Hoje completam quatro anos da morte do ex-deputado estadual, ex-deputado federal e ex-governador Dante de Oliveira. Dante deixou o governo de Mato Grosso em abril de 2002 para concorrer ao Senado, depois de reeleito governador em 1998.
Derrotado nas eleições de 2002, Dante entrou num processo íntimo de reconstrução. Por diversas vezes conversamos a respeito. Ele escondia a decepção com sua derrota, mas não se queixava. O que mais o incomodava era a solidão política. Vinha de uma carreira vitoriosa. Derrotado para vereador em 1976, quando fazia campanha com um fusquinha e um caixote onde subia pra pregar. Era um estranho jovem engenheiro barbudo, recém-chegado do Rio de Janeiro onde estudara, e agora tentava uma carreira política.
Em 1978, elegeu-se deputado estadual na primeira leva de parlamentares eleitos para a primeira legislatura de Mato Grosso após a divisão. Foi quando o conheci. Falava alto, ria fácil e ouvia com atenção os seus interlocutores. Tivemos uma relação de altos e baixos. Foi eleito governador em 1994, para um mandato de 1995/1999. No governo, em 1997 tivemos um café da manhã em sua residência. Foi uma longa conversa sobre futuro, sobre percepções do Brasil e do mundo. Ele ouvia e questionava. Não comentava o que ouvia, mas deixava a certeza de que ouviu e compreendeu. Nossas conversas se alongaram nos anos seguintes.
Em 2002, depois de sete anos e três meses, deixou o governo para disputar uma vaga ao Senado. Parecia eleição de favas contadas. Não foi. Foi aí que ele embaralhou sua percepção política. Antigos aliados debandaram, amigos sumiram e restaram-lhe poucos e fieis companheiros antigos e amigos. Thelma, sua mulher, elegera-se deputada federal e dividia o tempo entre Cuiabá e Brasília. Críticas, muitas críticas depois da eleição perdida. No governo, ninguém dizia nada, exceto por alguns detalhes que eram do senso comum, como o isolamento em torno de algumas pessoas.
Porém, fora do poder político, Dante não foi crítico do governador Blairo Maggi, eleito em 2002. Antes eram amigos e rápida, Dante e Blairo ainda se mantinham distantes. A política estadual girava em torno do governador, de alguns deputados federais, uns poucos estaduais, e do senador Jonas Pinheiro, uma liderança do agronegócio com bom trânsito inclusive com Dante.
Em 2006, ano da eleição estadual, Blairo reelegeu-se com muito prestígio, e o quadro político do estado ficou mais estreito, tanto na Assembléia Legislativa como no Congresso e no ambiente estadual. Hoje, pode se dizer que absoluta convicção que a ausência de Dante no cenário político de Mato Grosso, tirou a possibilidade de oposição com discurso e com argumentação não individualista. Outros quadros se consolidaram na política, mas o sentido de discussões amplas sobre a política perdeu-se sem ele. Fazer oposição é uma ciência que requer experiência, conhecimento de causa, estatura política e possibilidade de criar alternativas à crítica.
Não há como negar a falta de Dante como catalisador da oposição. Opor-se é criar o contraditório. E o contraditório é mais construtivo do que o "apoiatório" freqüente.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@terra.com.br
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