidas credenciais como crítico do capitalismo e seus detritos e em nada se parece com fantasiosos negadores do genocídio nazista ou criacionistas anti-Darwin, mas para acreditar na sua tese é preciso ignorar todas as evidências de mudança climática que, literalmente, caem sobre a nossa cabeça, e atribuir ao lóbi nuclear um poder colossal.
De qualquer maneira, a dúvida está no ar. Junto com outros poluentes”.
Fernando Verissimo
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