Levantamento do IPC Target mostra que o gasto total dos brasileiros será o maior desde 1995 e chegará a R$ 2,2 trilhões neste ano


Márcia De Chiara 

As grandes cidades e as famílias da classe B, aquelas que sentiram no ano passado o tranco da crise em suas aplicações financeiras, serão as vedetes do consumo em 2010. Sustentados pelo crescimento do crédito, da renda e do emprego, os brasileiros, no total, devem gastar neste ano R$ 2,2 trilhões com produtos e serviços básicos, além das despesas com viagens e com a compra de eletrodomésticos, veículos, roupas e móveis.
Os números fazem parte do estudo Índice de Potencial de Consumo (IPC) Target. Será a maior cifra desembolsada desde que o indicador começou a ser calculado, em 1995. O estudo é feito anualmente pela IPC Marketing Editora, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cruzados com os de outras fontes. Para a edição deste ano, levou-se em conta que o Produto Interno Bruto (PIB) do País crescerá 6,1% este ano.
A montanha de dinheiro destinada ao consumo, 18,8% maior do que em 2009 e correspondente a 3,5 vezes o PIB da Argentina, já tira o sono do governo. Na semana passada, o Banco Central iniciou um ciclo de elevação dos juros básicos para reduzir o ritmo de crescimento da demanda doméstica a fim de atenuar impactos inflacionários.
Metrópoles. Duas tendências são claras no estudo. Uma delas é que as grandes cidades voltam neste ano a ampliar sua fatia no bolo total do consumo, revertendo uma tendência de perda de participação para os municípios menores que ocorria desde 2005, segundo Marcos Pazzini, diretor da consultoria e responsável pela pesquisa. A outra tendência é o aumento de participação da classe B, o único estrato social que deve ampliar a sua fatia de consumo neste ano.
De acordo com o estudo, as 27 capitais devem responder por 34,5% do consumo neste ano. A participação delas em 2009 foi de 32%, a menor em cinco anos. Movimento semelhante ocorre com as 50 maiores cidades. Em 2009, representavam 43,1% do total do consumo; neste ano, devem ficar com 45,8%.
“No pós-crise, as capitais reagiram mais rapidamente do que as cidades menores porque reúnem grande parte das indústrias e dos empreendimentos imobiliários”, diz Pazzini. Além disso, observa, os grandes centros concentram maior fatia de consumidores das classes B1 e B2, com renda média familiar de R$ 5.350 e de R$ 2.950, respectivamente. Neste ano, as famílias das classes B1 e B2 juntas terão 46,5% do consumo do País, ante 42,4% em 2009. Em contrapartida, a classe C, que respondia por 30,1% em 2009, recuou para 27,7%.
Poder da classe B. Quando se analisa as capitais, essa tendência fica ainda mais nítida, diz Pazzini. As famílias das classes B1 e B2 detinham no ano passado 43,9% do consumo das capitais e, neste ano, a participação subiu para 48,1%. No mesmo período, a classe C retrocedeu: respondia por 23,4% do consumo das capitais em 2009 e hoje participa com 20,1%. Parte do recuo se deve à ascensão das famílias da classe C para a classe B.
A mesma tendência é constatada pelas projeções da LCA Consultores. Bráulio Borges, economista-chefe da consultoria, estima que o consumo das famílias atinja neste ano R$ 2,193 trilhões, crescimento real de 6,2%. Ele projeta que, de 2009 para 2010, as classes A e B terão maior parcela na massa de rendimentos. Nas contas dele, a massa de rendimentos das classes A e B deve aumentar 4,9% este ano, com elevação de 1,3 ponto porcentual sobre 2009. Na classe C, os rendimentos terão crescimento de 1,1 ponto porcentual. Nas classes D e E, o acréscimo será de 0,4 ponto porcentual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário